Agosto tem-se mostrado cáustico em todos os aspetos, especialmente no que concerne à vertente em que a morte se faz representar pelos mais inimagináveis processos. O mundo treme só de pensar que hoje ou amanhã será a sua vez de tomar parte nesta ronda de morte que a todos acomete.
Portugal tem sofrido bastante neste mês que seria essencialmente dedicado ao descanso de todos os que, depois de um ano de trabalho, gostariam de usufruir de um tempo de calma, sossego e paz numa qualquer praia do país ou numa aldeia recôndita que um dia os viu nascer. Porém, a calma e o sossego transformaram-se em desassossego, em medo e numa guerra contra o que lhes invadia o seu recanto, o seu espaço escolhido para gozar as merecidas férias.
Já não se via há muito tempo uma época de fogos como este ano. A quantidade de fogos em todo o território nacional foi extraordinária e as consequências foram desastrosas, não só na área ardida como nos bens destruídos e nas vidas dizimadas. Os bombeiros que pereceram no combate às chamas chocaram um Portugal em férias. Na verdade, a morte rondou as corporações, os haveres de quem tudo tinha depositado na esperança de um dia poder usufruir deles, as vidas de quem lutava com abnegação contra os infortúnios de quem estava prestes a perder quase tudo. Foi uma luta titânica. Uma luta de morte! As corporações perderam carros de combate aos incêndios, perderam bombeiros, perderam amigos de uma vida. As pessoas atingidas perderam os seus pertences, as suas casas, os seus animais, as suas colheitas, os seus familiares. Portugal perdeu a sua floresta. Floresta que aos poucos se reduz e nos limita a frescura e a pureza do ar que respiramos. Uma tragédia!
Mas se Portugal vive estes momentos de angústia, outros países como a Síria, vivem momentos de uma interminável guerra fratricida acompanhada dos horrores da química que um homem insensível, desumano, louco e ditador, comanda ao arrepio de toda a comunidade internacional. É difícil de entender como é que um dirigente como este se permite tais calamidades dentro do seu próprio país, sabendo que um dia poderá ser julgado e condenado pelas atrocidades que está a fazer. Julgado será, morto ou vivo. Outros foram julgados por bem menos! Uma guerra civil onde já morreram milhares de pessoas e onde grande parte dessas vítimas foram crianças, comprometendo uma geração que dentro de anos governaria o país, uma guerra onde não se vislumbram motivos válidos que a justifiquem, não é nem pode ser entendível. Nem a política, nem a religião podem justificar tal guerra e muito menos a vontade de um ditador que se quer perpetuar no poder a qualquer preço. Resta pelo menos, a esperança de que um dia será efectivamente julgado por todos os atos que praticou, mesmo que, no extremo do medo, se suicide antes que alguém o faça.
Se tudo isto nos parece surreal, o que diremos do que se passa no Egito? Então afinal a democracia não se aplica mesmo depois de eleições democráticas? Um ditador foi deposto e julgado após um grande levantamento popular. Democraticamente escolheram um novo governo. Passado pouco mais de um ano, novo levantamento popular faz cair o presidente eleito e gera-se um confronto nacional que parece não ter fim e onde a morte parece, também aqui, ter um papel relevante na demografia do país. Centenas e centenas de mortos são o resultado de um confronto incompreensível entre pessoas de um mesmo país que, possivelmente, só a política os divide. Política?! Partidos? Francamente! Haja algum merecimento.
Perante tudo isto, parece-me um pouco estranho as posições que os EUA e a União Europeia têm vindo a tomar a este respeito. Como sabemos, são contrárias na sua essência. Se uns querem esperar para ver, outros querem agir em força se a certeza se apurar no aspecto químico. Se for este o caso, a morte em vez de rondar seriamente, fará deste palco o seu espaço de eleição. De qualquer modo, nada de bom se augura e a sombra assassina que a todos assusta, continuará a fazer-se notar, de um modo ou de outro. Haja bom senso!
Já quase no fim de Agosto, para Portugal, depois dos horrores dos fogos que ainda perduram, é chegado o tempo de eleições. Eleições democráticas. O Primeiro-ministro e seus ministros ainda não fizeram a sua aparição pós férias, mas o que se tem notado é que alguma legislação tem gerado um certo mau estar em alguns sectores, especialmente nos professores. Isto faz-nos adivinhar mais confrontos, especialmente verbais, entre os sindicatos e o governo. Felizmente serão só verbais, porque se um dia, os portugueses assumem a postura dos árabes, também aqui a morte poderá rondar e os incautos erguerão as mãos aos céus pedindo clemência divina. Vale o facto de não termos nada semelhante aos árabes!
A ronda da morte

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