Um dos representantes da comunidade cabo-verdiana em Bragança, Oscar Monteiro, pediu hoje “calma” aos conterrâneos, com a convicção de que vão ser encontrados e punidos os responsáveis pela morte do estudante Giovani Rodrigues.

“O que eu tenho passado para a minha comunidade, tanto em Cabo Verde como na diáspora, é que tenham calma, que os culpados vão cumprir pena”, afirmou à Lusa, salientando que foram surpreendidos por este caso “porque a cidade de Bragança não tem um histórico nem de perto, nem de longe” de violência.

Óscar Monteiro, de 36 anos, é o mais conhecido cabo-verdiano a viver em Bragança, cidade onde chegou há 16 anos para estudar, casou, criou uma empresa e está envolvido em atividades desportivas e associativas, como a associação de estudantes cabo-verdianos.

Tal como Óscar, Giovani Rodrigues, de 21 anos, tinha chegado há pouco mais de um mês à região para estudar na escola de Mirandela do Instituto Politécnico de Bragança (IPB).

O jovem estudante encontrava-se a passar o fim de semana com outros estudantes cabo-verdianos em Bragança quando, na madrugada de 21 de dezembro, depois de uma rixa num bar, foi encontrado ferido e acabou por morrer 10 dias depois, num hospital do Porto.

Óscar acompanha o caso desde essa madrugada e, segundo o relato que os conterrâneos lhe fizeram, Giovani tinha saído com três amigos cabo-verdianos.

Dentro do bar Lagoa Azul terá havido um “mal-entendido” entre o mais velho do grupo e um outro rapaz que teve a intervenção dos responsáveis do estabelecimento para acalmar os ânimos.

O outro interveniente na contenda e acompanhantes saíram primeiro e o grupo de cabo-verdianos algum tempo depois.

De acordo com Óscar Monteiro, os quatro cabo-verdianos foram interpelados já na Avenida Sá Carneiro, a alguns metros do bar, por um grupo que começou a agredir o elemento envolvido na contenda dentro do estabelecimento.

Óscar disse que “os miúdos falam em 15 pessoas” e os outros três cabo-verdianos o que fizeram foi “tentar parar a situação”. Terá sido nessas circunstâncias que Giovani foi atingido “com uma paulada na cabeça”.

O grupo de Giovani fugiu por uma rua paralela à Sá Carneiro e voltou a entrar na avenida mais à frente, ocasião em que dois dos elementos voltaram atrás por terem perdido a carteira e telemóvel, segundo o relato feito.

Giovani terá ficado com o outro colega, que contam que desatou a correr pela avenida em direção à casa que ficava a poucos metros do local onde viria a ser encontrado caído no chão, junto à loja W52.

Segundo disse, quando os outros três chegaram junto do jovem já se encontrava no local a Polícia e os bombeiros.

Os bombeiros foram chamados ao local para um alcoolizado caído no chão, tendo a ocorrência sido identificada tecnicamente como “intoxicação”, que engloba os excessos de álcool.

Óscar Monteiro afirmou conhecer os alegados agressores de quem fala como “pessoas que já têm histórico” de violência, mas rejeita que tenha havido motivação racial.

“Já vivo na cidade de Bragança há muitos anos, já conheço muita gente, já conheço algum pessoal do grupo, não me parece que façam isso por motivo racial, porque até para se ser racista tem de se ter alguma formação”, declarou.

Não acredita também que se trata de um grupo tipo ‘gangster’, mas de “pessoal conhecido uns dos outros, familiares que convivem juntos sempre, estão na noite numa altura festiva e nesse momento uns têm problemas e os outros metem-se”.

Nem ele nem outros estudantes comunicaram o caso ao Politécnico de Bragança, que divulgou uma nota a dar conta de que tomou conhecimento do mesmo depois da morte do estudante cabo-verdiano.

Óscar justifica que aguardava pela evolução do estado de saúde do jovem cabo-verdiano, que se encontrava em coma induzido num hospital do Porto, do qual não chegou a acordar, acabando por morrer na madrugada de 21 de dezembro.

A comunidade cabo-verdiana é a maior entre os cerca de três mil estudantes estrangeiros de 70 nacionalidades que frequentam o Politécnico de Bragança e representam um terço dos alunos.

“Bragança é procurada mesmo por essa razão de ser uma cidade tolerante, acolhedora, que nós chamamos de segunda casa. Espero que as pessoas não confundam um grupo de pessoas com a cidade de Bragança, não podemos estar a generalizar dessa forma”, defendeu.

Para Óscar Monteiro, os cabo-verdianos que mais se revoltam com a situação “são os que não estão em Bragança, porque os que vivem e conhecem Bragança não sentem essa revolta tanto como as de fora”.

“As pessoas de Bragança percebem que não é um ato recorrente porque se fosse não estávamos aqui tantos”, sustentou.

“Eu não me importo de atender mil chamadas ao dia para dizer ‘é uma situação pontual, vocês não têm de se assustar até porque a PSP, o IPB todos estão aqui para vos assegurar que é uma situação que não se repete’”, acrescentou.

A comunidade cabo-verdiana em Bragança o que quer “é que a justiça seja feita” e quem está mais distante “também quer, só que estão a expô-lo de forma diferente”, com mais pressa como aconteceu com as marchas de solidariedade convocadas antes de a comunidade cabo-verdiana de Bragança tomar qualquer decisão.

“Eu, que estou completamente inserido no caso, sei perfeitamente que a justiça vai ser feita, mas quem não está muito próximo do caso pensa que há impunidade. Eu tenho cabo-verdianos que me ligam e me ofendem, que me dizem que não estou a defender, mas nós estamos a fazer tudo como deve ser feito, dentro da lei. Eu não posso obrigar ninguém a ser preso sem que se comprovem as coisas”, apontou Óscar Monteiro.

Foto: Óscar Monteiro



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