Depois da GNR ter identificado a dona do felino que foi usado este ano na Festa de S. João em Mourão, Vila Flor, a mulher foi agora constituída arguida no caso “Queima do gato”. Com 80 anos, Aida Alves será a única a enfrentar a justiça, uma vez que a GNR não foi capaz de identificar quaisquer outros participantes presentes naquela noite.

Apesar da sua origem ser desconhecida, a suposta tradição consiste em pendurar um pote de barro preso com uma corda ao alto de um poste envolto em palha no largo da aldeia. No interior do pote, os aldeões metem um gato. À meia-noite em ponto, alguém pega fogo à palha que vai ardendo até atingir a corda que segura o pote. Com o calor, a corda cede e o pote cai ao chão partindo-se. O gato, depois de lentamente cozinhado, foge em pânico, ainda com o pelo em chamas e desaparece por entre a população, como é possível visionar no vídeo que foi parar às redes sociais.

"Nunca morreu nenhum gato e este está bem, a GNR já o veio ver", defendeu a octogenária, na altura, à Agência Lusa, encarando como "ridícula" toda a polémica criada em torno do caso. Isto porque, alguém que estava a assistir gravou tudo com um telemóvel e postou o vídeo nas redes sociais. Depois de carregado na internet, o vídeo tornou-se viral e daí até à repulsa e à revolta foi um passo imediato com várias queixas em tribunal apresentadas por diferentes associações defensoras dos direitos dos animais.

Uma das denúncias foi levada a cabo pelo Movimento Internacional em Defesa dos Animais (MIDAS), que apelou ao fim de uma prática que se baseia na morte lenta e dolorosa de um animal e que, supostamente, é um costume praticado nas festas daquela região há vários anos.

Também no final do mês de junho, o Partido dos Animais e da Natureza (PAN) avançou com uma queixa-crime contra o município e contra a dona do animal em questão. Em comunicado, o PAN pugna que o município que tinha a seu cargo a organização desta iniciativa “"tem responsabilidade sobre o ato bárbaro que se praticou contra o animal em plena praça pública", acrescentando que iria prosseguir com o mesmo procedimento contra a dona do animal, "que aparentemente consentiu na sua utilização para estes fins".

Com 80 anos, Aida Alves garantiu que esta tradição existe desde sempre associada às festas de São João e que "há três ou quatro anos que é (usado) o mesmo gato".

Após a divulgação do vídeo nas redes sociais, este caso gerou uma onda de indignação tão avassaladora, que motivou também várias denúncias por parte de particulares no posto da GNR de Vila Flor que deram origem a um inquérito judicial em curso no tribunal local.

Também a associação de defesa dos animais Grupo Gatos Urbanos avançou com uma queixa-crime no Departamento de Investigação e Ação Penal, constituindo-se como assistente do processo "com o objetivo de levar à justiça os responsáveis e cúmplices e para que esta bárbara e vergonhosa prática não se repita mais".

É caso para dizer que a este gato não faltaram amigos.

 



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