Marta Liliana

Marta Liliana

Corona e outros vírus: medidas preventivas

O “novo coronavírus identificado pelas autoridades chinesas” tem feito as últimas manchetes e levado a medidas preventivas reforçadas nos países com casos identificados.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde encontra-se em articulação permanente com as instituições nacionais e internacionais no sentido atuar de acordo com a evolução do risco. Emitiram-se recomendações, há um esforço na triagem e identificação precoce de casos suspeitos, assim como existem hospitais preparados para os receber em isolamento.

É louvável o esforço concertado à escala mundial de prever e prevenir novas estirpes patógenas para os humanos. Ainda assim, de tempos a tempos, surge o alerta para um eventual surto epidémico (surge numa região podendo propagar-se a outras regiões) ou pandémico (epidemia que atinge grandes proporções, podendo espalhar-se por um ou mais continentes ou por todo o mundo). O coronavírus, um vírus habitualmente culpado por constipações comuns, já esteve previamente no centro das atenções por condições como a síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV), que se disseminou rapidamente por vários continentes, infectando mais de 8.000 pessoas e causando cerca de 800 mortes, antes de ser controlada em 2003. Recuando mais no tempo até 1918, final da 1º guerra mundial, encontramos a gripe espanhola, designação para a estirpe do vírus influenza que foi responsável pela morte de, no mínimo, 50 milhões de pessoas por todo o globo, estimando-se que tenha atingido metade da população mundial. O incrível desta situação é que a mobilidade das pessoas então era muito inferior à verificada atualmente, facto que não impediu a magnitude do problema.

Utiliza-se o termo “viral”, sobretudo no contexto da internet e redes sociais, para referir uma coisa que atinge rapidamente um número elevado de pessoas. No contexto epidemiológico, a capacidade de disseminação é, de facto, uma das principais preocupações nas infeções por vírus novos. O coronavírus, em particular, é um vírus zoonótico, o que significa que pode ser transmitido entre animais e humanos. A nova estirpe 2019-nCoV é, igualmente, transmissível entre humanos, julga-se que por contacto próximo. Se acrescentarmos que os vírus podem ter uma morbilidade e mortalidade importante associada e nenhum tratamento curativo, esta preocupação ganha uma expressão mais dramática. Não é difícil, perante o cenário desconhecido, deixar-se levar por um estado de ansiedade coletiva alvoraçada pelos meios de comunicação social, quando o que importa é agir racionalmente.

Individualmente o que se pode fazer?

Estamos no pico gripal, o suficiente, por si só, para se recomendar a lavagem frequentemente das mãos com gel de álcool ou água e sabão, especialmente após contacto com pessoas doentes, contacto esse que deve ser evitado a não ser que seja estritamente necessário. Outras medidas contra a propagação consistem em tossir e espirar para um lenço de papel ou braço (nunca para as mãos) e, se possível, usar máscara cirúrgica. Deve evitar-se o contacto com animais. No caso dos viajantes, a presença de sintomas sugestivos de doença respiratória durante a viagem ou após o regresso, deve motivar a procura de atendimento médico para esclarecimento. Numa situação de regresso recente da China, deve liga-se para a SNS 24 (808 24 24 24) antes de recorrer aos serviços de saúde.

Sabe-me sempre a pouco enaltecer o mérito da vacinação na diminuição da incidência ou da gravidade de doenças que têm, muitas vezes, complicações sérias. É um progresso científico admirável e uma barreira ao sofrimento desnecessário. Em Portugal erradicaram-se doenças como a poliomielite, difteria, sarampo, tétano neonatal e rubéola. A poupança de recursos não é secundária, falo, por exemplo, em custos diretos do tratamento ou indiretos relacionados com absentismo laboral.  Não existe vacina contra o coronavírus, no entanto anualmente é disponibilizada uma vacina contra algumas estirpes do vírus influenza (gripe), acessível a todos e preferencialmente administrada até ao início do novo ano. É especialmente recomendada e gratuita (administrada nos centros de saúde) a grupos de indivíduos mais suscetíveis de desenvolver complicações, tais como pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, doentes crónicos ou imunodeprimidos e grávidas.

Um outro ponto de extrema relevância, numa era tecnológica em que se é involuntariamente inundado por informação não filtrada, é a procura de conhecimento baseado na melhor evidência disponível. Nesta área, fontes como o CDC (Centers for Disease Control and Prevention, instituição americana), ECDC (instituição europeia) e a portuguesa DGS são fidedignas. Se for viajar, aconselho o www.fitfortravel.nhs.uk com informação prática e atualizada. A “propagação” de informação fiável em saúde protege e salva vidas.

 

4.2.2020


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