As doenças da tinta e do cancro afectaram, nas últimas décadas, entre 10 a 15% da área de castanheiro em Trás-os-Montes e Alto Douro, região responsável por 85% da produção nacional de castanha.

Numa altura em que, segundo o investigador da universidade de Vila Real Carlos Abreu, as doenças «não estão em recessão», verifica-se a necessidade de criar mais indústria de transformação da castanha para acrescentar valor ao produto.

Para debater os problemas que afectam o castanheiro, tais como as doenças da tinta e o cancro, ou a falta de indústria de transformação da castanha, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) promove, entre quarta e sexta-feira, o II Congresso Ibérico do Castanheiro.

A região de Trás-os-Montes e Alto Douro é responsável por 85% da produção nacional de castanha que se estende por uma área de cerca de 30 mil hectares.

A produção de castanha ocupa 17% da exportação de frutos e representa um volume de negócios de cerca de 10 milhões de euros, em Portugal.

Devido às alterações climáticas e ao emprego de técnicas de cultura menos adequadas, o castanheiro manifesta actualmente uma preocupante fragilidade que se tem reflectido em baixas produções e na crescente expansão de doenças que lhe estão associadas.

Segundo dados da Direcção Regional de Agricultura e Pescas de Trás-os-Montes (DRAPTM), cerca de 10 a 15% dos 24 hectares de souto existentes na região transmontana foram infectados nas últimas décadas.

Dulce Anastácio, técnica da DRAPTM, disse à agência Lusa que o homem pode ser considerado como «o principal responsável» pelo alastramento em função do seu desconhecimento sobre algumas operações culturais, como as podas, ou pela disseminação de material vegetativo infectado.

O cancro é uma doença que aparece nos ramos e troncos das árvores, enquanto que a tinta apodrece a raiz do castanheiro.

Dulce Anastácio referiu que o tratamento destas doenças com químicos «não se tem revelado eficaz», pelo que agora se pretende apostar noutras técnicas, nomeadamente recorrer à plantação de porta-enxertos - designadamente, do souto francês - que se revelou mais resistente à tinta, ou fazer a «micorrização» das pequenas árvores, ou seja, introduzir micorrizos ou fungos nos excertos que vão servir de protecção para os fungos patogénicos.

O investigador da UTAD, Carlos Abreu, disse à Lusa que as doenças «não estão em recessão», mas considera que, neste momento, há «mais conhecimento e uma atitude mais preventiva» por parte dos agricultores.

Exemplificou com a realização de acções de sensibilização, como a que vai ser promovida terça-feira, em Viseu, pelos serviços de agricultura da Beira e que conta com a participação de investigadores da universidade de Vila Real.

Carlos Abreu disse ainda que, na região transmontana, existem apenas duas grandes empresas de transformação de castanhas e defendeu a necessidade de criar mais indústrias do género com o objectivo de «acrescentar valor a este produto».

O investigador referiu a produção de farinha de castanha ou, em associação com empresas da Galiza mais experientes neste sector, uma aposta em produtos mais «sofisticados» como os bombons cozinhados pelos turcos.

A Sortegel, situada a poucos quilómetros de Bragança, é actualmente uma das unidades de referência, a nível europeu, na transformação e exportação de castanha.

Com uma laboração anual de cerca de 10.000 toneladas, a empresa comercializa os seus produtos nos principais mercados mundiais, sendo que 25% da sua produção se destina à comercialização em fresco e os restantes 75% ao descasque e congelação.

Participam no Congresso Ibérico do Castanheiro investigadores gregos, suíços, espanhóis e portugueses, directores de empresas de transformação da castanha e autarcas dos concelhos onde a castanha é um produto económico de referência.



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