Susana Novo, atleta da Associação Mirandelense de Artes Orientais (AMAO), detentora da medalha de ouro no Campeonato do Mundo de Pankration, revela em entrevista ao Diário de Trás-os-Montes o segredo do seu sucesso na prática desta modalidade. Um verdadeiro exemplo de determinação e luta que eleva o nome de Trás-os-Montes e Portugal.

 

O que é o Pankration para ti?

A palava pankration é, em inglês, a palavra grega pankratos que contem a junção das outras palavras gregas, pan e kratos que significa todos os poderes ou todo-poderoso. É um desporto de combate de origem grega que nasceu muitos séculos antes de Cristo. O Pankration entrou nos jogos Olímpicos antigos em 648 a.c. O Pankration foi a base do sistema militar de Esparta, o melhor exército de então. O seu sistema de treino e combate foi utilizado pelos gladiadores romanos. É um desporto de combate dos mais completos e eficientes que existe.

Eu Já praticava Kung-Fu, quando no ano 2000, o meu pai, Mestre Jesus Novo, trouxe o Pankration para Portugal. É um sistema de luta que engloba todos os sistemas de combate como o kung-fu, Karate ou  kick boxing já que possui técnicas de combate em pé. Combina também sistemas como o de Judo ou Shuai Jiao já que utiliza técnicas de projeções, luxações e estrangulamentos. O combate também se desenrola no chão, com técnicas tipo Ju jitsu ou grappling.

Como atleta desta modalidade estou preparada para competir em qualquer outra arte de combate já que o Pankration é um todo e não uma parte do combate.

Como foi a escolha deste desporto e quais as tuas influências desportivas?

Sendo já praticante de Kung-fu há vários anos, tive a sorte de que o meu pai tenha trazido para Portugal esta milenar modalidade que engloba todas as outras. Foi amor à primeira vista. Quando comecei a praticar esta nova modalidade, compreendi que era muito mais completa e eficiente do que qualquer outra que tinha visto e foi com entusiasmo que me dediquei a ela.

A principal influência foi sem dúvida o meu pai. Graças a ele pude conhecer e praticar esta excelente modalidade de combate e evoluir até ao que sou hoje. Na nossa associação sempre se fez tudo para aprender com os melhores mestres do mundo que são, por vezes, convidados a vir a Mirandela, embora tenhamos no nosso Mestre, um dos Mestre mais graduados do Mundo na modalidade.(9º Dan)

Quais as maiores dificuldades de quem pratica Pankration a nível competitivo?

Em primeiro, o Pankration sendo muito completo é muito difícil de aprender pela grande variedade de possibilidades técnicas. Esta é a primeira dificuldade, o processo de aprendizagem desta modalidade que é muito completa e complexa.

Depois das técnicas treinadas e conhecidas, vem a fase de preparação para a competição que exige de nós disciplina, determinação e perseverança. Complementando com uma alimentação equilibrada, vida sadia e muito apoio familiar já que os treinos são constantes e a nossa presença no seio familiar é menos regular.

Um outro grande problema é conciliar os treinos com o trabalho, já que em Portugal somos todos amadores, não tenho prémios monetários e estamos a competir com atletas que são muitas vezes profissionais. Não recebemos incentivos monetários mas recebemos outros valores como ultrapassar limites que achávamos impossíveis, desafiarmos esses limites e triunfarmos com trabalho e dedicação. São lições e ensinamentos que ficam para a vida.

Em que momento pensaste que podias praticar o Pankration e poder lutar por medalhas e troféus?

Quando comecei a competir em Portugal era ainda muito jovem e obtive bons resultados. Depois comecei a nível internacional mas a coisa não era fácil pois em termos competitivos era extremamente exigente e com outro nível de dificuldade. Quando não se sabe para o que se vai tudo mete medo: o estarmos noutro país, com pessoas diferentes, outras línguas, costumes, climas, aromas…tudo.

É preciso ter uma força interior enorme para se entrar na palestra (recinto de treino) frente a uma pessoa que não conhecemos. Nunca sabemos ao certo o que nos espera mas com o tempo e a prática aprendemos a lidar com tudo isso. Criamos e desenvolvemos uma barreira mental em que isso deixa de nos afetar emocionalmente.

O momento que me fez pensar em medalhas foi quando no torneio de Mirandela, em 2007, defrontei a Olga Krilova, atleta russa, detentora do título Mundial vários anos, em que eu perdi por decisão de dois juízes contra um. Estive, por exemplo, também no Mundial da Albânia em 2008 e competi com a atleta que foi Campeã do mundo e que me ganhou por diferença mínima.

Comecei a sentir que as outras atletas só seriam melhores do que eu, se eu o permitisse. Estava no patamar delas e poderia estar melhor ainda. É um trabalho físico mas muito mental também. Quando comecei a dominar a técnica, a sentir-me tranquila frente a qualquer adversária, quando comecei a dominar os meus sentimentos e isto tudo fez parte de um processo de preparação e evolução.

A vida, as competições e situações adversas preparam o atleta. Na preparação para este campeonato, eu comecei por decidir que o ouro seria meu e lutei por isso com todas as forças. Eu acreditava mesmo que ganharia.

O que sentiste quando ganhaste o título mundial?

Senti-me feliz, por mim, pelo meu Pai “Mestre”, pela minha mãe, pelo meu filho e pelos meus irmãos, também eles praticantes brilhantes desta modalidade milenar.

Senti-me orgulhosa de mim mesma e de todos os que estiveram por trás de mim. Toda uma equipa que me acompanha e apoia nos bons e maus momentos, dos meus colegas de treino que tanto me ajudara.

Este apoio e alegria vindo do meu pilar familiar, dos patrocinadores e todos os Mirandelenses que me manifestam o apoio nas ruas e nas redes sociais foi muito gratificante após esta vitória que também é deles. Dever cumprido na luta por uma causa. O meu treino durante os 3 meses de preparação para o Mundial não foi para menos de que para a medalha de ouro.

Quais os teus objetivos desportivos após ter atingido um patamar tão elevado?

Continuar a divulgar este desporto que eu tanto amo e mostrar que Portugal tem atletas de excelência nos desportos de combate.

Lutar sempre que isso me seja proporcionado e conseguir mais medalhas para o meu pai, Mirandela e Portugal.

Aconselhas este desporto para quem deseja iniciar uma prática desportiva?

Sim, é um sistema de luta muito completo, não só em termos físicos mas também psicológicos. É uma aprendizagem para toda a vida, onde se formam guerreiros, pessoas humildes, de respeito e de caracter.

Qualquer sistema de combate é uma aprendizagem importante para se defrontar todas as lutas do dia-a-dia mas o Pankration é mais do que isso. É luta, é boxe, é kick-boxing e é trabalho de chão. Nada é mais completo e compensador que este desporto que sem ser violento ou, pelo menos, não mais violento que o futebol ou natação.

Como é a Susana Novo fora da competição?

Considero-me uma pessoa que gosta de usufruir da família, do meu filho Gabriel, que gosta de estar com os amigos, sair (quando é possível), que detesta que lhe barrem os caminhos, que gosta de abrir portas fechadas, detesto injustiças e mentiras. Sou determinada quando quero conseguir algo. Sou sempre 80. Nunca 8. Esta é a Susana fora das competições. Considero-me uma pessoa normal como qualquer outra.

 

Para mais informações sobre esta modalidade e a AMAO consulte em: www.facebook.com/pg/amao.mirandela



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