Chrys Chrystello

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Os ladrões vieram à tona com o aquecimento global

Crónica 235 os ladrões vieram à tona com o aquecimento global 10.2.19

como é que este país se tornou num feudo de ladrões? sempre foi, mas com o aquecimento global vieram à tona.

Mas temos de ser tolerantes nenhum político nasceu corrupto, pode ter nascido com mais ou menos defeitos, mais ou menos ambições, sem saber que nunca iria trabalhar um dia na vida e que passaria a mesma a andar de  um lado para o outro, sem ter de se lembrar de tudo o que prometia, onde e quando.  Criou um sorriso nº 68 sempre pronto a beijocas e abraços dos milhares que com ele se cruzam, que só desafivelava à noite quando chegava a altura de programar as ações dos dias e meses seguintes e afivelava outro que o Zé povinho nunca via, mas que se traduzia posteriormente na triste sina dos que queriam sobreviver nesse país à beira-mar plantado.

Um político não nasce corrupto, mas cedo se apercebe de um jeitinho aqui, outro acolá (os brasileiros chamam a isto o “jeitinho” português, vá-se lá saber porquê), até que, ao fim de alguns anos de treino e prática, apanha finalmente os truques do “jeitinho”, que é mais ou menos como resolver um cubo Rubik em 2 segundos. Claro que as pressões não abrandam com o tempo, é a família que quer benesses e mordomias, são os amigos e companheiros que exigem retribuição do apoio dado em momentos-chave, são os concidadãos que se acham no direito de exigir tudo a todos em troca dos votos e dos apoios a campanhas de eleição, reeleição, etc.

O processo pode começar de uma forma simples, como por exemplo uma multa, um despacho desfavorável, uma autorização camarária, uma venda de terrenos, um investimento avultado na região, uma viagem a uma reunião no estrangeiro, um bilhete de avião em executiva, a atualização da frota de veículos ao seu serviço, até quando termina a sua fase educacional, chamemos-lhe o mestrado e doutoramento em corrupção, já tem firmas de advogados e deputados a trabalharem apara si e para as leis de que necessita para levar a bom porto o seu mandato. Depois, isto funciona tipo “roller-coaster”, uma verdadeira montanha russa sem fim.

O processo nunca acaba nem quando há investigação de jornalistas (esses malvados que não sabem fazer nada a não ser dizer mal e procurar os podres de figuras públicas que tanto se sacrificaram, sem terem sequer vida pessoal na sua abnegada dedicação à “res publica”). E não acaba mesmo quando surge o ministério público (coio de malvados mal-intencionados e invejosos cuja única missão na vida é interpretarem as leis para o bota abaixo daqueles que eles bem entendem). Como todos sabemos, investiga-se isto e mais aquilo, criam-se umas comissões de inquérito no governo ou na assembleia da república e mesmo que haja material criminal quando chega aos juízes, lá estarão os abnegados defensores da verdade, os advogados que tudo resolvem a tes do caso prescrever.

Chega-se então ao ponto em que estamos hoje, em pleno aquecimento global, andam tonas à tona de água, bem visíveis, já ninguém desmente o ato corrupto, mas defende-se dizendo haver uma incongruência técnica no processo, o ato não ocorreu no dia 3 pelas 17.00 mas sim no dia 3 pelas 17.30 e isso faz toda a diferença para quem sempre teve a consciência calma e limpa como o político de que falamos.

Para o Diário dos Açores e Diário de Trás-os-Montes

Chrys Chrystello, Jornalista

[MEEA/AJA (Australian Journalists' Association – Membro Honorário Vitalício nº 297713,) carteira profissional AU3804]


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