O Conselho Disciplinar da secção regional do Norte da Ordem dos Médicos (OM) concluiu que o obstetra Pinto de Almeida, do Hospital de Chaves, actuou de forma negligente num caso que, em 1999, levou à morte de uma mulher de 30 anos. Por isso, sancionou-o a quatro anos de suspensão. Inconformado, o médio já recorreu da decisão, que considera \"aberrante\".

O Conselho Disciplinar da secção regional do Norte da Ordem dos Médicos aplicou uma pena de quatro anos de suspensão ao obstetra do Hospital de Chaves Pinto de Almeida, no âmbito de um processo de alegada negligência médica, que remonta a 1999. Mas o médico já recorreu da decisão da Ordem, pelo que a medida disciplinar só terá efeito findos todos os prazos de recurso possíveis. Por isso, por enquanto, o médico continua a exercer a sua profissão normalmente.

A decisão da OM foi comunicada ao obstetra no passado dia 30 de Dezembro e reporta-se a um processo desencadeado pela queixa da família de uma mulher de 30 anos que morreu por causa de uma infecção generalizada, fruto de uma gravidez que, segundo concluiu a Ordem dos Médicos, Pinto de Almeida não terá detectado.

Ana Maria Parada faleceu no Hospital de Santo António, no Porto, no dia 7 de Julho de 1999, vítima de uma septicémia (infecção generalizada), provocada por um feto morto. Mas a história da sua morte tem antecedentes no Hospital de Chaves. Segundo o que a sogra da vítima, Isabel Afonso, relatou ao Semanário TRANSMONTANO na altura, a gravidez de Ana Maria foi diagnosticada em Abril pelo médico Luís Artur, do Hospital de Chaves, que a terá encaminhado para o obstetra Pinto de Almeida. Na primeira ecografia que efectuou à mulher, este médico terá comprovado a existência da gravidez. Mas, no segundo exame do mesmo género, Pinto de Almeida terá dito à paciente que, afinal, não estava grávida. Posto isso, ter-lhe-á receitado uns comprimidos, alegadamente para que o período menstrual lhe baixasse. No entanto, como tal não aconteceu, Ana Maria ter-se-á deslocado ao hospital no dia 2 de Julho. Foi novamente atendida por Pinto de Almeida, que, depois de uma nova ecografia, lhe terá dito que detectara uma gravidez interrompida e, por isso, tê-la-á mandado regressar ao hospital no dia 5, para lhe fazer uma raspagem ao útero.

Só que no dia seguinte a esta intervenção, Ana Maria começou a ter muitas dores e febres altas, pelo que, nesse mesmo dia, foi submetida a uma operação de urgência, agora conduzida pelo médico Alexandre Carvalho, que substituía Pinto de Almeida. Segundo o relato deste médico, na altura a operação foi feita porque tanto ele como o cirurgião de serviço suspeitaram de uma perfuração no útero. Mas, segundo Alexandre Carvalho, o que encontrou foi um feto morto e infectado. No final da intervenção, Ana Maria foi enviada de imediato para o Hospital de Santo António, no Porto, onde voltou a ser operada pela segunda vez e onde acabou por falecer, vítima de uma infecção generalizada.

Médicos trocam acusações

Inconformada com a morte de Ana Maria, a sua família atribuiu culpas a Pinto de Almeida, que acusou de não ter detectado a gravidez. Mas este, alegando que tratou a senhora \"devidamente\", remeteu as responsabilidades para o colega Alexandre Carvalho, dizendo que a operação a que Ana Maria foi sujeita nunca deveria ter acontecido no Hospital de Chaves, mas sim no Porto. Por sua vez, Alexandre Carvalho culpou Pinto de Almeida do que aconteceu, referindo mesmo que este \"devia assumir os seus erros\".

Passados mais de três anos sobre o caso, a OM acabou por dar razão à família de Ana Maria e também ao médico Alexandre Carvalho, concluindo que a \"conduta negligente\" do médico Pinto de Almeida \"contribuiu para a morte da mulher\".

\"Deveríamos ser todos co-arguídos\"

O médico sancionado considera a decisão da Ordem \"aberrante\" e queixa-se de nunca ter sido ouvido pessoalmente. Conforme o Semanário TRANSMONTANO confirmou junto da OM, foram feitos vários contactos com o obstetra, mas sempre através de documentos escritos. Ainda segundo a Ordem, só as testemunhas foram ouvidas pessoalmente.

Pinto de Almeida contesta ainda o \"nexo de causalidade\" retirado pela Ordem entre os seus actos e a morte de uma pessoa, uma vez que \"houve intervenção de outros médicos\". O obstetra castigado com a suspensão diz mesmo que, como houve participação de vários clínicos, estes \"deveriam ser todos averiguados e entrarem no processo como co-arguídos\" e não apenas ele, como aconteceu. De facto, os restantes médicos intervenientes entraram no processo apenas como testemunhas. O que leva Pinto de Almeida a questionar: \"Se mandar construir uma casa e no final ela cair, o mais justo e sensato não será averiguar os dez trolhas que estiveram envolvidos na obra?\", pergunta Pinto de Almeida. \"No meu caso, não foi isso que aconteceu\", desabafa o médico, que pergunta \"Que justiça é esta?\".



PARTILHAR:

Avaria ainda só foi solucionada na zona sul

Amílcar Correia já tomou posse