Manuela Ferreira Leite regressou à política activa. Andava por aí como a maior parte das eminências pardas do PSD. As palavras de Alpoim Calvão, em 1975, apesar de ditas por um homem da extrema direita, de cariz nacionalista e inconscientemente pró-fascista (Alpoim Calvão era, apesar de tudo, um homem com quem se podia conversar) ainda servem para explicar o que fazem os gurús da nossa letargia política e administrativa quando não estão no poder: hão-de cair de maduros, disse Alpoim sobre os revolucionários comunistas, trotsquistas e maoístas do pós-25 de Abril.
Manuela, no seu saber amadurecido na máquina administrativa e de protecção aos interesses estabelecidos, deixou pois que santanistas, menesistas e jardinistas amadurecessem, que provassem a sua inconsistência política, intelectual e social.
Agora regressa. Tem três partidos à sua espera: 1) a verdadeira e genuína representação de Portugal, nos trabalhadores, industriais e empresáros que são efectivamente democratas-liberais, que trabalham, que sustentam o país e que serão 60% do PSD; 2) as elites administrativas, cheias de ronha e encostadas como vampiros à máquina do Estado as quais, sendo apenas 10% do PSD, lhe marcam a ideologia e o rumo, para proveito deles e para desproveito dos portugueses; 3) os demagogos incultos, desinstruídos e produtos da irresponsabilidade da maior parte da clase política do pós-25 de Abril. São representados por Santana, Meneses e Jardim. Representarão apenas 30% do PSD mas, dada a retirada, à espera do amaduerecimento, por parte dos outros 10%, têm mandado no PSD. Os três representam o pior que há na política em Portugal: o populismo, a irresponsabilidade, a demagogia, o autoritarismo disfarçado.
Qual é aqui o lugar de Pedro Passos Coelho, o único candidato com futuro e, eventualmente, o melhor futuro para o PSD? O seu mérito é integrar-se nos primeiros 60% e ter sabido distinguir-se de todos os outros. Para mim, ele é o futuro do PSD e de Portugal. Talvez daqui a 10 ou 12 anos.
Que pode fazer Manuela com este caldo? A sua tarefa não é fácil. Primeiro, terá de devolver o PSD à memória e imagem de Sá Carneiro e de Mota Pinto. Essa imagem está nos 60% de PSD`s profundos. Mas Manuela carrega consigo o facto de ser um produto da ronhice administrativa do Estado e da demagogia do cavaquismo. Terá de conseguir demarcar-se dos 10% de gurús que, por controlo indirecto e na ronceirice dos gabinetes ministeriais, comandam a vida do Estado.
Um outro elemento interessante destas eleições do PSD é que elas confrontam duas tendências do Partido, até agora em guerra. Uma, representada por M.F. Leite, a da prevalência e controlo das finanças públicas sobre a vida social; a outra, por Santana, Meneses e Jardim, da vida Social sobre as finanças públicas. Esta segunda é, na minha óptica, a via da irresponsabilidade na gestão pública. Mas ganhou no PSD, em 2004, foi a votos, através de Santana, nas últimas legislativas e vai agora outra vez a votos no PSD.
De qualquer forma, Manuela Ferreira Leite parece-me, de facto, para além de Marcelo R. Sousa e de Ângelo Correia, o último trunfo do PSD pasra afrontar Sócrates.
Porém, como disse antes, Manuela tem de regenerar o PSD. Não vai ser fácil mas, a prazo, pode conseguir.
Na linha ideológica desta reflexão, cito parte do artigo de opinião de Manuel Carvalho em Público de 29/04/08:
Manuela Ferreira Leite oferece
como emblema de candidatura
mais uma imagem do passado que
uma ideia para o futuro. Mais a
segurança que a ousadia. O fenómeno
Cavaco, que nasceu da rodagem
de um automóvel, é uma coisa do
passado de um país à época vibrante
e confi ante. Agora, a política em
Portugal gravita no mito do eterno
retorno. O falhanço do projecto de
país que se erigiu entre 1990 e a
actualidade não vale como exemplo,
não estimula a novidade. Sintoma
de cansaço e de entropia do regime,
este fenómeno pode obrigar o PSD
à sensatez e ao rigor que tanto lhe
faltam, mas pode levá-lo também à
previsibilidade e ao conformismo que
outrora o partido tanto combateu.
Ontem, Manuela Ferreira Leite esteve
mais perto da segunda via, mas ainda
é demasiado cedo para a criticar. Tem
ainda um mês para nos surpreender.
Acompanhemos então o processo a ver se Manuela regenera o leite.
Pode Manuela regenerar o Leite?

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