Professores de Bragança defendem que a educação sexual devia passar por um gabinete multidisciplinar de apoio ao aluno.

A educação sexual nas escolas devia passar por um gabinete multidisciplinar de apoio ao aluno, defendem professores de Bragança que frequentaram uma formação nesta área e que alertam que nem todos os docentes estão preparados para abordar o tema.

Um grupo de 18 docentes de Filosofia e Ciências frequentou, nos últimos meses, formação sobre educação sexual, no âmbito da formação contínua de professores. Porém, mesmo com formação, a maioria manifesta reservas em relação ao modelo e questiona mesmo a \"utilidade\" da educação sexual nas aulas.

\"O problema é a falta de conhecimento nos domínios todos para responder a miúdos com 16 ou 17 anos. Não me vejo capacitado para responder com algum rigor a todos os problemas que eles têm\", disse à Lusa Valdemar Roca, professor de Filosofia.

Os docentes das áreas das ciências conseguem abordar a questão com mais \"objectividade\", porém torna-se \"complicado quando ultrapassa a dimensão biológica e entra nos afectos\", o que acontece com os professores de Filosofia, na opinião de Berta Alves.

Receios do que acontecerá à comunidade escolar
Acresce ainda, segundo outro docente, Sérgio Barros, que \"muitos conselhos executivos não estão preparados para lidar com esta temática, têm receio daquilo que vai acontecer com a comunidade escolar, qual vai ser a reacção dos pais\".

Todos concordam que \"muito mais do que aulas de educação sexual devia haver uma equipa com todos os técnicos para estar a tempo inteiro [disponível], não só uma hora ou duas por semana, para responder aos problemas que surgem todos os dias\".

A formadora Tânia Pires foi confrontada com \"os constrangimentos e resistências\" nesta acção incluída no plano de formação contínua de professores do Centro Bragança Norte.

\"Há muita resistência e não significa que seja por não terem conhecimento e não terem formação, é mais \"como é que eu transmito esta informação\", disse à Lusa.

Segundo explicou, os docentes \"têm receio de ser mal interpretados e é muito difícil para pessoas habituadas a dar respostas objectivas, do que é certo e do que é errado, numa temática destas não o puderem fazer\".

\"Porque é que ainda estamos sem educação sexual?\"
A formação, que se prolongou de Julho ao final de Outubro, serviu para \"dar ferramentas para dar respostas que levem as pessoas [os alunos] a reflectir e adaptar as abordagens ao nível de desenvolvimento dos alunos\".

O professor Valdemar Roca tem ainda \"reservas sobre a importância para os jovens\": \"Nós temos uma fartura de despachos, de diplomas, de estudos, de trabalhos e eu pergunto-me: se o poder político desde 1971 até hoje anda a falar tanto disto e isto é tão importante porque é que ainda estamos sem educação sexual?\".

Uma resposta a esta pergunta, na opinião do docente, está na lei que dedica seis ou 12 horas ao tema na carga lectiva e \"está no último diploma publicado em Agosto\".

\"Saiu uma lei que devia ser regulamentada no prazo de sessenta dias, acabou o período de regulamentação e nós ficámos na mesma. Ou seja, será que há mesmo necessidade?\", sustentou.

Os docentes perguntam ainda como é que vão \"definir objectivos concretos e universais\" sobre o tema, no âmbito dos objectivos que têm de apresentar no processo de avaliação.



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