A Câmara Municipal de Chaves suspendeu hoje a venda em hasta pública da escola de Lamadarcos, após um protesto popular, e pretende agora que a junta de freguesia faça uma auscultação junto da população antes de tomar nova decisão.

"Quisemos ouvir a população e foi feita uma reunião com representantes. Em resultado disso, entendemos que não havia condições para vender a escola, suspendemos a venda e vamos ouvir novamente a junta de freguesia para perceber, em face a estes desenvolvimentos, o que se propõe fazer", referiu o presidente da Câmara de Chaves, Nuno Vaz.

A venda em hasta pública do edifício da antiga escola primária de Lamadarcos, no concelho de Chaves, marcada para hoje de manhã, foi suspensa após o protesto junto da autarquia protagonizado por cerca de cem populares da localidade do distrito de Vila Real.

Manifestando surpresa pelo protesto popular, Nuno Vaz referiu que apesar das decisões deverem ser "tomadas por quem tem legitimidade para o fazer, a câmara e a junta de freguesia", não quis "fazer ouvidos moucos" perante o protesto.

"A vontade do povo é muito importante porque queremos acrescentar e não diminuir, queremos criar mais condições para a população de Lamadarcos e não retirar-lhe algo que já tenham", vincou.

A autarquia quer agora ouvir novamente a junta de freguesia acerca da "sua posição sobre esta matéria", por ser o órgão que "representa a população", mas entende que esta discussão deve "suscitar a intervenção do povo no seu conjunto".

Para Nuno Vaz, uma das hipóteses em cima da mesa "é uma auscultação à população, ainda que informal, mas onde apenas poderão participar pessoas recenseadas na freguesia".

"Em resultado disso, faremos nova reunião e tomaremos nova decisão, sendo certo que sobre estas matérias a competência é da câmara municipal", referiu.

O autarca socialista explicou que tal como em casos semelhantes, a venda de edifícios pertencentes ao município de Chaves, maioritariamente antigas escolas primárias, tem sido feita em articulação com as juntas de freguesia e o valor resultante da venda tem sido aplicado na totalidade na localidade do edifício vendido, por vezes "acrescentado com investimento do município".

No caso de Lamadarcos, o objetivo da venda passa por requalificar um edifício pré-existente, junto à antiga escola, que serviu como casa paroquial, e fazer um "centro cívico, com mais dignidade, mais atividades e mais potencialidades para os cidadãos".

A suspensão da venda da antiga escola em hasta pública foi vista como uma vitória por parte dos representantes da população que reuniram com o presidente da autarquia flaviense.

"Ficamos muito contentes com a decisão, pois são os nossos bens e temos pessoas revoltadas por verem a escola à venda após tantos anos de trabalho e por tantas memórias criadas", assinalou José Abreu.

O também presidente da Associação Rota dos Contrabandistas, de Lamadarcos, instituição que tem sede precisamente no edifício da antiga escola desde 2009, ano da sua criação, garante que a população está unida e que há condições para a "concretização de vários projetos".

A vontade da associação é procurar uma junção entre o edifício da antiga escola e a antiga casa paroquial, para o funcionamento da colectividade e criação de um local de lazer e até de prestação de cuidados à população mais idosa.

Também Aurora Abreu, natural de Lamadarcos, mostrou satisfação pela "vontade do povo ter sido ouvida" pela autarquia, depois de uma assembleia da junta de freguesia de Lamadarcos, onde, apesar dos protestos, a decisão de vender a escola foi votada favoravelmente.

"A 21 de julho o povo marcou presença na assembleia da junta de freguesia, manifestando-se contra a venda, mas a votação foi avante", referiu.

Sendo uma das manifestantes presentes no protesto junto à Câmara Municipal de Chaves, Aurora Abreu considerou que a escola representa "memórias para várias gerações que aprenderam tudo o que sabem naquele edifício" e que esta deve ser "da aldeia e da população".

A Lusa tentou ouvir o presidente da junta de freguesia de Lamadarcos, João Ramos Duro, mas este não se mostrou disponível para prestar declarações.

Foto: Cristina Borges



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