Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Serra de Passos: A Montanha Sagrada

 

Vai para uns anitos, andava a deambular pela Internet em busca de mais e mais conhecimento sobre o património cultural arqueológico do concelho de Mirandela, quando me deparei com um trabalho de 1987, sobre o levantamento arqueológico do mesmo, cujas autoras são: Maria de Jesus Sanches e Branca Santos. Comecei a estudar tudo quanto fui conseguindo encontrar, sendo que devo os melhores agradecimentos a alguns autores por me enviarem as suas teses de doutoramento e mestrado.

À medida que avançava no estudo e conhecimento do património cultural, sentia a necessidade de cruzar a informação com as várias fontes de que dispunha. Pretendia colocar, nas minhas obras literárias, fotografias legendadas de forma que os leitores conhecessem a minha terra, inspirando-os a uma visita futura.

Eis que, no grande volume de informação, encontrei várias referências à Serra de Passos / Santa Comba / Garraia e a atenção ficou envolta numa nuvem de mistério. Ora eu andava com a Idade do Bronze Final, Ferro, Romanos e a Idade Média, mas a Serra, com as pinturas esquemáticas rupestres, era um caso muito anterior a este período, cerca de 7.000 anos da época atual.

Dei por mim a trocar opiniões com uma amiga, professora de História:

- Oh, Maria Isabel! Temos de ir à Serra, temos de desbravar o que há por lá. Estou que nem me aguento com tudo o que vou sabendo. Queres ver o que a Professora Maria de Jesus Sanches escreveu?

- Deixa cá ver. Esta senhora foi minha professora na Faculdade. Gostei muito dela.

- O que achas de lá irmos fazer um pequeno documentário?

- Acho bem. Mas tu estás tão longe, e nem sempre podes cá vir.

- Fica prometido. Havemos de ir à Serra.

Entretanto, fui-me apercebendo de que a Serra não estava “morta”, havia mais gente entusiasmada com todo o seu potencial. Uns, a estudá-la através do projeto EscarpArte; e outros, a trabalhar na sua divulgação e preservação, através da criação de uma página no Facebook. E, aqui, meus amigos: não podemos nem devemos olhar a Serra apenas na vertente cultural com as pinturas rupestres e o Castelo do Rei D’Orelhão - isso seria reduzi-la. Há, igualmente, ao nível da botânica, plantas de grande importância que urge estudar e proteger. Sabe-se da existência de espécies únicas – autóctones -, e vegetação fóssil, sendo considerada, pelo Professor António Crespi, um museu ao ar livre do período do Miocénico. É rica em água, pois dispõe de várias nascentes. Tem um enorme potencial para a prática de atividades desportivas não invasivas. Nela se cruzam caminhos de ligação às aldeias circundantes. É um miradouro de excelência. Esta Serra, já apelidada e bem de MONTANHA SAGRADA, tem de ser vista como um todo.

Como eu vejo esta montanha, pertença dos concelhos de Mirandela, Murça e Valpaços?

É uma jadeite de grande quilate, um diamante azul, a pedra preciosa mais rara e mais valiosa do mundo que urge proteger, estudar, classificar e divulgar para uma candidatura à UNESCO como Património da Humanidade.

À medida que os trabalhos dos arqueólogos avançam, a expectativa aumenta face ao que ainda está por explorar.

A importância desta Serra já foi reconhecida internacionalmente pela IFRAO – Federação Internacional de Arte Rupestre, que fez chegar uma carta aberta ao Presidente da Assembleia Municipal de Mirandela, apelando à preservação do incomensurável património rupestre que hoje se conhece e a sua incompatibilidade com a instalação de um conjunto de 6 aerogeradores “ventoinhas”. Também a comunidade científica portuguesa se tem manifestado publicamente contra a coabitação de património e eólicas, pois são detentores de elevado conhecimento que o vulgar cidadão não possui. Simples cidadãos, utilizadores da Serra enquanto espaço de lazer, jornalistas, políticos de todos os quadrantes, etc., são unânimes em dizer que a Serra é um todo e tem de ser protegida.

Todos apelamos a que impere o BOM SENSO na 4ª Reunião de Assembleia Municipal de Mirandela, a decorrer dia 11 de novembro de 2022.

Também apelamos a todos os munícipes de Murça e Valpaços para que se manifestem de forma pública sobre este assunto.

Eu, enquanto cidadã portuguesa, natural de Torre de Dona Chama, freguesia do município de Mirandela, manifesto desta forma a minha posição contra a instalação do parque eólico na Serra de Passos / Santa Comba / Garraia.

Quero terminar com uma frase da minha mãe:

Deixai-vos dormir e depois comei do sono.

 

 

Texto:

© Teresa do Amparo Ferreira, 10-11-2022
Natural de Torre de Dona Chama,

Mirandela, Bragança, Portugal. 

 

Ligações para esclarecimento público:

https://www.facebook.com/groups/serradepassossemventoinhas

 

Fotografias:

© Luís Ribeiro

 


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