De vez em quando, mais parece que no nosso país se levantam ondas absolutamente capazes de tudo levar à sua frente. Mais parece, digo eu, porque passados que são os primeiros estrondos, elas morrerem na praia, escoadas que são pelo extenso areal que é a nossa indiferença, e por isso, logo arrumadas nas gavetas profundas abertas pela incapacidade de nos indignarmos perante o que é imoral, nada licito, e de todo em todo condenável.
As ondas levantam-se, as trombetas anunciam factos de toda a monta e de toda a maneira, as audiências televisivas sobem uns picos, os jornais vendem mais uns exemplares, poucos, que ler cansa o cérebro, e passados que são os primeiros efeitos, tudo se fica em “ águas de bacalhau “.
Casos ilustrativos são mais que muitos nestas três décadas de democracia aparente com que nos iludimos, só porque votamos quando nos convocam para o efeito, e acho que nem valerá a pena referi-los uma vez que são do conhecimento de todos.
Invariavelmente, quando a coisa estoira, os putativos culpados, fazem finca pé na sua inocência, dizem-se perseguidos, e apontam a causa da vinda a público da notícia, com invejas perante a sua excelsa pessoa, integra entre os íntegros, e eficiente entre os eficientes.
Chamam para sua defesa a obra feita no exercícios das sua funções, como se apresentarem obra fosse algo de transcendente e não fossem pagos quase a peso de ouro para a fazer surgir, e não fossem mandatados precisamente para isso. Esquecem-se que “ à mulher de César, não basta ser séria, pois deve também parecê-lo”, conforme diziam os Romanos já há mais de vinte séculos.
O Povo, esse, que somos todos nós, na mais completa atitude de subdesenvolvimento, faz orelhas moucas e vistas grossas, desculpa a falta daquilo que nunca havia de faltar, inveja não poder fazer o mesmo, admira aqueles que por caminhos tortos atingem metas supostamente direitas, e admira-os ao ponto de quase sempre lhes dar aval para futuras acções passem elas pelo que passarem.
Enquanto isso, o país afunda-se, a nação dilui-se, e como se estivéssemos todos grossos, chutamos para a frente, e entretemo-nos no gozo alarve de comezainas, de festas folclóricas e vaidosamente reluzentes, e de jogos desportivos que de desporto nada têm, a não ser os resultados dos jogos muitas vezes mais comprados que verdadeiramente conseguidos.
Enquanto isto, e por causa disso, fomos perdendo a confiança uns nos outros, não acreditamos em nada nem em ninguém, e só nos falta deitar dúvidas à nossa própria sombra. Os detentores de poderes públicos e institucionais pedem-nos que os sigamos dizendo-nos que para obra feita só eles, e tratam-nos como mentecaptos dizemo-nos somente o que queremos ouvir, ao mesmo tempo que nos tiram o que julgam conveniente tirar.
Vai daí, por causa disto tudo, e não só, deixamos que com tanta obra feita o pais se tornasse cada vez mais feio, e cada vez mais falido ao ponto de mais parecer inviável e ingovernável. Vai sendo altura pois, de alguém assumir se vale ou não pena tê-lo como nosso, mesmo que ele já seja em grande parte dos estrangeiros que detêm as melhores partes da economia lusa.
Tenho par mim, que ainda vale a pena, se não nos apresentarem obra feita a qualquer preço, e se nos transmitirem confiança que baste, para que os sacrifícios necessários e pedidos sejam vistos como inevitáveis, repartidos por todos, e assumidos por cada qual. Urge que assim seja, pois nós merecemos, e os nossos filhos esperam que lhes leguemos verdadeira e honesta obra feita .