O Douro profundo vinhateiro olha desconfiado para as novas propostas comunitárias para o sector do vinho, anunciadas esta semana, e não vê nelas \\"a árvore das patacas\\". Algum desconhecimento sobre o que aí vem eleva a expectativa pessimista.

Arnaldo Sampaio, presidente da Associação de Lavradores do Douro e dos Produtores de Vinho do Porto, é um dos que não vê com bons olhos o processo \\"A acontecer o que está a ser ventilado, será muito preocupante para o Douro. Estamos na presença de uma desvalorização do património da região demarcada mais antiga do Mundo. Os médios e pequenos viticultores desaparecerão e os nossos vinhos perderão com a globalidade\\".

Com indignação, sublinhou \\"Os agricultores do Douro só deixam fazer aquilo que querem que se faça! Quando eles sentirem os efeitos daquilo que é avançado, em termos de reformas, não acredito que cruzem os braços\\".

Joaquim Morais Vaz, em representação dos produtores-engarrafadores, avisa \\"O que mais nos preocupa é a liberalização. Esta, a ser adoptada, pode pÎr em causa as denominações de origem que garantem qualidade aos vinhos. O Douro não pode ter um vinho do Porto global. Temos 250 anos de história. A Europa e propriamente o Douro, tem na origem o seu trunfo competitivo\\".

Contudo, Joaquim Morais Vaz também vê aspectos positivos, como o fim dos subsídios, que irá \\"abranger aqueles que fazem deles as suas vidas\\". Em relação ao arranque da vinha, manifestou também agrado, na medida em que \\"se as vinhas não produzem vinhos vendáveis e são maus de qualidade, então o arranque pode aceitar-se\\".

Por fim, deixou uma crítica ao último encontro de Jaime Silva com as adegas \\"Espero que nos dêem as mesmas facilidades que dão às cooperativas, até porque elas só representam 16 mil viticultores dos 40 mil que existem\\".

Na mesma linha de preocupações surge Armando de Carvalho, da Confederação Nacional da Agricultura e dirigente da Associação de Viticultores do Douro, defendendo que as propostas de Bruxelas \\"devem ser rejeitadas liminarmente\\".

Justificou que a reforma do sector \\"será negativa para o Douro e para o sector vitivinícola em geral\\", desde logo, por o Douro ser uma região de monocultura, ser Património Mundial, e por poder \\"estar em risco a própria paisagem\\". O dirigente sugere mesmo uma reacção dos agricultores \\"O Douro deve levantar-se em peso. Não podemos aceitar a liquidação da produção dos milhares de viticultores em favor de meia dúzia de quintas que depois vão gerir o sector\\".

Sobre o arranque de vinha, a proposta comunitária pode excluir terrenos pobres onde só a vinha se dá. Assim, o arranque poderá cingir-se a terrenos mais de policultura.

A Confederação dos Agricultores de Portugal também está contra a liberalização do mercado do vinho, ao sublinhar a \\"incongruência\\" de se querer apoiar o arranque de vinha, para em 2014 acabar a restrição a novas plantações.



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Agora faltam os meios...

Castro Palheiros