Aquele que era considerado o “petróleo” transmontano deixou de o ser quando os empresários decidiram pagar até 80 cêntimos por cada quilo de castanha. 

O preço da castanha atingiu mínimos históricos, estando, esta semana, a ser vendida em alguns locais por 80 cêntimos o quilo. Uma situação incomportável para os produtores que, deste modo, não obtém qualquer lucro com a venda de um produto que, ainda o ano transato, era apelidado de “petróleo transmontano”. Perante este cenário, os produtores são confrontados com duas opções: ou vendem a castanha por um preço irrisório ou optam por armazená-la na esperança de que haja uma espécie de retoma dos valores de mercado praticados em 2014. No entanto, se decidirem arriscar, o preço pode, inclusive, descer ainda mais, ninguém lhes garante o escoamento do fruto e mais, a castanha armazenada tende a perder peso e pode sempre piorar em qualidade.

Recorde-se que, no ano passado, a castanha chegou a ser vendida por um preço médio que variou entre os 2 e os 2,5 euros por quilo. Porém, e com cerca de 90 por cento da apanha feita, muitos dos produtores falam em concertação de preços entre empresários.

“Não sei o que se passa do lado dos empresários, mas fala-se nesse sentido e já tive produtores a manifestarem essa preocupação. O que se sabe de quem compra é que há sempre umas reuniões para acerto de preços, mas nós continuamos a desconhecer o que está para lá desse muro”, adianta o presidente da Associação Agro-Florestal e Ambiental da Terra Fria Transmontana, ARBOREA, que garante que o mais acertado seria a castanha ser comprar entre o 1,5 e os 2 euros. Uma concertação que, caso exista, segundo Abel Pereira, é muito injusta para os produtores. “Se essa concertação continuar, a baixa de preços obrigará a que os produtores tenham de se organizar de outra forma”, afiança.

 

Só nos concelhos de Vinhais e Bragança, a campanha de 2014 rendeu entre 20 a 25 milhões de euros, num setor com um valor estimado na ordem dos 60 milhões.
É caso para dizer: “E para o produtor não vai nada?

 

O dia de amanhã é ainda uma incógnita, se bem que um empresário espanhol do ramo da castanha preconizou na 14ª Feira Internacional do Norte que iria haver uma acentuada baixa de preços e que esta se iria manter. Um futuro que interessa manter, obviamente, sobretudo, para os empresários, cujas margens de lucro cresceram de forma alucinante.
“Deixamos de estar num produto que, digamos, era um ouro transmontano e passamos a ter um produto que começa a não ter valor comercial e que começa mesmo a ser perigoso a nível de mercado”, refere Abel Pereira, que assegura que caso estivesse no papel dos produtores preferia vender a castanha do que armazená-la. “O futuro é uma incerteza e o preço pode até descer. Aquilo que eu faria seria vendê-la escalonadamente”, afirma o dirigente. “Se disserem ao produtor que a castanha vale 50 cêntimos o quilo, o produtor ou fica com ela em casa ou a entrega. Não tem grandes soluções”, reitera. Ou seja, mais uma vez é o pequeno produtor a ser colocado entre a espada e a parede.

Que o diga Lindolfo Garcia Afonso. “Há muitos vigaristas por aí que se reúnem para caçar a castanha aos produtores por um preço miserável”, manifesta revoltado o produtor de Espinhosela, que aponta como principal problema a falta de união entre os produtores. Com a campanha a cerca de 70 por cento, este agricultor atesta que não irá vender a sua castanha aos preços que estão a ser praticados. “A culpa maior é de quem a vende. Eu vou manter a castanha até às últimas consequências. A esse preço eu não vendo”, ressalva. Também Manuel Fortes, cuja exploração está sedeada em Maças de Parâmio, acredita na possibilidade de uma concertação de preços. “Essa informação de que houve um convénio é corrente. A despesa com a apanha é significativa e então, agora, com esses preços… É uma dor de cabeça”, declara, insatisfeito com o rumo que o mercado tomou.
 



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