O sindicato SINTAB denunciou hoje que os trabalhadores despedidos do produtor de cogumelos Sousacamp, em Trás-os-Montes, estão a receber propostas para os postos de trabalho de onde foram dispensados no processo de insolvência e reestruturação da empresa.

O processo, concluído em julho, contemplou a dispensa de quase uma centena dos cerca de 450 trabalhadores das empresas do grupo que, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da agricultura e das indústrias de alimentação, bebidas e tabacos de Portugal (SINTAB), estão a ser surpreendidos com propostas de trabalho para os mesmos postos.

O dirigente Avelino Mesquita explicou à Lusa que a empresa pediu ao Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) trabalhadores com alguma experiência e esta entidade recorreu aos que a empresa tinha despedido e estão a receber subsídio de desemprego.

Depois de receberem a proposta do IEFP, “os trabalhadores que contactaram a empresa receberam resposta negativa, alegando erro processual”.

Para o sindicato, a empresa não aceitou os trabalhadores “porque já os conhecia e sabe que, durante um ano, não pode meter ninguém, por os despedimentos terem sido feitos com base na extinção dos postos de trabalho”.

O dirigente Avelino Mesquita classifica a situação como “uma trapalhada” e “uma contradição”, na medida em que a Sousacamp alegou que tinha de dispensar trabalhadores para o grupo ser viável.

“Agora, estão a recorrer ao centro de emprego porque falta mão-de-obra”, vincou.

O sindicato entende que se trata de uma “vergonhosa evidência (que) corrobora a posição expressa pelo SINTAB de que a iniciativa de despedimento se apresentava em contraciclo com a recuperação económica da empresa e representava, tão só, a vontade de se ver livre daqueles trabalhadores que haviam ousado assumir espírito reivindicativo próprio, lutando por melhores remunerações e direitos”.

O SINTAB considera que “está é uma situação escandalosa” que deve “envergonhar a sociedade em geral, mas particularmente os sistemas judiciário e político nacionais por terem permitido que se tenha concretizado um processo de insolvência que implicou o perdão de dívida que envolveu dinheiro dos contribuintes sem que se tenha garantido a manutenção dos empregos.

O grupo de produção de cogumelos, sediado em Vila Flor, no distrito de Bragança, saiu do processo de insolvência judicial, em julho de 2020, com a venda à gestora de capital de risco CoReEquity que obteve um perdão de 54 milhões da dívida, correspondente a 75% do valor total dos 70 milhões de euros de créditos.

Os maiores credores da Sousacamp, que perdoaram parte substancial da dívida, eram o Novo Banco, com 30 milhões de euros, a Caixa de Crédito Agrícola, com cerca de 16 milhões, e o IFAP (Instituto do Financiamento da Agricultura e Pescas), com cerca de 17 milhões de euros de financiamento a projetos.

O grupo Sousacamp é o líder nacional no cultivo e comercialização de cogumelos, com cerca de 90% do mercado nacional, e era considerados o maior produtor da Pensínsula Ibérica, com empresas em Benlhevai (Vila Flor), Vila Real e Paredes.

As empresas nunca deixaram de laboral e os trabalhadores mantiveram os salários em dia, nomeadamente com a antecipação de dois milhões de euros por parte da CoReEquity, que ficou com 90% do maior produtor português de cogumelos.

A nova dona da Sousacamp assumiu, segundo o acordo, um investimento de 12 milhões de euros no grupo e uma dívida de 14 milhões.

Os restantes 10% do capital do grupo foram assumidos pelo grupo português Sugal, que se dedica à produção à base de tomate.

A Lusa tentou contactar a sede da empresa, em Benlhevai, sem sucesso.

HFI // ACG Lusa, Foto: António Pereira



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