A aldeia de Arcas, em Macedo de Cavaleiros, está a revitalizar a tradição das ‘Galhofas’, as Festas dos Rapazes com máscara da localidade, que sinalizavam o ritual de passagem para a vida adulta e que estiveram um século sem acontecer.

Nos dias 22 e 23, numa antecipação da data destas festas, a aldeia acolhe a primeira edição do Galhofa - Festival do Solstício de Inverno e dos Caretos, para envolver a comunidade e dedicado à música tradicional, disse à Lusa Nelson Peixeiro, do Núcleo de Costumes e Tradições de Arcas, que organiza o evento.

“Dia 23 vamos ter ainda um encontro de mascarados. Contamos com pelo menos 20 grupos, também de Espanha”, adiantou ainda Nelson Peixeiro.

O cartaz musical é composto pelos mirandeses Galandum Galundaina, pelos Xukalhos e pelos Zíngarus, transmontanos que tocam folk rock.

Já as festas propriamente ditas, em honra de Santo Estêvão, são a 25 e 26, onde os rapazes saem à rua escondidos em máscaras de couro e fatos de lã onde predomina a cor vermelha.

As festas começam com a Missa do Galo, à meia-noite do 25, onde é feito o cantar dos homens, feito em latim e a três vozes por anciãos da aldeia.

Depois, saem à rua os caretos e começam as ‘Galhofas’. Os mascarados são desafiados pelos ‘agarrantes’ - as homens sem máscara - para a galhofa, uma luta tradicional transmontana “Ganhar a um careto também era antigamente mostrar a virilidade”, explicou Nelson, porque o careto gozava de um estatuto superior, com a força e o misticismo associados à máscara.

Na tarde do dia de Natal, vão de casa em casa pela freguesia recolher vinho e mel, para o adoçar. Há de ser distribuído por todos no final da festa, em potes de ferro e aquecido à fogueira.

Esse final acontece dia 26 à tarde, com o arremate do charolo, composto por várias roscas (pão doce) empilhadas, adornado e transportado pelos caretos. O dinheiro angariado fica para as festividades do próximo ano.

Desde 2019 estão a revitalizar a festa que, nas contas de Nelson, esteve sem se realizar durante cerca de 100 anos.

“Porque tentámos recolher vários testemunhos, de pessoas que já têm 80, 85 anos, e elas praticamente já não se lembram. Lembram-se do que os pais lhes diziam”, contou à Lusa.

Não havendo registos das ‘Galhofas’, Nelson explicou que foram fazendo novos fatos, baseados nos restantes rituais da região. “Só que depois as pessoas disseram-nos ’não era assim’, As franjas eram as próprias mantas de lã que compõem o fato”, acrescentou Nelson. Na maioria, “mais a dar para o vermelho e para as cores escuras de inverno”.

Já foram a Itália e a Espanha participar em festivais alusivos à máscara, para mostrar a tradição. Nessas saídas, têm levado “7 ou 8 caretos”, porque não tinham muitos fatos.

Agora já têm 12, e esperam que tenham todos uso. “Também aproveitamos os emigrantes, que já no ano passado vieram e quiseram vestir-se de caretos. E já disseram que vêm ao Natal, para a festa”, partilhou Nelson.

O grupo integra pelo menos 5 crianças, entre os 10 e os 12 anos, às quais querem passar “o enraizamento da tradição, para que não se perca mesmo”, concluiu Nelson Peixeiro.

As Festas dos Rapazes, também conhecidas como Festas de Santo Estêvão, começam em Trás-os-Montes em dezembro e estendem-se até ao carnaval. 

Texto: Lusa, Foto de capa : Mercedes Vazquez Saavedra



Foto: António Pereira




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