Decorreram no sábado em Podence, Casa do Careto, as Jornadas Culturais “Porque se fazem as Festas?”, sob o tema “Festividades do Entrudo”, organizadas pela Progestur e Fundação Inatel, com a parceira da Universidade Lusófona, Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, Centro de Música Sons da Terra e Associação de Caretos de Podence.

As jornadas iniciaram-se com um painel composto por Patrícia Cordeiro, Roberto Afonso e Rui Madureira, moderado por Hélder Ferreira, no qual foram abordados aspetos da temática dos caretos e do entrudo chocalheiro a caminho do reconhecimento da UNESCO.

Patrícia Cordeiro, deu-nos uma visão do trabalho elaborado que permitiu a candidatura e de como as tradições dos caretos se mantiveram intactas e genuínas apesar da modernidade dos dias que correm e de como elas sobreviveram à emigração dos anos 60 e 70, do século passado, que deixaram os caretos apenas com três membros, e de como eles renasceram até aos dias de hoje em que são o orgulho de uma aldeia e um povo que regressa à aldeia das terras de emigração, para vestir o fato dos caretos e se transformar na magia do carnaval. Durante o ano a aldeia tem cerca de 180 habitantes, no carnaval, chega a ter 400 habitantes, 80 deles vestem o fato de careto para receber os milhares de pessoas que ali acorrem.

Roberto Afonso, também ele “máscaro”, centrou a sua reflexão nas festas do concelho de Vinhais, Entrudo de Lagarelhos, Vila Boa de Ousilhão, Edrosa, Dia da Morte e dos Diabos de Vinhais (Quarta-feira de Cinzas) e no evento que ele próprio ajudou a lançar com “Mil Diabos à Solta!” em Vinhais. Como a tradição se mantém e evoluiu também ela numa época de globalização. Como se pode transformar estas festas em marcas que ajudem a combater a desertificação e valorizar das mais diversas formas as nossas aldeias.

Rui Madureira, falou-nos do “ócio e do negócio”, em como o ócio pode dar cada vez mais algum negócio por forma a ele próprio ajudar a manter as tradições, pois sem pessoas não há máscaras por falta de gente para as usar, mas também, para manter a tradição de abrir as portas para receber os grupos que ainda resistem, nomeadamente em Vila Boa de Ousilhão, terra onde a tradição ainda é das mais bonitas e genuínas de todos os caretos que ali recebem o nome de “máscaros”. Dia 25 e 26 de dezembro, a aldeia vive a tradição, os 7 bairros quase despovoados acolhem em suas casas o rei e seus vassalos, acompanhados pelos caretos e tamborileiros, recolhendo donativos para a festa, a maior parte das vezes fumeiro do bô.

Hélder Ferreira, tem uma opinião otimista e garante que o reconhecimento pela UNESCO, dos Caretos de Podence, "tem que ser uma mais valia para desenvolver o território, havendo pessoas, há entrudo, há rituais, há caretos e a tradição mantem-se".

" No segundo painel da tarde, Carlos Magno e José Fialho, foram sobretudo desafiadores e não se esperava outra coisa, moderados por Francisco Marcelino, presidente da Fundação Inatel. Carlos Magno, é um orador nato, não teme a massificação do reconhecimento da UNESCO, depois do “careto” Marcelo, já tudo é possível, porque já está assimilada pela população e ao mesmo tempo porque é organizada através da sua Associação que põe limites e orienta no sentido da manter a genuinidade e as tradições a cada ano.

Carlos Magno, falou dos tempos de criança e juventude em Trás-os-Montes e do apelo que sente, do orgulho que tem em se afirmar transmontano e em como se sente influenciado por estas figuras mágicas, terminando a dizer “que o faço aqui?  é vir à minha terra”.

José Fialho, falamos do homem, das festas e do culto ao longo da história, somos seres que adoramos as festas, “adoramos qualquer coisa, os nossos deuses, os nossos diabos”.

José Marcelino não teme a globalização, disse que “quando as culturas são fortes, resistem. No caso dos caretos de Podence, tem uma vivência cultural muito vivida, está enraizada nas pessoas, portanto está pujante”.

Foto: António Pereira

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Em baixo podemos ver e ouvir a intervenção de Carlos Magno gravada em video com o telemóvel. 

 


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