Tomou posse a equipa que assumirá a responsabilidade de corporizar a \"Unidade de Missão para o Douro\". Muito se espera desta estrutura, especialmente na coordenação dos vários agentes no terreno para a concertação da acção, a efectiva implementação de medidas e a definição de políticas que visem a valorização do que temos e do que somos nesta região Património da Humanidade.

Ao mesmo tempo que saúdo a constituição de mais este organismo de \"Estado\" na região, sinto-me vencido pelo que ele me humilha e menoriza como homem do Douro. Mais uma vez se impõe que o Estado intervenha para suprir a nossa incapacidade de definir objectivos colectivos, de estruturar sonhos comuns, de aproveitar recursos de que dispomos, de mostrar e transmitir a história que carregamos e de nos organizar como colectividade... Conseguimos realizar-nos clamando em voz potente a presença sistemática do Estado no muito que a nós incumbe, recusando comodamente reconhecer o que a simples presença no território de nós exige e o relacionamento interactivo e gregário que o \"povo\" que somos de nós clama!...

Mas rapidamente, como que para exorcizar frustrações, noutros estádios somos capazes de vociferar com o mesmo tom e propriedade contra a omnipresença do Estado e o que ela tem de castradora e redutora para a nossa afirmação!... Triste desígnio !

Perante esta realidade colectivamente vivida como desresponsabilizante fatalidade, aceito rever anteriores convicções e situar-me entre os que defendem como solução a \"Autarquia Regional\", entidade capaz de devolver a auto-estima e criar a consciência regional já outrora vivida pelas antigas províncias.

Para além de ser o elo agregador e coordenador do território, esta entidade seria outrossim a \"Missão de Unidade Regional\", capaz de ajudar

- a complementar a acção dos municípios, tantas vezes com uma visão de capela, que mostram grande dificuldade de articulação entre si, o que impede de colaborar na construção de uma igreja maior, que todos sintam sua;

- a restaurar a confiança e a interacção das associações socioprofissionais, socioeconómicas e culturais, exangues e desmotivadas por lutas isoladas e sucessivamente incompreendidas e ignoradas;

- a criar uma dinâmica de incentivo e apoio à iniciativa, que contribua para reforçar a capacidade e sucesso de quem assume o risco de empreender, levando ao enriquecimento do território e seu consequente povoamento;

- a constituir-se como estrutura que assegure a sustentabilidade do espaço rural, progressivamente abandonado, do qual só um terço poderá ser considerado agrícola, permanecendo os restantes dois terços como incultos ou em mata, sem qualquer projecto global de intervenção económica e ambiental.

… enfim, a assumir-se como extensão da vontade colectiva regional e a afirmar-se como construtora legítima do nosso futuro.

Enquanto isso, resta-nos desejar que este organismo, que hoje dá os primeiros passos, venha a merecer a nossa colaboração e apoio e consiga o desiderato de unidade a que se arroga, contribuindo, pelo menos, para que este território já \"Património da Humanidade\" venha a ser sentido e vivido como nosso... para que assim se mantenha também da Humanidade.



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Quintã de Jales

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