Com apenas 15 anos apanhou um autocarro, fez mais de 400 quilómetros em busca de um sonho, ser piloto profissional de motociclismo e ser campeão nacional.

 

A aventura no motociclismo de André Pires, natural de Vila Pouca de Aguiar (Vila Real) iniciou quando o jovem transmontano, com apenas 14 anos começa a andar de moto. Desde tenra idade, André mostrava que tinha uma paixão especial por motas e pela competição, “já em pequeno havia o gosto de andar de mota, mas tinha algo mais forte a competição, sempre fui competitivo nas corridas com os meus amigos em Vila Pouca de Aguiar”, afirma.

André começou a interessar-se cada vez mais pela modalidade, começou a pesquisar em revistas especializadas de motociclismo, e deparou-se com a oportunidade que iria levar o jovem ao seu sonho, ser piloto profissional de motociclismo, “queria saber mais e procurei uma hipótese de poder competir, é difícil para uma pessoa de Trás-os-Montes, porque está tudo concentrado nos grandes centros como por exemplo em Lisboa. Comecei a procurar em revistas, a facilidade da internet não era como é hoje em dia, e no ano de 2005 vi numa revista que ia decorrer a captação de pilotos para o troféu Honda CBR no Circuito do Estoril”. Com algumas dificuldades financeiras e profissionais dos pais, André decidiu ir em busca do seu sonho, apanha um autocarro de Vila Pouca de Aguiar até ao Circuito do Estoril, “tinha dificuldades em poder correr, a minha família não tinha disponibilidade profissional e não tinha muitas posses para vir até aqui, não era fácil, eu como os meus 15 anos vim de autocarro sozinho de mochila às costas para Lisboa e depois apanhar outro autocarro até ao Autódromo do Estoril. Consegui fiquei logo apurado e a partir daí foi sempre a crescer”, recorda orgulhoso.

Depois de conseguir ser selecionado, André Pires começa o seu percurso no motociclismo, inicialmente começou por delinear objetivos e metas a atingir, “o objetivo que eu sempre ambicionei foi ser campeão nacional”.  No ano de 2005, o primeiro ano que compete a sério, André marcou a diferença perante alguns pilotos que já competiam em anos anteriores, alcançou o 3º lugar. Após o ano de estreia, o jovem piloto depara-se com uma fragilidade, a falta de verbas para continuar a competir, como uma competição não se faz sem apoios, André conseguiu adquirir patrocínios em empresa locais e do Município de Vila Pouca de Aguiar, até  ter uma equipa que tivesse as condições necessárias, para que o jovem piloto continuasse a lutar pelo título e manter a sua permanência no campeonato nacional, “surgiu em 2008 e fui vice campeão nas 85cc, é uma classe de iniciação mas sem duvida que para andar aqui faz muita falta” e em 2011 consegue um dos objetivos propostos, “ em 2011 conseguimos ser campeão nacional de 125cc, o meu primeiro título”, refere orgulhoso.

A partir deste momento André ganha mais força, a humildade visível do piloto leva-o a aperfeiçoar no motociclismo para alcançar novas metas, “surgiu uma boa equipa em 2012 e fui logo campeão nacional da classe de 600 cc, depois em 2013 comecei com a classe de 1000cc e fui vice-campeão, subi de classe muito rápido, ninguém em Portugal tinha subido tão depressa e ter logo estes resultados, em 2014 com apenas 23 anos fui campeão nas SuperBikes 1000cc a classe rainha do nosso campeonato”.

Faltando apenas 2 provas para o final da época, o piloto transmontano que atualmente compete pela equipa da Beauty Machines (Chaves), ocupa o 4º posto à geral, “este ano compramos uma mota de 2019 para fazer esta época, o campeonato está muito competitivo mas saudável, é pena ser pouco divulgado”, quanto aos adversários diretos (Ivo Lopes e Tiago Magalhães), “somos todos amigos, mas depois de acender os semáforos entramos em competição e é tentar passar a meta em primeiro…”, refere.

