Alguns agricultores das redondezas de Bragança têm colhido abundantes frutos de terras que há dois mil anos terão sido a capital dos Zoelas e das quais abdicaram agora para os arqueólogos escavarem vestígios que comprovem lendas e suspeitas cientificas.

O casal António Pinto e Alice Martins «já há muitos anos» que sabiam que ali «existia alguma coisa« e não hesitaram em interromper as colheitas durante dois anos para o projeto de investigação arqueológica no sítio Torre Velha, às portas da cidade de Bragança.

As escavações começaram na quinta-feira e puseram logo a descoberto um esqueleto que os arqueólogos acreditam indicar a existência de uma necrópole.

O propósito do projeto, uma parceria entre a Câmara de Bragança e a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, é clarificar se este local seria realmente a capital dos Zoelas, um povo anterior aos romanos, que viveria, há dois mil anos, nos territórios fronteiriços que são hoje as regiões de Trás-os-Montes, em Portugal, e parte da Galiza e Castela e Leão, em Espanha.

Alice e António não se importam que lhe mexam nas terras e estão entusiasmados com a ideia pois «se aparecer alguma coisa sempre será bom» para estas gentes e esta terra.

António também não vê «problema nenhum» e faz questão de sublinhar que cedeu as terras «sem contrapartidas».

As colheitas «interrompem-se agora uns tempos», pois «enquanto estão a decorrer as escavações não se planta nada», disse à Lusa, nesta sexta-feira.

Há 40 anos que António lavra estas terras e viu «levantar pedras de granito que eram de sepulturas». Não tem «dúvidas quanto isso.»

Desde pequena que Alice ouve as lendas de que ali era um cemitério, que havia uma igreja e o próprio nome do sítio- Torre Velha faz ambos acreditarem de que ali «deve ter existido alguma coisa».

Documentos científicos com mais de um século fazem referência ao local, mas nunca foram feitas escavações que permitissem validar as teorias, apesar dos vestígios que sugerem a centralidade desta zona há dois mil anos, como observou Pedro Carvalho.

O arqueólogo da Universidade de Coimbra coordena os trabalhos de campo que começaram quinta-feira e logo no primeiro dia tiveram resultados.

«Já encontrámos vestígios daquilo que nós designamos como um espaço funerário, uma área de necrópole, ou seja um lugar de enterramento», contou.

O povo que todos procuram é referido já por autores clássicos, como Plínio, que identifica os Zoelas como especialistas na produção de linho.

O presidente da Câmara de Bragança, Jorge Nunes, acredita no potencial deste espaço que tem como vizinho o Mosteiro de Castro de Avelãs, monumento nacional e exemplar único do estilo arquitetónico românico-moçábere em Portugal.

Jorge Nunes sonha que «daqui por 20 anos» Bragança possa ter um museu de referência da sua história antiga com o contributo dos possíveis achados destas escavações e de outros exemplares do património cultural local.

A autarquia custeia os 75 mil euros do projeto, que o diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Carlos Ascenso André encara como «um campo de aprendizagem para alunos e investigadores, sem escamotear que se traduz também em receitas próprias para a instituição».

O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, visitou os trabalhos de escavação e apontou «a importância desta ligação das autarquias ao património para a criação de fenómenos de desenvolvimento regional e de identificação cultural das comunidades».



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