Os estudantes do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) tiveram liberdade de ponto e inundaram o Municipal local (seis mil pessoas). Um deles, dentro do relvado, deu consistência ao sonho - chama-se Tony, tem 24 anos e fez uma pausa nos estudos (Instituto Superior de Línguas e Administração) para marcar um golo ao profissional Belenenses.

Ao intervalo, comentava-se: «Meia vindima está feita.» Mas para ser enorme, ao «GDB» (assim se canta, nas bancadas, Grupo Desportivo de Bragança), que foi grande, faltaram-lhe centímetros e pernas. E livrar-se do complexo de interioridade: um golo mal anulado, mesmo no fim, salvou a equipa da capital, a equipa do centralismo, do prolongamento. O «Belém» ganhou por 2-1 nas alturas.

A tarde começou até por contrariar um pregão transmontano. Um pregão lembrado, no jornal «os belenenses», pelo transmontano (os pais são de Freixo de Espada à Cinta) Cabral Ferreira, presidente de Os Belenenses: «Nove meses de Inverno, três de inferno». Uma tarde amena de Fevereiro, de sol plácido, mas reconfortante. E sobreaquecida por uma cidade (menos de 30 mil habitantes, um terço flutuante - estudam no IPB) mobilizada plo «GDB», último classificado da série A da II Divisão. O último dos pequenos na Taça.

A primeira imagem do jogo denunciava as diferenças: equipas alinhadas frente à tribuna de honra, perfis morfológicos desequilibrados: «Olha a diferença de estaturas, começa logo aqui», disparava um bragantino (ou bragançano). Mas por aí se ficou largos minutos. Porque o Bragança era uma equipa de atarracados destemidos.

«O Bragança sai deliberadamente ao ataque, sem medo», gritava, enquanto o irrequieto Rui Borges ameaçava Costinha logo no primeiro minuto, um entusiasmado locutor de rádio. Pormenor importante: era da Rádio Onda Livre, não de Bragança, mas da vizinha Macedo de Cavaleiros. Trás-os-Montes estava unida por uma causa, notava-se.

O entusiasmo cresceu e rebentou numa fase mítica: «Já tínhamos marcado à Naval ao minuto 25. E ganhámos», registava um entusiasta. Desta vez, o golo saiu aos 27. E foi uma bela ironia: as torres de Belém soçobraram perante o pequeno Tony.

Marcou de cabeça, transformou vontade em centímetros. O Belenenses, enredado na sua superioridade não concretizada, acusava o toque. Farejava-o já há muito (Costinha tinha negado o golo a Rui Borges, num belo lance). Tudo porque o Bragança de Lopes da Silva, o brasileiro que já foi jogador de Jorge Jesus no Felgueiras, manejava a bola junto à relva, longe do controlo (frágil, como se viu) aéreo dos visitantes.

E Jesus começava a dispensar o GPS para situar Bragança no mapa (glosara geograficamente na véspera com a interioridade bragançana). Começou foi a precisar de orientação para travar o descalabro do favorito.

Na segunda parte, finalmente, os centímetros do Belenenses fizeram realmente diferença. Já nem as preces na tribuna de honra do arcebispo de Bragança foram suficientes - dizia, ao intervalo, António Montes Moreira que a seguir queria o «seu» Sporting.

Porque as pernas falharam aos amadores do Bragança (apenas sete são profissionais), porque finalmente os gigantes Dady e Nivaldo cabecearam do alto os golos azuis. E porque Bertino Miranda falhou um fora-de-jogo (Paulo Costa falhara um penalty sobre o belenense Eliseu, diga-se): Josivan marcou «legal» no finzinho.

«Roubaram-nos duas vezes: hoje no jogo e há uns meses até a neve», resumiu um gasolineiro quando a noite caía sobre Bragança.



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