Há quase trinta anos que uma escola profissional de música abriu um novo ciclo cultural a partir de Mirandela, formando novos músicos de todo Trás-os-Montes e garantindo à população da região acesso às grandes obras musicais.

A Esproarte faz parte da rede nacional de escolas de ensino especializado da música e é apontada como “singular e inovadora” por permitir a igualdade de acesso à elite da música clássica tanto aos que sonham tornar-se profissionais como ao público da região.

A escola acolhe alunos dos 11 aos 18 anos que, ao mesmo tempo que aprendem música e a tocar instrumentos, estudam como aqueles que frequentam o ensino regular e podem obter grau equivalente ao terceiro ciclo (7º, 8º e 9º) e secundário.

Os cursos são financiados pelo Fundo Social Europeu e a maioria dos alunos são de fora de Mirandela, de outras zonas de Trás-os-Montes, e são acolhidos numa residência suportada pela Câmara Municipal, principal parceira do projeto.

Os números oficiais indicam que a conclusão dos ciclos por parte dos alunos ultrapassa os 80%, com alguns anos a atingir os 100%. A Esproarte já deu também origem a um curso superior técnico no Instituto Politécnico de Bragança (IPB) que permite prosseguir estudos àqueles que não tiverem entrada imediata numa licenciatura.

A capacidade de 168 alunos está sempre lotada e, não fosse esta escola, teriam de se deslocar para o litoral para estudar música ou nunca o fariam pelos custos financeiros que as famílias não podem suportar, como sublinhou à Lusa o responsável José Francisco.

O professor violoncelista é minhoto e radicou-se em Mirandela há 21 anos graças à Esproarte que já formou centenas de músicos espalhados por orquestras nacionais e estrangeiras, desde a Alemanha a Espanha, ou a prosseguir os estudos em universidades de países como a Holanda.

É o caso de Edgar Milhões, bisneto do conhecido soldado Milhões.

Os rostos dos alunos estão espalhados pelos corredores da escola e na capa dos CD que já gravaram, quatro concretamente.

Além da atividade curricular, os alunos realizam atuações pela região, com diferentes formações e levam a música clássica ou a experiência de ouvir uma orquestra sinfónica aos lugares mais recônditos, nomeadamente às aldeias.

“Quem tem garantido esse cartaz são os meninos de Freixo de Espada à Cinta, Vila Flor, Bragança, Torre de Moncorvo, Murça, etc, que frequentam a escola”, enfatizou o professor.

Uma vez por ano têm eles também novas experiências, atuando com músicos de renome nacional como Boss AC, Sofia Escobar ou Cuca Roseta.

A escola é uma instituição sem fins lucrativos propriedade da ARTEMIR- Associação de Ensino Profissional Artístico.

O projeto atraiu o músico espanhol Óscar Lobeti, que, aos 43 anos mudou-se para Mirandela.

Soube que havia um lugar de pianista acompanhante, foi conhecer a escola e ficou “apaixonado pelos alunos”.

“Têm muita vontade, é um conceito diferente de Espanha, em Espanha não existe uma escola onde aprendam matemática e ao mesmo tempo um instrumento e a mim surpreendeu-me, agradou-me”, contou à Lusa.

Encontrou ali “realização profissional, paz, qualidade de via e tranquilidade”.

A Esproarte tem também chamado à terra ex-alunos que, depois da formação superior, regressaram para integrar o quadro docente como Andreia Garcia, que aprendeu ali a tocar violino e agora ensina formação musical.

“Isto é mais do que uma escola, é uma casa que os acolhe e que tenta fazer deles pessoas, acima de tudo, bem formadas e preparadas para a vida”, observou.

Liberdade é o que sente quando toca piano Daniel João, um dos mais novos alunos, que chegou este ano de Miranda do Douro.

Aos 11 anos dizem que é uma “promessa” e foi para a Esproarte aconselhado por um ex-aluno conterrâneo, que faz da música uma forma de vida, apesar de não ter prosseguido estudos para o Ensino Superior.

Esta foi “uma oportunidade única” para Matilde Cepeda, de Mirandela, que quer seguir canto e violoncelo.

“A música junta as pessoas” é a experiência que tem tido Lara Fernandes, aprendiz de violino.

Beatriz Oliveira, de Murça, entrou com onze anos, fez todo o percurso na escola e está a fazer o curso técnico no ensino superior. Gostava “mais de ser uma grande flautista do que propriamente ensinar”, no futuro.

Joni Figueiredo sonha em conquistar os palcos internacionais com o fagote e Maria Barreira deixou o 11º no ensino regular de Vinhais para recomeçar no décimo assim que teve a oportunidade de entrar na Esproarte.

Diogo Mendes toca flauta transversal e foi para Mirandela para aprender música porque em Macedo de Cavaleiros só o podia fazer até ao sétimo ano.

Em quase 30 anos, a escola sempre teve instalações provisórias, uma realidade que parece prestes a mudar.

A presidente da Câmara, Júlia Rodrigues, que é presidente da escola por inerência, adiantou à Lusa que deu início ao projeto para instalar a Esproarte na antiga escola superior Jean Piaget.

Será necessário realizar obras ao nível da acústica, um projeto que está em preparação.

“No próximo ano letivo é impossível, mas no seguinte esperamos ter já o espaço pronto, mesmo que para isso tenha de haver um esforço financeiro a nível municipal”, vincou.



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