O presidente da Câmara de Bragança defendeu hoje uma maior sensibilização para a aprendizagem da arte de trabalhar o barro típico da aldeia de Pinela, naquele concelho, e de onde são originárias as peças que dão nome à secular Feira das Cantarinhas.

“Tem que haver uma sensibilização de aprendizagem. Antigamente havia as escolas-oficina e algumas deram um resultado positivo, para ensinar a fazer tudo aquilo que é trabalhar o barro, como a cozedura ou a pintura (…). Mas isso tem que ser com gente jovem que esteja interessada em aprender”, disse Paulo Xavier em declarações aos jornalistas na apresentação da edição deste ano da feira, que decorre de 03 a 05 de maio, lamentando, no entanto, que neste caso concreto ainda não haja jovens a optar por aprender o ofício.

Atualmente, há no concelho duas artesãs que produzem as cantarinhas, uma delas de Pinela. Os restantes vendedores chegam de outros pontos do país.

“Possivelmente não tem rentabilidade todo o ano fazer disso vida”, considerou Paulo Xavier, .

A Feira das Cantarinhas é de origem medieval e decorre no primeiro fim de semana de maio, em que também se celebra na atualidade o Dia da Mãe. Atualmente tem o ponto principal no centro da cidade e de lá se estende. Antes, acontecia dentro ou fora da Cidadela, dependendo se havia paz ou guerra, e em consonância com os ciclos agrícolas.

Os trabalhadores levavam para o campo cântaras, originárias de Pinela, que serviam para armazenar água e que se vendiam na feira franca.

As cantareiras, as mulheres responsáveis pelo molde de barro, começaram a produzir cântaras mais pequenas, chamadas de cantarinhas, que tinham como função entreter as crianças e que se popularizaram até à atualidade. Podem ter muitas formas, tamanhos ou cores mas continuam a simbolizar prosperidade e sorte. Por isso mantêm-se a tradição de as oferecer nesta data em sinal de amor ou de amizade a quem se quer bem.

Por ocorrer na primavera, a Feira das Cantarinhas está ligada ainda aos rituais de sedução, mandando também a tradição que se escolhesse a cântara mais bonita para presentear a mulher amada. Aquelas que recebessem mais cantarinhas eram, portanto, as mais pretendidas.

Paulo Xavier adiantou que este ano são 472 expositores, contando com a XXXVI Feira do Artesanato de Bragança, que acontece em simultâneo, de 01 a 05 de maio, na Praça Camões.

O evento conta com a parceria na organização da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Bragança (ACISB).

“Esta feira tem sempre uma grande importância económica. Basta dizer que traz milhares de pessoas. Logo aí, a hotelaria e a restauração ganham sempre. E promove o turismo. Um dia mais tarde, essas pessoas regressam a Bragança”, salientou Maria João Rodrigues, presidente da ACISB, adiantando ainda que a feira representa um investimento de cerca de 26 mil euros.

No programa há ainda uma prova de trial 4x4, um passeio de carros clássicos, o início do campeonato de chegas de touros e, a terminar, dia 12 de maio, a III Meia Maratona das Cantarinhas.


- A Feira das Cantarinhas é de origem medieval?

Dizem os historiados que a Feira das Cantarinhas se realizava dentro ou fora da Cidadela, na época medieval, conforme a paz da época o permitisse. Esta Feira acontecia em estreita relação com o ciclo agrícola, quando os trabalhadores iniciavam as suas idas para os campos e a cantarinha (originária da aldeia de Pinela) serviria para levar a água e “matar a sede”. Assim, o principal motivo de comercialização deste certame são, segundo a história, as famosas cantarinhas de barro. Hoje, são recriadas em diversos tamanhos, cores e feitios, por hábeis artesãos, tendo como finalidade a ornamentação. Dizem os mais antigos que dão sorte e prosperidade a quem as comprar. Também nesta feira é vendido, tradicionalmente, o renovo (hortaliças de várias qualidades prontas a serem plantadas).

- Era das mãos das mulheres que saiam as famosas peças, mas o processo de produção envolvia toda a família?

Primeiro era colhido o barro. Pelos montes procuravam-se os veios com o barro mais branco, pois era considerado o melhor, o mais moldável, e os homens enchiam sacos que, com ajuda dos animais, transportavam para casa. Por norma esta recolha da matéria-prima acontecia em tempo quente, para a terra não guardar muita humidade. O barro era depois peneirado com os crivos da farinha, pois só o pó mais fino era aproveitado. De seguida tudo era bem misturado, até fazer “uma bola”, que devia repousar dois dias para expulsar a água que possuía a mais. Por fim, as mãos sábias das “cantareiras” moldavam as peças na roda para, depois, levar ao forno e “cozer”.

- As “Cantarinhas” são símbolo do amor?

O significado da Feira das Cantarinhas está também relacionado com “rituais de sedução” próprios da Primavera. Segundo a tradição, quem queria namorar teria de procurar a cantarinha mais bonita da feira para oferecer à “alma gémea”. Este costume de oferecer cantarinhas às raparigas solteiras, determinava que aquelas que recebessem mais “ofertas” seriam as mais pretendidas pelos rapazes da terra. A tradição mantém-se e, na Feira das Cantarinhas, é habitual comprar estas “pequeninas” peças para oferecer a quem se quer bem.


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