Luis Ferreira

Luis Ferreira

Livremente partidários

A liberdade foi desde sempre uma ânsia de todos os que, de um modo ou de outro, se sentiam oprimidos, ainda que essa opressão fosse tomada num sentido positivo. Sabemos bem que há opressões de vária ordem e algumas são para o bem de quem é oprimido mesmo que esse alguém o não entenda desse modo. Pois é verdade. Quando exercemos esse tipo de coerção sobre um filho e lhe dizemos que não deve fazer determinada coisa ou o proibimos de sair à noite, estamos a fazê-lo para seu bem, embora ele não o aceite como tal. Claro!
Ao longo da História da humanidade encontramos inúmeros exemplos de lutas pela liberdade. Mais tarde ou mais cedo essa liberdade foi conseguida. Em muitos casos através de muito derramamento de sangue, em outros pacificamente. Mudanças que os povos aceitaram porque ansiavam por essa mudança.
Se desde há séculos que se luta pela liberdade dos povos, também se tem lutado mais recentemente por formas de governo mais ou menos livres, mas eleitos democraticamente. A eleição democrática pressupõe votações livres e a identificação com os elegíveis que, de uma forma ou de outra, se inserem num determinado espectro político. Daí à necessidade de aparecerem os partidos foi um salto. A democracia alargava-se deste modo e tornava mais amplo o leque de apoiantes que se podiam mais facilmente identificar com este ou aquele partido. A Europa e o mundo tornavam-se assim o palco imenso onde a democracia seria a principal personagem de uma peça teatral fantástica. Mas nem todos apreciaram a peça. Exemplo disso é que nem todos os países adoptaram a democracia na sua verdadeira essência. Mas se nem todos seguiram essa democracia, a verdade é que adoptaram os partidos de acordo com os seus interesses e para servir os seus interesses.
É fácil de entender que não são necessários muitos partidos para representar um povo que se quer democrático. Se os espectros políticos habituais se dividem em três vertentes, centro, direita e esquerda, seria lógico que houvesse tantos partidos como as vertentes políticas mais aceites, mas não é isso que acontece.
Vejamos o exemplo de Portugal. Não sei se existe outro país onde o espectro político-partidário se divida por tantos partidos. Qualquer dia não há gente suficiente em cada partido capaz de poder ganhar qualquer eleição nem gente suficiente para tornar viável qualquer partido. Mas isso parece não preocupar muitos portugueses, pois acaba de surgir mais um partido democrático em Portugal. Livre! Livre para dividir a esquerda, livre para dividir os socialistas, livre para dividir os bloquistas e mesmo os comunistas. Livre para aceitar os que não estão contentes com os partidos que já existem e Livre para concorrer a qualquer eleição que por aí venha. Livremente formado e livremente aceite e democraticamente existente. Para quê?
Se a sua efectivação como partido foi difícil já que as assinaturas não foram assim tantas, mas somente as suficientes, o que poderão esperar os seus líderes em termos de percentagem eleitoral? Não é todos os dias que nascem fenómenos, mas mesmo quando isso acontece, são de duração efémera e acabam por se diluir no tempo e no espectro democrático. Já tivemos exemplos mais do que suficientes para o confirmar.
É certo que a liberdade e a democracia permite a qualquer cidadão formar um partido desde que consiga um determinado número de assinaturas, mas não chega formar mais um partido no meio de tantos outros que lutam pela sua sobrevivência. Ao fim de quase quarenta anos de democracia e com quinze ou dezasseis partidos políticos, já era tempo de alguns equacionarem a sua manutenção e existência, pois seria uma maneira de reforçar a democracia. A dispersão faz fraca a votação, a eleição e a democracia. Temos quatro partidos principais em Portugal onde cabem certamente todos os que pensam de um modo diferente e onde deveriam caber todos os que apoiam ou suportam os partidos mais pequenos, cuja percentagem eleitoral não passam dos 2%. Claro que podem existir livremente. Em democracia é assim. Mas servem só para alguns? Ou será que são tão diferentes democraticamente que precisam de pensar mais livremente num partido mais Livre? Se querem assim, pois que sejam livremente partidários e logo se vê. Cada um representa o que realmente representa. E não será muito.


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