O Governo anunciou hoje que vai tentar encontrar uma nova solução para que o IP2 possa ligar os distritos da Guarda e Bragança, na zona em que, depois da barragem do Sabor, surgem agora como impeditivas as vinhas, as quintas e a falha sísmica da Vilariça.
O secretário de Estado das Obras Públicas, Paulo Campos, revelou à agência Lusa que a Estradas de Portugal (EP) decidiu retirar o processo da avaliação de impacte ambiental«.

»Espero que, muito em breve, possa anunciar uma solução relativamente a essa matéria» afirmou o governante, garantindo que «este processo não impede, nem vai pÎr em causa os prazos inicialmente previstos».

Este troço do IP2 faz parte de um traçado mais vasto, que se estende pelos distritos de Bragança e Guarda e que foi anunciado pelo Governo no pacote de estradas prioritárias com conclusão prevista para 2011.

Os cerca de 18 quilómetros, entre a Junqueira (Torre de Moncorvo) e o Pocinho (Vila Nova de Foz CÎa), foram estudados num processo desencadeado em Junho de 2007.

O traçado já tinha sido desviado devido à barragem do Sabor e depois da EDP ter alertado para a possibilidade de cheias, embora a estrada fique a jusante da hidroeléctrica.

O IP2 esbarra agora noutros obstáculos de natureza patrimonial, cultural e geológica, que levaram a que fosse proposta à tutela (o Ministério do Ambiente) uma Decisão de Impacte Ambiental (DIA) desfavorável.

A EP evita desta maneira o chumbo oficial, mas fica com o projecto cercado por impeditivos de vária ordem.

«A excepcionalidade da zona», levou as diferentes entidades, desde o Ministério da Agricultura a organismos ligados ao turismo e geologia, a pronunciarem-se contra as propostas para a travessia do vale do Sabor e do rio Douro.

Os diferentes organismos alegam que esta rodovia implicará «a destruição de inúmeras plantações de vinha e olival e de pastagens e culturas tradicionais».

»Implicará também a destruição e fraccionamento de propriedades integrantes de quintas, pondo em causa a continuação da viabilidade económica das mesmas, podendo verificar-se, a curto e médio prazo, uma descaracterização e alteração significativa de toda a paisagem envolvente pelo abandono de algumas áreas agrícolas», acrescentam.

O «Turismo de Portugal» salientou ainda «a afectação dos acessos a empreendimentos turísticos existentes e a obstrução de vistas ou panorâmicas interessantes, que constituem factores de atracção turística».

Os pareceres encontraram também consequências negativas para a «economia do vinho, dominante nesta região», e para «a paisagem cultural do Alto Douro Vinhateiro, classificado pela Património da Humanidade».

Outro contra apontado ao projecto é «o aumento dos níveis de poluição atmosférica e sonora» e o facto de estar pensado em cima da falha sísmica da Vilariça.

Embora esta falha atravesse o Nordeste Transmontano desde Bragança à Guarda, os geólogos consideram-na «relevante» por nos últimos 30 anos originar sismos de magnitude 3 e 4.

«Da análise dos pareceres recebidos, verificou-se que a opinião geral recai sobre a valorização do actual traçado da EN102/IP2», conclui a proposta de DIA.

Ou seja, aponta para que se aproveite a actual estrada nacional, que segue pela ponte do Sabor e vai ligar ao pequeno e antigo troço do IP2, construído há quase 20 anos, e que a EP tinha retirado do novo projecto.

O presidente da Câmara de Torre de Moncorvo, o socialista Aires Ferreira, é defensor do aproveitamento do antigo troço, mas considera «ridículo» o argumento da sismicidade para reprovar o projecto em estudo.

«A barragem do Pocinho (na mesma zona) está sobre a falha da Vilariça e não deixou de se fazer», recordou o autarca.

Aires Ferreira contesta também o argumento das vinhas, lembrando que outro itinerário importante da região transmontana, o IP3, «atravessa aquele que é chamado do coração do Douro», no distrito de Vila Real.

«O IP2 continua a marcar passo», concluiu o autarca, referindo-se às várias décadas de espera por esta estrada, que garante «não interfere nem um milímetro com o Douro Património Mundial».

Já o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Foz CÎa, Emílio Mesquita, também do PS, disse à Lusa que considera a decisão de reavaliar o projecto «razoável».

«Permitirá pensar melhor o percurso do IP2 nesta zona», referiu.

Contudo, o autarca socialista admitiu que o processo terá que ser desenvolvido «em tempo útil, para que não se adie a sua construção».

Emílio Mesquita recordou que para o traçado do IP2 entre Pocinho e Junqueira, a Câmara de Foz CÎa «apresentou outra proposta diferente das três avançadas pela Estradas de Portugal, que contemplava a construção de um túnel e a travessia do Douro até junto da Barragem do Pocinho».

O IP2 foi pensado para ligar Portugal pelo interior, mas a norte de Celorico (Guarda), só existem dois pequenos troços, um construído mais recentemente, entre o IP4 e Valbenfeito, em Macedo de Cavaleiros, e outro a sul, há quase duas décadas, entre o Pocinho (Guarda) e a ponte do Sabor (Torre de Moncorvo).



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