O presidente do Conselho de Administração do Matadouro no Cachão, Manuel Rodrigues, alertou hoje que uma paragem forçada por falta de inspetores sanitários pode pôr em causa a sobrevivência da maior estrutura de abate de Trás-os-Montes.

"Não tem cabimento uma situação destas", declarou à Lusa o administrador, em reação à notificação da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) para deixarem de receber animais para abate a partir de 12 de outubro por impossibilidade de manter o serviço de inspeção sanitária.

O matadouro do Cachão abate uma média de quase 3.000 animais por mês, entre bovinos, suínos e pequenos ruminantes, com um volume de negócios entre "70 e 80 mil euros" que não podem ser realizados sem as inspeções sanitárias asseguradas pelo organismo governamental.

"O matadouro do Cachão não tem liquidez para sobreviver uma ou duas semanas fechado. Isso põe em causa a capacidade de sobrevivência do matadouro", afirmou o administrador, sublinhando "o esforço que tem sido feito para equilibrar as contas" deste equipamento instalado no antigo complexo do Cachão e com as Câmaras de Mirandela e Vila Flor como acionistas.

O matadouro do Cachão tem 21 funcionários e prestas de serviços de abate a produtores de todo Trás-os-Montes que ficam sem resposta na região se, a partir de quarta-feira não houver inspeções sanitárias por falta de recursos humanos.

"É também uma dificuldade para os produtores. O matadouro mais próximo seria o de Penafiel", indicou Manuel Rodrigues, sublinhando a distância que seriam obrigados a percorrer para poderem abater os animais e manterem a atividade económica.

O administrador reclama "uma solução urgente" para o problema, vincando que tem de ser a DGAV "a apontar o caminho", nem que seja com recurso aos veterinários municipais.

"Se o matadouro parar, fechamos a porta. Tem de se arranjar uma solução", reclamou também o presidente da Câmara de Mirandela, António Branco.

O autarca social-democrata disse à Lusa que "é a primeira vez" que se deparam com esta situação, apesar de já ter havido "falhas de um dia" ou situações idênticas, mas "nunca aconteceu a DGAV dar ordem para não receberem animais nos termos da recente notificação.

Também Américo Pereira, presidente da Câmara de Vinhais, a maior acionista do matadouro deste concelho do distrito de Bragança, confirmou à Lusa ter recebido a mesma notificação da DGAV.

O autarca socialista afirmou que "já não é a primeira vez" e, por isso, mostrou-se convicto de que é "uma situação que vai resolver-se".

"De vez em quando somos avisados de que pode haver falhas e acaba por resolver-se a situação. Nunca estivemos parados", disse.

O presidente da Câmara de Vinhais indicou que as soluções têm aparecido "graças à colaboração de todas as entidades envolvidas, nomeadamente os inspetores".

Apesar de reconhecer que há falta de profissionais, o autarca criticou o que considera contribuir para agravar o problema: "os veterinários e os técnicos do Ministério da Agricultura deviam ser pessoas de terreno, mas são pessoas de gabinetes".

Os matadouros transmontanos foram notificados para a partir do dia 12 de outubro deixarem de receber animais "por impossibilidade" de a Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) "manter o serviço de inspeção veterinária".

No documento com a classificação de "muito urgente" a que hoje a Lusa teve hoje acesso, datado de 04 de outubro, a Direção de Serviços de Alimentação e Veterinária da Região Norte (DSAVRN) notifica os matadouros de que "atendendo às insuperáveis dificuldades com recursos humanos, não deverão admitir animais a partir de 12 de outubro, inclusive".

A comunicação sublinha as dificuldades "especialmente de inspetores sanitários" atribuídas a "baixas por motivos de saúde de alguns técnicos" que impossibilitam manter "ao serviço, a partir do próximo dia 12 de outubro, seis inspetores" que realizam as inspeções sanitárias na região de Trás-os-Montes.
Lusa



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