O referendo local, agendado para domingo, sobre a reabertura ao trânsito automóvel da ponte romana, que é pedonal desde 2008, divide opiniões entre os comerciantes e moradores nas duas margens do rio Tâmega em Chaves.

Na freguesia de Santa Maria Maior, a mais populosa do concelho de Chaves, distrito de Vila Real, o ‘não’ na pergunta do referendo ‘Concorda com a reabertura da ponte romana de Chaves ao trânsito de veículos automóveis ligeiros, num único sentido?’ é a resposta que tem mais força.

Junto à ponte romana, mas ainda na margem norte, em pleno centro histórico da cidade transmontana, as esplanadas de cafés e restaurantes, bem como as pessoas, 'espalham-se' pela ponte e os comerciantes dizem claramente ‘não’ à reabertura ao trânsito.

Anabela Chaves, que investiu naquela zona com a abertura de um café e um restaurante, sente-se mesmo “indignada” com a realização de um referendo sobre esta matéria.

“Vários negócios abriram porque não havia trânsito. É impensável ter negócios aqui com carros a passarem”, defende.

Convicta em votar no ‘não’, a comerciante explica ainda que não será o trânsito automóvel a resolver os problemas dos comércios e empresas na freguesia da margem contrária.

“Fecharam instituições importantes, como o balcão de um banco, e a situação pode ser resolvida com a deslocação para lá de serviços públicos, por exemplo”, destaca.

Fátima Ventura, costureira com uma loja há 18 anos na ponte, recorda-se dos tempos em que havia circulação automóvel e é também contra a reabertura ao trânsito.

“É perigoso para as pessoas e a ponte está melhor assim, com turistas e flavienses a circularem à vontade”, realça.

Maria Alves, atualmente a viver num prédio junto à ponte romana, e após também ter tido um comércio naquele local, também reforça o ‘não’ sobre o referendo.

“Não havia necessidade em gastar dinheiro. A ponte está muito bem assim sem carros. Quando havia trânsito cheguei a ser atropelada e gosto muito mais desta situação atual”, sublinha.

As opiniões são diferentes ao atravessar a ponte para sul até à união de freguesias da Madalena/Samaiões, uma zona onde se encontra o marco que assinala o quilómetro zero da Estrada Nacional 2 e o jardim público da cidade.

Os comerciantes daquela freguesia nas ruas envolventes à ponte romana veem com bons olhos a possibilidade da reabertura daquele monumento nacional ao trânsito automóvel, algo que desde 2008 não acontece.

Há 47 anos funcionário de lojas de ferragens naquela freguesia, José Martins explica que, caso ganhasse o ‘sim’ no referendo, a Madalena e os comerciantes teriam a ganhar.

“Desde que fechou o trânsito na ponte que se nota a diferença. Junto à ponte a farmácia mudou-se, o talho fechou e há outros negócios a saírem desta zona”, conta à agência Lusa.

José Martins defende também que o trânsito automóvel não compromete a ponte, pois a pedra atualmente existente “é mais pesada que o peso dos carros”, mas antecipa uma vitória do ‘não’.

Também à espera do mesmo desfecho, Pedro Teixeira, que tem uma barbearia junto à ponte, elogia o referendo e reconhece quem são os comerciantes da Madalena que têm mais a ganhar.

“A abertura seria uma mais-valia para esta zona, para chegarem mais clientes, mas acho que haverá pouca participação, alguns habitantes nem sabem da sua existência”, aponta.

Não é o caso de António Teixeira, morador na Madalena desde os 12 anos e atualmente com 72. A par do referendo, o flaviense recorda os muitos anos de trânsito na ponte romana, reconhece que o comércio daquela freguesia perdeu com o encerramento e que toda aquela zona perdeu movimento.

No entanto, António Teixeira não manifesta qual será a sua intenção de voto, garantindo, ainda assim, que no domingo se deslocará à sua mesa de voto para exercer o “dever cívico”.

O número total de eleitores do concelho de Chaves, que podem votar no referendo local em 13 de setembro é de 43.233, disse à agência Lusa fonte da autarquia.

A proposta para a realização do referendo em Chaves, apresentada pelo executivo liderado por Nuno Vaz e aprovada em reunião de câmara em 22 de junho, foi também aprovada em Assembleia Municipal de Chaves e validada pelo Tribunal Constitucional.

Disponível no sítio oficial na Internet da autarquia de Chaves, o relatório da inspeção realizada refere que "a ponte já foi utilizada como via rodoviária e não são evidentes consequências estruturais relevantes que resultem desta situação".

O documento aponta que, do "ponto de vista estrutural, a utilização atual é a ideal, visto que não existem sobrecargas significativas sobre a estrutura, nem outros efeitos colaterais associados à passagem de tráfego, tal como vibrações e forças horizontais associadas à travagem dos veículos em cima da plataforma viária".

O presidente da Câmara de Chaves disse à agência Lusa que o compromisso para realizar o referendo surgiu na campanha eleitoral de 2017 e que não se irá pronunciar sobre a sua intenção de voto - para "não influenciar nenhuma das decisões" - e apelou à participação dos cidadãos de todo o concelho.



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