Marta Liliana

Marta Liliana

Começar a saltar pela janela

Começar tem sabor a entusiasmo. Traz novas possibilidades na direção do esperado ou inesperado e a vida tem-me trazido muito começos que agradeço. Comecei a viver em Lisboa e depois no Porto, a morar em várias casas que partilhei, a estudar na faculdade de medicina, a trabalhar em diferentes hospitais e centros de saúde, comecei amizades, namoros, viagens, livros... comecei a andar de skate e a dançar lindy hop.  

 

Estou quase a fazer trinta anos. Fui definindo que a época dos vinte seria de estudo e introspeção e a dos trinta de saltar pelas janelas abertas para o mundo. Começar a escrever enquadra-se neste último ponto. A ideia esteve a maturar, ganhando alguma forma neste primeiro artigo, impulsionada pelo desejo de partilha, pelo espicaçar do meu pai e pelos amigos que escrevem e que admiro. Por vezes, numa trapalhice de pensamentos, acontece que não consiga falar o que quero e dou por mim a ter conversas imaginárias sobre o que poderia ter dito e de que modo. Talvez a escrita permita ultrapassar esta contrariedade. Na escrita perdem-se a espontaneidade e a entoação, mas ganham-se as palavras cuidadas e o espaço para reflexão do autor e do leitor. 

 

É um início que tem tanto de entusiasmante como de intimidante. Assomaram-se-me perguntas, desde logo, sobre o que escrever? Propus-me então a abordar assuntos relacionados com saúde e medicina, os mares em que navego com maior segurança, manobrando atualidades noticiosas e situações ou lembranças do quotidiano profissional. Num estilo formal ou informal? A resposta já se antevê pelos parágrafos anteriores. Procuro o acessível, com apontamentos pessoais e inspirados nas pessoas que vão cruzando o consultório. Para quem? A colaboração com o Diário de Trás-os-Montes e a oportunidade de ser lida pelos meus conterrâneos são um privilégio. 

 

E a pergunta desassossegada... serei capaz de o fazer? Pode intuir-se que já escrevi muita matéria em resumos e anotações e até textos em linguagem científica. Foram rabiscos crus. De miúda inventei adivinhas e poemas que agradaram a meia dúzia de pessoas muito simpáticas, no entanto, não creio que sirva como prova de que sei redigir de maneira apelativa. Por outro lado, a minha avó Marcelina é uma contadora de histórias fabulosa e posso ter aqui uma vantagem genética (gostava!). Não sei o que pode surgir deste atrevimento, nem responder agora a todas as perguntas, porém acredito que o mais difícil e importante é começar.  

 

Novos projetos trazem alento aos dias. Acarretam mudanças, um desiquilíbrio do conforto habitual que nos impele a fazer diferente ou melhor. Quando encarados com entusiasmo, tornam-se fontes renováveis de saúde mental. Se estes projetos envolverem a prática de uma nova modalidade desportiva, o renunciar a consumos nocivos como o tabaco ou a adoção de uma alimentação equilibrada, aliam-se à saúde física e os resultados em saúde são exponenciais. O leitor o que vai começar?

 

27.1.2020


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