Magda Borges

Magda Borges

Não, os professores não vão abandonar os nossos filhos.

Formalmente, teve hoje início o 3o período letivo, do ano escolar de 2019/2020. 

Um momento conturbado, repleto de incertezas para todos os intervenientes, uma vez que nos encontramos em pleno surto epidémico e os níveis de imprevisibilidade multicontextual são altíssimos.

O governo assumiu um rumo que me parece sensato face à situação sanitária que enfrentamos. Factualmente, não existem condições para as escolas reabrirem.

Isso significa que as escolas e os docentes vão abandonar a sua missão? De todo. À semelhança do que se passa com os profissionais de saúde, por muita celeuma que exista com a tutela, em momentos de crise os docentes não se esquecem daqueles que justificam aguentar todos os insultos e insinuações gratuitos (proferidos por pessoas que estão tão a par do ensino como eu estou de física quântica) e assumir uma profissão miseravelmente remunerada. Os professores trabalham por e para os alunos.

Portanto, não se iludam. Os professores deste país estão a trabalhar afincadamente para dar respostas em situação de crise. Para inventar soluções, se necessário for, para ultrapassar as barreiras que todos conhecemos. Existem enormes assimetrias sociais e económicas. Existem disparidades gigantescas naquilo que eu chamo de cultura educativa, de valorização do espaço escola; fatores que nesta contingência que obriga a um isolamento e a um distanciamento físico da escola e da sala de aula contribuem para um aumento deste fosso.

As escolas, os docentes são entidades de bem. Existem para colaborar com as famílias. Estão do lado das soluções e nunca dos problemas (não obstante termos o dever de os expor, nos momentos próprios e em sede própria).

Assim, fiquem tranquilos porque os nossos filhos serão acompanhados.

Esta crise convoca, adicionalmente, um estreitar das relações da escola com as famílias. Uma maior colaboração. Uma maior comunicação. Exigirá um esforço maior de acompanhamento e de atenção por parte dos encarregados de educação. Se há uma lição a retirar de tudo isto é que não é impossível parar tudo de um dia para o outro. Basta que algo maior o imponha.

Questão: existirá algo maior, em termos de importância, do que os nossos filhos? Creio que não. Por isso, da mesma forma que os protegemos e os cuidamos nesta fase de isolamento, temos a obrigação de estar presentes na sua adaptação a estas novas rotinas de aprendizagem.

Nesta guerra, todos somos chamados a intervir e em termos educativos, apesar de os docentes estarem na linha da frente com os nossos filhos, nós, pais, temos a obrigação de reforçar o acompanhamento, de tranquilizar, de conversar com os docentes para esclarecer quaisquer dúvidas ou ânsias. Relativizem o discurso orientado para os resultados. O mais importante é o caminho percorrido e o crescimento que advém das aprendizagens. E existem tantas formas de aprender! É óbvio que alguns docentes serão levados a alterar o seu modus operandi, a privilegiar mais abordagens do tipo da Pedagogia de Projeto, em detrimento de abordagens tradicionais, que há muito perderam a preponderância nos estilos de ensinar e aprender. Estes tempos são de desafio, pedem rasgo criativo, exigem pensamento “fora da caixa”, questionamento e busca permanente de respostas para dar o melhor aos alunos.

 Esta crise surge em plena crise de valores, de humanidade, de comunicação, de altruísmo, de bondade, de capacidade para nos colocarmos no lugar do outro.

Nestes tempos de isolamento, reclamem para vocês alguns dos papéis que, de alguns anos a esta parte, os professores desempenham junto dos nossos filhos - professor, psicólogo, assistente social, pai, mãe, irmão mais velho, melhor amigo... Enfim, uma panóplia de papéis que extravasam e muito o papel de um professor. Não duvidem que, em condições normais, os professores estão lá todos os dias para ser uma destas figuras elencadas, ou várias. Os vossos filhos vão todos os dias com os seus professores para casa. Em pensamento. E que disso não restem dúvidas.

Os momentos mais caóticos e cruéis, nos quais se incluem estes em que vivemos, mostram quem tem fibra, sentido cívico e vai para o terreno; e quem só tem agenda para aparecer nas inaugurações e ficar bem na fotografia.

Não duvidem. Os professores estão e estarão sempre no primeiro grupo. São fazedores. Executores. E são os últimos a abandonar o barco.

Mas não se esqueçam: os professores e os nossos filhos precisam de nós. Pais e Mães. Com entusiasmo e otimismo. Vai correr bem! Boas descobertas a todos!...

 #umportodosetodosporum


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