As máscaras transmontanas, muito usadas nas tradições ligadas ao solstício de Inverno, nos dias 24, 25 e 26 de Dezembro, estão em perigo. O alerta partiu do director do Museu do Abade Baçal, João Neto Jacob, que garante as máscaras actualmente feitas pelos artesãos «têm pouco a ver com as tradicionais», cujos modelos mais interessantes se encontram no Museu de Etnologia, em Lisboa.

Os artesãos estão fora do contexto original e alguns têm adoptado modelos «que são cópias de máscaras de plástico, usadas no Carnaval«, avisou; outros utilizam o mesmo formato das máscaras de Veneza (Itália). \"Estas mudanças desvirtuam as máscaras tradicionais\". Na origem destas introduções estará, \"talvez, a falta de modelos antigos\", explicou João Neto Jacob. As leis do mercado - a procura daqueles objectos está a aumentar - foram determinantes para as alterações «Estamos muito longe dos rituais de passagem, ancestrais, em que as máscaras eram usadas«.

Actualmente a máscara está na moda e o número de artesãos no concelho de Bragança tem aumentado, contando-se actualmente cerca de uma dezena. A produção também aumentou.

Alguns artesãos têm feito recriações daqueles objectos «com algum interesse«, fazendo a ligação à tradição e sintetizando as formas com originalidade, mas adaptando-as a outras funções, que não o mero uso no rosto, ganhando um estatuto autónomo de meros objectos de decoração. Os portas-chaves e os cinzeiros são dos objectos com mais saída comercial.

Um dos poucos artesãos que ainda se dedica à produção de máscaras de latão, na vila de Torre de Dona Chama, já as faz em série, todas iguais. Mas, antigamente, cada máscara era única, saía das mãos dos artesãos sempre diferente de todas as anteriores. \"Era possível identificar o proprietário\", referiu Neto Jacob.

Os materiais usados também são menos diversificados, usa-se essencialmente a madeira de amieiro e o latão, mas anteriormente usavam-se, também, a cortiça, o couro e, até, o cartão.

Outro problema está relacionado com os fatos usados pelos caretos, que eram confeccionados a partir de colchas de lã tecidas em tear manual e, agora, praticamente não há matéria-prima, pelo que essas vestimentas são raras e caras, chegando a mais de 500 euros.



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