O Museu do Douro vive dias difíceis. O défice de tesouraria já vai em 800 mil euros, devido ao atraso do pagamento de quotas de autarquias fundadoras e de comparticipações de programas comunitários. O pessoal foi reduzido e os ordenados nem sempre são pagos a horas

Os pássaros cantam alegres no interior da antiga Casa da Companhia, na Régua, enquanto no relvado exterior as galinhas e frangos do Museu vão debicando o seu sustento. Dos pássaros apenas se ouve o pio, como decoração sonora da exposição que desde sexta-feira está patente naquele espaço para comemorar o bicentenário do nascimento de Dona Antónia Ferreira, a Ferreirinha da Régua, como ficou conhecida na região.

Exposição à parte, a direcção do Museu tempo poucas razões para festa. Os tempos são de grande contenção, embora o director do Museu do Douro, Fernando Maia Pinto, acredite que \"vai ser possível recuperar esses 800 mil euros\". Em relação às comparticipações dos projectos, 400 mil euros, \"é só uma questão de burocracia\". Mesmo assim, há um atraso de \"dois anos\", o que \"é demais e dá cabo de qualquer tesouraria\". O restante é devido por algumas câmaras municipais do Douro. Por \"dificuldades financeiras\".

Apesar desta situação, que, sabe o JN, tem conduzido a atrasos no pagamento de salários, por vezes de forma fraccionada, \"ainda não houve necessidade de rescindir nenhum contrato\". Neste momento são 30, mas quando o Museu abriu, no final de 2008, eram 39. \"Apenas houve contratos a prazo que não foram renovados\", nota Maia Pinto, apesar de assegurar que quem foi dispensado \"faz falta\" e \"cria algumas dificuldades de funcionamento\". Aliás, se o Museu quiser continuar ser ambicioso, \"o quadro de pessoal terá de aumentar\".

O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, esteve na semana passada numa reunião de trabalho no Museu do Douro, em que a questão das dificuldades financeiras foi abordada. No final, o governante assumiu apenas que está \"preocupado com a situação\", sem anunciar qualquer medida que ajude o organismo a sair do sufoco.

Apesar disso, Maia Pinto valoriza as \"boas intenções demonstradas\", já que o Governo assegura 50 por cento do orçamento actual do Museu (um milhão de euros). A outra metade tem de ser suportado pelas 21 autarquias e entidades privadas que fazem parte da Fundação Museu do Douro, bem como por receitas próprias.

E se as contas não são famosas, o número de visitas é bastante satisfatório. Maia Pinto espera que até ao final do ano possa contabilizar \"entre 40 e 50 mil visitantes\" e confia que a exposição sobre a Ferreirinha vai contribuir para isso. Os portugueses ainda são o grosso dos que procuram aquele espaço, mas começa a haver cada vez mais estrangeiros. São os que chegam à Régua nos cruzeiros fluviais e através de agências de viagens.

A menção especial recebida no âmbito do Prémio Museu Europeu 2011, que sublinha \"a qualidade e o vasto âmbito de programas\" do Museu do Douro, ajuda também à sua divulgação no estrangeiro. \"Até já fomos procurados por essa maior visibilidade\", realça Maia Pinto. \"Devia ser encarado como aquilo que não se faz na Europa mas se consegue fazer em Portugal\", sublinha.

Dona Antónia, uma mulher diferente no seu tempo

A exposição \"Dona Antónia, uma vida singular\", que abriu sexta-feira e fica patente até Maio de 2012, no Museu do Douro, comemora os 200 anos do nascimento de Dona Antónia Adelaide Ferreira.

A \"Ferreirinha da Régua\", como ficou conhecida, foi uma personagem que viveu de uma forma diferente das mulheres do seu tempo. Um símbolo da iniciativa, perseverança e luta individual em defesa de um bem colectivo.

A exposição está dividida em dois espaços. No primeiro piso pode ver-se a parte mais cronológica da homenageada, nomeadamente a sua vida e ligações familiares. No segundo piso, predomina a História sobre as suas quintas no Douro e o seu legado à região.

Devido à incerteza do financiamento da exposição, que custa cerca de 100 mil euros, só começou a ser preparada em Abril. \"Foi feita em tempo recorde\", valoriza Maia Pinto, director do Museu.

As peças que pertenceram a dona Antónia presentes nesta exposição foram emprestadas por seus descendentes, empresas e organismos públicos que possuem parte do acervo que deixou. Destacam-se várias peças domésticas, roupas e mobiliário. Uma das mais curiosas é uma sanita de viagem do século XIX que acompanhava dona Antónia nas duas viagens. No centro do primeiro piso pode ver-se a recriação de uma sala da época e, no segundo, o jardim típico de uma quinta da Ferreirinha.



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