Vivemos num tempo em que tudo ou quase tudo se traduz em números, em cifras, em percentagens. A politica vai fraca e pouco se recomenda, e por causa disso, lá no alto encima da nuvem principal, foi colocado com toda a glória o deus “ mercado”, que como lhe compete desde que foi criado à coisa de século e meio, beneficia uns poucos supostamente fortes, em detrimento dos outros muitos supostamente fracos.
Os que se dedicam à causa pública e nobre, estão mundialmente mais interessados em parecer do que em realmente ser, e por essa via permitem que os destinos e as estratégias sejam implementados ao jeito de pressupostos meramente económicos, ainda que historicamente se possam concluir os malefícios que daí advém. Poderá parecer o contrário, mas facilmente isso se afere se for caso disso.
Mas isso “ é vinho de outra pipa” como dizemos aqui no país vinhateiro de para cá do Marão. “São contas de outro rosário” que não pretendo agora aqui desfiar, pois se para tal me der o engenho e a arte que serão minguados, escreverei aqui um migalho acerca do que para aí se fala sobre as mudanças no sector do vinho e da vinha, numa perspectiva que nada tem de técnica, e que pretende virar-se um pouco para o social.
Nada me custa admitir a necessidade impreterível e até a bondade das alterações propostas e contidas nas novas regras comunitárias que aí vêm, pois mais não são do que consequência dos mandos estruturais das teorias económicas com que o mundo se rege neste inicio de milénio, as quais se mostram imparáveis pelo menos por agora.
Temos de admitir no caso concreto da região do Douro que a qualidade vai passar a comandar os destinos, e que os preços vão ditar e vão promover as circunstâncias que farão com que se continue ou se abandone o granjeio das vinhas que por ora mais parecem ainda jardins em direcção ao céu.
No entanto, tenho para mim que as coisas se não podem resumir a esta visão estritamente economicista. Repare-se que não há agricultura alternativa capaz de se afirmar, que porque somos uma região de monocultura tudo o resto entronca no vinho e na vinha, e que mexendo-se neste ponto de equilíbrio, logo tudo cai por aí abaixo quem nem castelo de cartas tocado pelo vento.
Por isso, a todo o custo os políticos que ainda mandem um pouco não podem deixar de fazer ver no local certo que a Região Demarcada do Douro é um caso único que apresenta algumas singularidades. Por exemplo, devem fazer notar e fazer entender que num contexto em que meia dúzia de agentes compram oitenta e cinco por cento do que dezenas de milhar produzem, o deus “mercado” não pode estar sozinho no impor de regras.
Não se pode andar ao arrepio das modas, não se podem defender modelos fortemente interventivos pois seria o mesmo que se ter atitudes quixotescas de luta contra moinhos de vento, mas pode-se e deve-se fazer ver a quem de direito, que implementarem-se medidas estreitas e descuidadas que levem ao aparecimento de manchas de matagais e silvados no continuado da paisagem duriense, só porque o poder da economia assim o dita, é o mesmo que se destruírem as pirâmides do Egipto porque se conclui que o chão que as suporta é mais rentável noutra coisa qualquer.
Falámos num e noutro caso em Patrimónios da Humanidade, e falámos em ambos de algo que foi construído pelos homens com hercúleos esforços em tempos que são idos mas nos ensinam aquilo de que somos capazes.