Com a falta de algumas regras de segurança, hoje em dia o campeonato nacional é apenas disputado no Circuito do Estoril e no Circuito de Portimão. Cada circuito tem as suas especificações e exigências, para o piloto é no Circuito do Estoril onde se sente mais à vontade, “gostava muito do circuito de Braga, mas infelizmente já não tem as condições necessárias para as provas, o do Estoril é o que tenho mais quilómetros é o que me sinto melhor”. Em relação circuito transmontano (Vila Real) refere que é possível haver provas, mas a segurança dos pilotos é posta em causa “se em Macau é possível, também é possível em Vila Real, as características são semelhantes, mas Portugal não acolhe bem as provas e se acontecesse um acidente seria mau e acabava”.

 

Provas Internacionais

Decorria o ano de 2013, depois de alcançar o título de Vice-campeão André Pires mais a sua equipa rumaram a Macau para participar num evento anual único, que reúne mais de três centenas de pilotos de motociclismo e automobilismo, “a minha primeira participação, é impressionante fiquei apaixonado pela prova é perigoso, mas a adrenalina, a envolvência dos pilotos é um conjunto de fatores muito bons. Correu muito bem, tinha sido vice-campeão nesse ano, tinha muitas hora na mota e conhecia bem, fiz 13º, foi um tempo extraordinário”, afirma. Satisfeito com a sua participação, regressa ao mesmo circuito em 2015 e consegue obter a 20º posição e no ano seguinte 2016 consegue a 19ª posição.

Após as suas presenças em Macau, André recebe o convite da organização para participar na mítica prova da Ilha de Man (Isle of Man TT), que se realiza nas ruas de uma pequena ilha situada entre a Irlanda e a Reino Unido. Sem escapatórias para os pilotos que atingem velocidades superiores a 280km/h, é considera a prova mais perigosa do mundo que atrai anualmente muitos pilotos para testar os seus limites. Após adiar a sua participação durante alguns anos, surge em 2016 a oportunidade de participar, “o campeonato nacional estava fraco eu também não tinha praticamente equipa, como este é um desporto muito caro e eu não consigo competir sem dinheiro, ser campeão não conseguia, andar a lutar pelo 5 ou 6 lugar não valia a pena, então decidi concentrar-me numa prova que fizesse sentido e fui à Ilha de Man. Foi uma prova toda organizada por mim, desde a viagem, a logística, fomos três pessoas numa carrinha com a mota na parte detrás e arrancamos”. Numa pista técnica, com mais de 60 km de distância com inúmeras curva e retas longas, o piloto transmontano consegue o 52º lugar, “É uma prova muito difícil de fazer, uma pessoa tem que se concentrar só naquilo, são 62km uma volta, 214 curvas, decorar o percurso é necessário estar o ano todo trabalhar, ver vídeos, ir lá pelo menos uma ou duas vezes durante o ano, fazer a pista de carro e tirar pontos de referência, não há pista nenhuma no mundo que se ande tão depressa e tanto tempo, aqui a adrenalina é outra”, afirma, até à data apenas três pilotos portugueses competiram nesta prova, André Pires foi um deles.

Atualmente a residir em Braga por questões profissionais, André não deixa de ir quase todos os fins-de-semana à terra que o viu crescer e o influenciou como pessoa e piloto, “adoro Trás-os-Montes, adoro o clima a paisagem, sente-se a natureza, o ar puro, aquele espírito de calma ajuda-nos muito. Trás-os-Montes interferiu bastante comigo, os meios em Trás-os-Montes não são os mais fáceis, e a vida dura faz as pessoas duras”, afirma.

No futuro o piloto transmontano pretende continuar a lutar pelo título de campeão nacional, “como piloto pretendo que o meu filho pudesse ver a ganhar um título e que se lembrasse mais tarde, e se possível voltar à Ilha de Man”, conclui.

Reportagem de Bruno Taveira



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