Aqui há uma meia dúzia de anos atrás, quando o palacete da Quinta de Vale Abraão foi destruído por um incêndio, lamentei a má sorte do Douro, pois em minha opinião semelhante tragédia para além de atingir os directamente interessados, obviamente os proprietários, atingia também sobremaneira toda a região e todos aqueles que dela gostam.
Justificava eu então a minha postura, dizendo que Vale Abraão por causa de Agustinha Bessa-Luís e Manoel Oliveira, está para o Douro, como a Casa de Romarigães por causa de Aquilino Ribeiro está para o Minho, Tormes por causa de Eça está para Santa Cruz do Douro, ou Vilarinho de Samardã por via de Camilo está para Vila Real.
Quer isto dizer que quando vultos de semelhante valor resolvem imortalizar na sua obra este ou aquele local, esta ou aquela casa, estes passam como que a pertencer ainda que simbolicamente, a toda a comunidade que se lhes sente mais ou menos próxima.
Com a casa de Vale Abraão julgo que sucedeu precisamente a mesma coisa ao ser distinguida com a acção e o título de um romance de uma das maiores escritoras da nossa língua, e ao emprestar o seu nome a um filme de um dos mais consagrados realizadores mundiais.
Penso que semelhante identidade ainda não é muito sentida ou reconhecida, unicamente porque o tempo que é grande mestre, ainda não é longo ao ponto de permitir que este assumir se estenda por aí além.
Depois dos lamentos dessa época, renasceu-se-me a esperança ao saber que a ENATUR, empresa do estado no ramo da exploração turística, ia fazer brotar das cinzas a Casa de Vale Abraão em todo o seu esplendor, com a finalidade de a transformar numa Pousada, logo, numa das tais unidades hoteleiras de que se diz o Douro tanto precisar.
Que se diz, e que de resto para se saber muito esperto não será necessário ser. Basta atentarmos à multidão de turistas que anualmente em crescendo nos visitam, e aos trabalhos que passam para arranjar estalagem.
Estaria por isso garantido o retorno do investimento, como gostam de dizer os homens das contas. Tudo parecia assim que opondo-se ao poder do fogo, os homens iriam preservar para o futuro uma das casas mais belas e mais emblemáticas do Douro vinhateiro, Património Mundial, e chão de muito proveito para os cofres da nação.
No entanto, esmoreceram-se-me de novo recentemente os ânimos, ao constatar que afinal a montanha pariu um rato, pois estes anos todos após, os senhores de lá longe vieram dizer do seu desinteresse na coisa.
Não estou por dentro dos meandros dos acontecimentos, mas também não preciso de estar, para me indignar ao ver mais uma vez a nossa terra do interior, a perder uma soberba oportunidade. Perde-a, seja pelo que for, e não devia perder. Num tempo em que nada é impossível, por vezes basta sonhar e
querer, para que a obra aconteça. Se alguém ainda tem capacidade de sonhar, que sonhe então, e que ao sonho junto o
querer, para que Vale Abraão não seja uma oportunidade perdida. Portugal merece, e o Douro precisa....
Vale Abraão – uma oportunidade perdida

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