Grande Entrevista:
Diário de Trás-os-Montes (DTM): De acordo com informação recolhida por entre os seus subordinados na preparação desta entrevista, denotei que existe da parte deles um certo apreço em relação a si, apesar de, julgo eu, ainda só o conhecerem há pouco tempo. O que tem a dizer sobre isso?
Comandante Amílcar Ribeiro (CAM): É claro que me agrada, mas isso deve ser um gesto de simpatia das pessoas que me conhecem e nada mais.
 
DTM: Ainda nesse processo de recolha de informação, deparei-me com a seguinte expressão que me ficou impressa na memória e que, aliás, foi proferida por um militar em forma de elogio referindo-se a si como: “um homem que vive para a Guarda”. Gostaria de comentar?
CAM: Isso é um exagero, naturalmente. Hoje em dia, ninguém vive para algo em exclusivo. É impossível, até porque nós não temos essa capacidade. Para além da família e dos amigos, temos um conjunto de coisas que não nos permite isso e, aliás, nem faz sentido. Qualquer profissional, aquilo que tem e deve fazer, no sentido do dever, da missão que tem, é procurar fazer o melhor possível. Nem mais, nem menos. E é o que eu tento fazer. Tento dar o melhor de mim.
 
DTM: Na sua primeira semana enquanto Comandante em Bragança, aproveitou para conhecer as várias valências da GNR espalhadas pelo distrito. A que conclusões é que chegou?
CAM: Estamos a falar de doze concelhos, mas o efetivo é proporcional à realidade populacional. Também os meios materiais disponíveis e de apoio à atividade operacional, os meios que complementam, no fim de contas, todo o aspeto operativo que realizamos, são suficientes. Estou a falar dos meios auto, moto e de outras componentes, possibilidades e aptidões que temos em termos de intervenção.
 
DTM: Em termos de dispositivo humano, qual é o efetivo que o Comandante dispõe no sentido, também, de poder tranquilizar a população?
CAM: Temos aqui cerca de 630 homens e mulheres.
 
DTM: Quais é que considera serem os principais problemas do distrito de Bragança?
CAM: Problemas como o isolamento estão associados à desertificação crescente que se tem vindo a sentir desde há uns anos a esta parte. A distância entre as várias localidades e a segurança rodoviária que tem de existir nessas deslocações, tem a ver com o sentimento de segurança que as pessoas têm de ter na sua habitação, no seu local de trabalho, seja no ambiente de cidade, de vila ou de aldeia. O mais importante é que a comunidade sinta que a GNR está ali para a proteger e ajudar dentro das suas competências. Agora, o sentimento de segurança existe e a Guarda realiza esse sentimento de segurança, materializamos a República, preservamos as instituições democráticas no funcionamento do Estado de Direito e, obviamente, o nosso esforço irá sempre nesse sentido. No modelo atual de sociedade ocidental, chamado moderno, no paradigma existente, a segurança é a maior riqueza e nós, GNR, produzimos essa riqueza. Vimos, infelizmente, os acontecimentos de Paris e não havendo segurança nada funciona. O professor não vai para a escola, o médico não vai para o hospital, deixa tudo de funcionar numa sociedade moderna.
 
DTM: O fator desertificação também faz com que as populações, sobretudo, as mais envelhecidas sejam um alvo preferencial da atividade criminosa. A GNR tem algum plano em marcha que combata este tipo de violência cada vez mais recorrente exercida contra os cidadãos seniores? 
CAM: A GNR dispõe de programas especiais onde certos militares com formação específica nesse âmbito conseguem desenvolver um conjunto de ações destinadas a acompanhar as situações mais difíceis. Primeiro, são sinalizadas e depois são acompanhadas e monitorizadas de uma forma continuada para identificar algum aspeto que não seja normal e assim atuar em conformidade. Felizmente, não temos tido nenhuma situação que saia da normalidade ou até que nos preocupe. Mas isso não invalida que, a qualquer momento, o pior possa acontecer. Hoje em dia, as pessoas movimentam-se com muita facilidade. O espaço Schengen permite a livre circulação de pessoas dentro dos países signatários, sem a necessidade de apresentação de passaporte nas fronteiras e, assim sendo, se construímos uma União Europeia com este molde, dentro destas caraterísticas, temos de perceber que existem coisas boas e menos boas. Menos boas é que qualquer indivíduo como aparece rapidamente, também desaparece da mesma forma e nós temos de ter consciência disso.
 
