O aumento do preço e a escassez do papel estão a preocupar quem precisa desta matéria-prima para trabalhar no distrito de Vila Real, quer seja nos jornais regionais ou na rotulagem e embalagem para o setor dos vinhos durienses.

Os custos aumentaram, segundo apontam empresas destes setores contactadas pela agência Lusa, em consequência da pandemia de covid-19 e, mais recentemente, da guerra no Leste Europeu.

“A nível da rotulagem o aumento dos custos tem uma variação entre 45 e 55%, dependendo das referências”, afirmou Alexandre Araújo, diretor executivo (CEO) da ADARME, uma agência de comunicação especializada no design gráfico, design de etiquetas e embalagens localizada no Peso da Régua, na região do Douro.

O responsável apontou também a “escassez de alguns tipos de papel”, o que obrigou clientes a alterar a memória descritiva de produção dos rótulos, optando por outro tipo de papel, e salientou que, neste momento, “não há previsibilidade” no negócio, já que os preços podem mudar de um dia para o outro.

“Em algumas dinâmicas comerciais a questão que se coloca já não é o preço, mas garantir matéria-prima nos fornecedores. Está um caos”, referiu.

Por mês, a ADARME fornece cerca de 40.000 rótulos com acabamentos nobres, de várias rubricas, e, desde o início do ano, produziu 1.200 caixas de cartão duro (caixas gourmet/prestígio) para as garrafas de vinho, como a recente edição do vinho do Porto comemorativo do centenário da diocese de Vila Real.

Uma edição que, segundo Alexandre Araújo, esteve mesmo “em risco”, tendo sido conseguidos apenas “alguns exemplares”.

A ADARME usa nas suas memórias descritivas de produção essencialmente papel proveniente da Alemanha e, segundo referiu, as dificuldades já se sentiam antes do conflito na Ucrânia, devido a uma paragem na produção durante a pandemia.

"Que vêm impactar não só o papel, o custo direto da impressão do jornal, que aumentou 30%, mas também o nosso custo de distribuição, por causa do gasóleo. Todo o custo de contexto aumentou devido a esses dois fenómenos, que foram primeiro a covid-19 e a guerra depois", afirmou Filipe Ribeiro, representante da Associação Nacional de Imprensa Regional e de dois jornais locais, o Notícias de Vila Real e o Notícias de Aguiar.

O responsável referiu que, durante a pandemia, perderam-se assinantes e, agora, a gráfica onde são impressos estes jornais teve “um aumento no [custo do] papel na ordem dos 50%", porque teve que arranjar um fornecedor de madeira alternativo ao russo com que trabalhava.

Um aumento que se refletiu nas contas destes jornais que têm uma tiragem semanal de 1.500 exemplares.

A Voz de Trás-os-Montes tem uma tiragem de cerca de 4.500 exemplares por semana.

“Na compra de papel os custos que se refletem para nós mais do que duplicaram”, afirmou o diretor João Vilela.

Neste caso, explicou, também porque a principal fábrica de pasta de papel para jornal, localizada na Finlândia, está parada desde janeiro por greve dos trabalhadores.

A gráfica com que este jornal trabalha, segundo João Vilela, disse ter a garantia de fornecimento de papel de jornal até junho, mas depois “é muito incerto e depende da evolução do conflito na Ucrânia”.

A seguir às despesas com os colaboradores, a impressão representa o maior custo para este semanário de implantação regional. Em janeiro foi feito “um ajuste” no preço de capa e no valor das assinaturas e, entretanto, segundo o responsável, já houve “três aumentos do papel”.

“Nós não temos, neste momento, margem para aumentar mais o preço de capa e de assinatura, porque seria insustentável para o nosso mercado que já é diminuto”, salientou.

 O jornal, apontou, tem de ser criativo nas soluções, o que “não é fácil porque a dificuldade é transversal”. Recentemente lançou um novo ‘site’ e uma aplicação, tenta cativar mais publicidade para a área digital e lança edições especiais para encontrar novos leitores e mais receitas.

“É uma machadada no jornalismo do ponto de vista global, mas no papel particularmente”, frisou.

As contas são cada vez mais difíceis de fazer para a imprensa regional, principalmente no Interior do país.

"O Interior não tem um tecido empresarial muito desenvolvido, há pouca indústria e pouca capacidade de investir em publicidade ou ‘merchandising’, e a distribuição dos CTT torna-se mais difícil nestes territórios, porque as populações estão dispersas e fazem-se muitos quilómetros para chegar a uma determinada aldeia", explicou Filipe Ribeiro.

O responsável referiu que, no caso dos seus jornais, a opção tem sido não mexer no preço por exemplar e de assinatura, no entanto, “esse valor vai ser agora avaliado, em consequência dos aumentos”.

"Estamos numa região que tem grande parte da população idosa, que está em meios mais isolados e que não tem acesso às redes sociais, à Internet, e a única forma de ter acesso à informação é através dos meios tradicionais, dos jornais, rádios e televisão", ressalvou.

Paula Lima, da agência Lusa



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