Adegas modernas e outras guardiãs de silêncios cenobíticos, mosteiros e gastronomia. Artesanato, quintas, figuras históricas e vultos literátrios ligados ao vinho. Regiões vitivinícolas e património, em suma, tudo brinda a obra ímpar de José A. Salvador.

Sabedor da poda, o jornalista, apaixonado pela matéria consagrada rejubila com o esmero do ciclo vegetativo mais prodigioso: a da vinha, planta planetária. Fala-nos das gentes, dos resquícios históricos, dos ritos, dos 15 museus do vinho, das 341 castas plantadas em Portugal, com destaque para as de Alvarinho e Touriga Nacional. Fala-nos das 17 confrarias e do enoturismo, descendo, encantado, às fragrâncias de um lagar purpurino...

Do Norte ao Sul, calcorreando as ilhas, José Salvador embrenhou-se durante décadas na rota do cultivo, dos saberes e dos sabores, das novas tecnologias e das tradições. A páginas tantas, como organizar uma garrafeira, vinhos recomendados, mapas, gravuras e estatísticas. E rótulos e cartazes, tudo em seis volumes a editar ao longo dos próximos meses. Já publicados, os dois primeiros.

Do somatório desse labor suado, meticuloso, onde a euforia da faina vindimária se entrelaça à praga da filoxera a partir de 1852, resultou mais de 1500 imagens e páginas. Aconselham-se vinhos, definem-se as suas características, enxertam-se bagadas de literatura a condizer, não faltando, sequer, o casamento com os tentadores enlevos gustativos.

Exemplos dos estilos da vinha, vinificação, estágio e engarrafamento. Não se trata de uma escrita para especialistas. Intenso, de boa cor, dotado de notas florais, distinto, encorpado e equilibrado, tão profundo como sujeito à macieza, o trabalho de José Salvador revela um \"bouquet\" cheio de carácter: Um final de leitura agradável e persistente. Isto é: cultura geral.

Nada de patrocínios, concessões ou vulnerabilidades afins. O panorama vitivinícola começa pela incursão histórica, pelos primórdios do vinho desde a Antiguidade Clássica, passando pela chegada do vinho a Portugal, pela mão dos fenícios, século VII a. C. Uma viagem \"iniciada a partir do estuário do Sado até à actualidade\", com Portugal acolhendo cerca de 240 mil hectares de vinhedos e 370 mil viticultores a produzir sete milhões de hectolitros-ano.

Após a fundação da nacionalidade, a atenção incidiria na beatitude vínica dos monges cistercienses na expansão da vinha. Tempos andados, o Marquês de Pombal, a fundação, em 1756, da majestática Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e a política do Estado Novo para o sector: \"Comam uvas, bebam vinho\".

Em 1935, o vinho representava 35% das exportações portuguesas. A produção rondava, então, os nove milhões de hectolitros. Logo, \"Quem beber vinho/ contribui para o pão/ de mais de um milhão/ de portugueses\". O surgimento das cooperativas, a demarcação das zonas vitícolas, as 31 denominações de origem.

Com fértil documentação, o autor detém-se na contemporaneidade. A reestruturação de vinhedos e o plantio de novas vinhas, principalmente no Douro e Alentejo e os novos enólogos. Eis os vinhos de quinta, os vinhos de enólogos, os vinhos de vinha e, de futuro, vinhos do clone x de certa casta. Para já, as boas cepas e as belas folhas destes livros.



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