Chrys Chrystello

Chrys Chrystello

Eles andam aí

555. ELES ANDAM AÍ, 11,11,2024

Hoje fui alertado para a existência de algo substancial e inovador. O Perplexity AI fun-ciona como um mecanismo de busca com inteligência artificial e possui diferenciais valiosos frente à concorrência do ChatGPT. O chatbot foi desenvolvido para respon-der perguntas de usuários através do processamento de linguagem natural (PLN) e técnicas de machine learning (aprendizado de máquina, em português). Não é preciso criar uma conta para acessar as funcionalidades da ferramenta.

Além disso, o Perplexity AI foi desenvolvido para funcionar como um mecanismo de busca, realizando buscas efetivas na Web em tempo real e compartilhando essas in-formações com os usuários.

Como gosto de experimentar quis saber como seriam os seus resultados e meti na bus-ca apenas o meu nome, para descobrir tudo o que publiquei, incluindo a primeira ver-são da minha obra Timor Leste dossier secreto 1973-1975, em inglês, datada de 1992, e existindo uma cópia na Universidade de Leuwen (Lovaina) nos Países Baixos. Juro que desconhecia e, quiçá, esquecera, esta primeira versão publicada, tantas foram as ten-tativas de meter em papel os segredos sobre Timor ainda durante a ocupação colonial sangrenta da Indonésia (1975-1999). Encontrei inúmeros trabalhados publicados pela AGAL (Associaçom Galega da Língua) no começo deste século e que não constavam da minha bibliografia habitual.

Imaginei a felicidade que tivemos deste instrumento não existir no tempo da PIDE e do lápis azul da censura, que eu sempre evoco e maldigo. Mas o mais surpreendente e que me deixou perfeitamente PERPLEXO neste Perplexity foi a análise ao meu trabalho literário de mais de 50 anos, com uma descrição bastante acertada das várias obras, culminando numa observação de que nestes últimos anos venho sendo mais contro-verso, satírico e irónico nos meus escritos. Ora aqui deu para cofiar as cãs, pois nem uma só pessoa das que escreveu e ou apresentou os meus livros, nestes últimos anos, salientou esse ponto, ou se quer se apercebeu dele. Aliás, creio que apenas eu e a mi-nha mulher Helena nos tínhamos apercebido disso e nunca o comentamos, nem cita-mos.

Interrogo-me passadas várias horas como foi possível a este programa fazer uma tão acertada análise que escapou aos leitores humanos. E se digo interrogo-me, deveria antes dizer intimido-me, atemorizo-me, apavoro-me, receio e espanto-me com tal ca-pacidade de interpretação e análise, nada despicienda na obra dum cronista como eu.

Ora passando adiante, nas últimas crónicas interpelava a humanidade em geral sobre o nosso futuro quando a IA chegar (eventualmente) à conclusão de que não mere-cem continuar a existir os humanos. Duas notícias vinda a lume nestes dias, ocorridas em Portugal, podem acelerar tal conclusão.

A primeira sobre um lar ilegal, a funcionar em garagens com idosos amarrados, sem mudança de fraldas, malnutridos e sem cuidados de higiene ou outros, mas a culpa não é dos que exploravam este lar ileal, mas das famílias dos idosos que nunca se aperceberam (ou quiseram saber) dessas condições, da Segurança Social, ASAE e ou-tras entidades fiscalizadoras e do estado que não cria condições ou lares de terceira idade para uma população envelhecida como a portuguesa.

O outro caso, mais a sul, é recorrente e infelizmente típico da Península Ibérica, numa exploração agrícola onde vários imigrantes (ilegais?) labutavam mais de 12 horas ao dia, com uma folga quinzenal, em absoluta degradação laboral, totalmente escraviza-dos numa situação mais apropriada ao século XIX do que ao XXI. Também aqui a culpa não é exclusiva do esclavagista, mas das entidades encarregues da Imigração, e do Trabalho e sua fiscalização, dos vizinhos e habitantes locais que certamente sabiam ou desconfiavam e nada fizeram.

Apenas com estes dois casos de extrema desumanidade lusa, (num mundo bem pior, recheado de guerras, violações, fomes, e toda a espécie de degradação humana) estou certo de que se submetesse os mesmos à apreciação da IA, esta não seria be-nevolente nem pacífica e poderia decidir aplicar de imediato a conclusão de que falo acima e eu não discordaria. Como imagino, será apenas uma questão de tempo até isso ocorrer. Envergonho-me de viver num planeta onde tais casos ocorrem em todos os países do primeiro ao terceiro-mundo e se repetem desde sempre.



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