Em apenas seis meses, um «bruxo» conseguiu amealhar pelo menos 318 mil euros. O Ministério Público do Porto acusa-o de o ter conseguido à custa de burlar quatro vítimas, entre as quais uma jornalista e uma economista.

Tinha casa em Lisboa, chegou a trabalhar em Bragança, em escritório arrendado, em Gondomar, em gabinete cedido, e no Porto, num quarto do Ipanema Park hotel transformado em altar de rituais. Desde há um ano, \"Mestre Dami\", um luso-brasileiro de 51 anos, está preso na cadeia de Custóias.

Vai responder pela acusação de quatro crimes de burla qualificada, deduzida pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do MP do Porto, após investigação da Divisão de Investigação Criminal (DIC) da PSP do Porto.

Em Bragança, identificou-se com \"Mildevan Gomes\" e celebrou um contrato de arrendamento com esse nome, embora se chame, de facto, Diamantino Gimenez. Já em Gondomar e no Porto, o seu nome artístico era \"Mestre Dami\".

O modo de actuação do suspeito era engenhoso, embora tenha contado com a colaboração das vítimas, que, sentindo-se frágeis e com problemas, acabaram por acreditar nos rituais e cenários montados pelo \"bruxo\".

Foi o caso de uma repórter ligada a uma estação televisiva, a quem o alegado burlão conseguiu fazer crer que estava sob \"feitiço\". E que conseguia desfazê-lo. Para a situação contribuiu o facto de a vítima atravessar uma depressão nervosa e a circunstância de o \"bruxo\" ter-lhe sido apresentado por um amigo, que elogiou as suas capacidades no domínio da parapsicologia e da terapia de regressão.

Em Outubro de 2007, após uma encenação com truques envolvendo algodão e folhas de papel A4, o golpe final começou a desenhar-se. Numa das folhas A4 apareceu escrito o nome do cemitério de Agramonte, no Porto, e o número de uma campa. Lá chegados, nesse mesmo local, o \"Mestre Dami\" desenterrou uma embalagem que continha uma folha com várias pragas contra a vítima. Mas também tinha a fórmula do \"contra-feitiço\": guardar, debaixo da cama de dormir, durante sete dias e num cofre fechado, 50 mil euros em dinheiro.

A \"cliente\" contraiu três empréstimos para garantir 40 mil euros que foram guardados no cofre. Naquele momento, o \"bruxo\" acrescentou dez mil do seu bolso, trancou o cofre e disse-lhe para fechar os olhos e rezar. No final, devolveu-lhe um cofre igual para colocar debaixo da cama. Só bastante mais tarde a vítima viria a perceber que o cofre não era o mesmo: lá dentro, estavam larvas sobre matéria orgânica apodrecida. \"Mestre Dami\" justificou que os \"espíritos maus\" haviam comido as notas.

Mais grave foi o prejuízo da família de uma economista, ligada a uma empresa de Valongo. Em Março de 2008, com métodos semelhantes, incluindo o \"truque\" do cemitério, a vítima entregou 210 mil euros em notas - após endividamento em dois bancos - para guardar numa mala debaixo da cama durante 21 dias. A mala também havia sido trocado aquando das rezas finais, com olhos fechados.

Só que vítima e família resolveram abrir a mala antes do tempo e depararam-se com um coelho morto, já com larvas. Dos 210 mil euros, nada. Foram à procura do \"Mestre Dami\", inclusive a Lisboa, mas só conseguiram voltar a contactá-lo mais tarde por telefone. Sobre o dinheiro, respondeu-lhes que a culpa foi do facto de terem aberto a mala antes do prazo estipulado e que o dinheiro foi comido pelas larvas.

Foi a queixa da economista que desencadeou o processo e viria a levar à detenção do \"bruxo\" pela PSP, em Lisboa, quando já se preparava para embarcar num avião para o Brasil. Ainda foi possível recuperar 164 mil euros que estavam guardados num cofre de uma agência do BES, em Lisboa.



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