DTM: Depois dos ataques terroristas ao coração da Europa, Paris, e estando nós tão próximos de uma fronteira terrestre, a GNR pensa adotar medidas preventivas que possam salvaguardar a segurança das pessoas, instituições e da própria região?
CAM: Não podemos trabalhar isoladamente e muito menos em Bragança. Nós, em Portugal, temos serviços próprios da República que estudam e fazem o respetivo acompanhamento desses fenómenos. Em Quintanilha existe um Centro de Cooperação Policial e Aduaneira e isso significa que temos um grupo que faz todo um acompanhamento destas situações na tentativa de identificar um potencial risco que possa existir. Estes procedimentos são realizados em estreita consonância e harmonia com as autoridades espanholas e, inclusive, europeias.
 
DTM: Bragança é o sexto distrito do país com mais casos de violência domestica contra idosos, sendo que a violência doméstica entre casais aumentou 32 por cento de 2013 para 2014. A GNR tem acompanhado este fenómeno?
CAM: Sim, temos. Infelizmente, têm-se reportado alguns casos, mas continuo a dizer que não será fora daquele limite considerado tolerável. Mais uma vez repito, o ideal seria nada disto acontecer. Mas, obviamente, isso seria pedir o impossível. Esses casos existem, de fato. E pelas mais variadas razões.  Mas temos programas especiais e temos também trabalhado em parceria com diversas instituições a nível local e distrital e todos os casos identificados são tratados da maneira mais correta. Isso posso garantir-lhe.
 
DTM: Como é que classificaria a criminalidade no distrito?
CAM: Os índices de criminalidade são francamente baixos. Agora, o ideal era não haver crimes, mas onde há uma sociedade, existirão sempre conflitos. Faz parte da natureza humana e não há como evitar. No limite, essas mesmas disputas constituem crimes e aí entra a GNR para atuar e os tribunais para absolver ou condenar.
 
DTM: Na sua opinião, qual o maior desafio que terá de enfrentar ao longo dos próximos quatro anos?
CAM: O meu maior desafio será dar continuidade àquilo que foi feito pelo meu antecessor e conseguir manter esse sentimento de segurança que existe e que é fundamental. Essa é a maior riqueza que possuímos no distrito e é para alcançarmos esse objetivo que nos esforçamos e trabalhamos todos os dias.
 
DTM: Para terminar, que conselhos daria aos nossos leitores para a época natalícia que aí se avizinha?
CAM: Se conduzirem não bebam álcool. Esse é um conselho que fica sempre bem. E tentem também fazer uma condução defensiva, respeitar os limites de velocidade e colocarem sempre o cinto de segurança. E não se esqueçam de adaptar a velocidade do veículo às condições e caraterísticas da via. Respeitar é fundamental! Respeitem-se a si próprios e respeitarão os outros.
.....................................................................................................
Fatos:
 
Nomeado: Amílcar Ribeiro
Naturalidade: Chaves
Data de Nascimento: 1962/02/06
Idade: 53
Profissão: Comandante da Guarda Nacional Republicana de Bragança
Livro: “Novos Contos da Montanha”, de Miguel Torga (1944)
Autor: Miguel Torga (1907 – 1995)
Artista, música ou banda sonora: Freddie Mercury (1946 – 1991) e Luciano Pavarotti (1935 – 2007)
Filme: “Apocalypse Now” (1979), de Francis Ford Coppola e “Era uma vez na América” (1984), de Sergio Leone
Um destino: Moçambique e Guiné-Bissau
Uma comida: Batata cozida, grelos e uma boa alheira transmontana
Clube: Sócio do Grupo Desportivo de Chaves e um homem do Norte (subentenda-se, F.C. Porto)

 
 



SHARE:

"Sou insatisfeito por natureza"

"Que as portas se abram"