Há uns três anos, em plena campanha eleitoral para deputados, escrevi neste espaço e com o mesmo título que hoje utilizo uma crítica sarcástica aos propósitos eleitoralistas do então primeiro-ministro Santana Lopes. Recebi na altura algumas reacções acaloradas de alguns leitores, aos quais expliquei que nada de pessoal me movia contra o ilustre político, mas que me movia antes uma certa ideia que faço da política e da cidadania.
Tenho hoje a oportunidade de o provar. O Dr. Santana Lopes acabou de prestar um relevante serviço à causa da cidadania e da educação para a política.
Entrevistado em directo numa estação de televisão de cobertura nacional sobre o momento político que atravessava o seu Partido em vésperas de eleição do presidente, Santana foi interrompido pelo desvio da emissão para o aeroporto, aonde chegava nesse momento o treinador de futebol José Mourinho. Para além da frenética agitação da turba multa e dos jornalistas, não se viu nem se ouviu nada que correspondesse ao alegado interesse de suspender a emissão que decorria no estúdio. Nem era de esperar que o referido treinador fizesse naquele instante declarações que pudessem constituir notícia.
Mas o que se questiona - e que me leva hoje a aplaudir a atitude de Santana Lopes – é a opção dum canal nacional de estabelecer daquela forma as suas prioridades, porque as opções obedecem certamente a uma estratégia de comunicação. E na comunicação tanto cabe a informação séria como o populismo que anda atrás de tudo o que cheire a popularucho. A opção é simples e tem a ver com o tipo de relação que um empresa pretende ter com o seu público: ou fazer a pedagogia da informação séria ou andar a correr atrás do primeiro balão como qualquer patego!
Não questiono, naturalmente, a importância que o futebol e os fenómenos conexos têm na vida nacional. Para o bem e para o mal, o futebol é uma das actividades em que o País se tem distinguido. Mas está longe de ser o que mais importância tem sobre a vida das pessoas. Entre um acontecimento político de primeira importância que sempre é a escolha dum líder que poderá vir a ser um primeiro-ministro do país e uma mera chegada dum treinador ao aeroporto, que, convenhamos, não passa dum fait-divers, há uma enorme diferença de relevância, a mesma diferença que vai dum jornal de escândalos a um jornal de referência.
Por isso, bem andou Santana Lopes. Sem arrogância, fazendo a apologia da responsabilidade e do respeito pelos convidados, deixou a emissão nas mãos de quem a cozinhou e foi à sua vida. Que nunca se arrependa de o ter feito.
No centro da Europa, onde as cadeias de televisão fazem melhor a separação entre o essencial e o acessório, estas coisas acontecem com frequência. Não é a primeira vez que apresentadores provocadores ou populistas ficam a falar sozinhos. De facto, muitos convidados sentem-se ludibriados por apresentadores que se assumem como o centro da emissão, esquecendo-se de que a vedeta, se tiver de existir, deve ser o convidado e não o apresentador.
Esperemos que o episódio isolado tenha servido de lição. E ao Dr. Santana Lopes que, na ocasião, teve um gesto tão corajoso e de tanto impacto, só podemos fazer-lhe a competente vénia.
Meu caro Santana!

Meu caro Santana!
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