Estamos em tempo de férias. Férias para quem as poder ter, de um modo ou de outro, mas sempre um tempo de descanso das agruras que a vida tece. Mesmo que nos pareça que não, todos temos direito a esse tempo de lazer, sejamos muito bons no que fazemos ou não, sejamos reconhecidos ou não pelo que ao longo do ano produzimos.
Se perguntássemos às pessoas se os políticos mereciam esse tempo de descanso, muitos diriam que não porque têm razões de queixa contra o que eles produziram ou não produziram e não gostaram do que deixaram transparecer para opinião pública envolvendo o país numa crise desnecessária e com um futuro completamente incerto. Claro que perante este cenário eu diria que teriam toda a razão para tal resposta. A verdade é que ninguém ficou indiferente aos dias de crise política que atravessou o país e possivelmente ainda ninguém estará suficientemente descansado já que se ignora o que virá entretanto depois destas férias de verão em que a maioria dos políticos foi gozar os tais dias de descanso, merecidos ou não.
Na realidade, o tempo de férias serve pelo menos para desviar a atenção das pessoas dos assuntos fulcrais que ao governo se acometem, preocupando-se com o tempo real onde a família tem uma importância acrescida e onde as preocupações são efetivamente outras. Mal seria que assim não fosse! No entanto, o país não pára e o governo terá sempre quem substitua os elementos que estão em férias. Passos Coelho e Cavaco Silva estão no Algarve e alguém os substituirá nas funções que lhes dizem respeito. Muitos outros elementos do governo estão também de férias. Penso que não está aqui em causa o facto de as merecerem ou não. O que interessa é saber se quem os substitui o fará com razoabilidade política, com bom senso, com responsabilidade e sentido de Estado. Temos de acreditar que sim.
Os últimos dias têm sufocado a opinião pública quer no aspecto político, quer social, quer mesmo económico. Além da crise política que atravessámos e das desconfianças e farpas que muitos lançaram contra Paulo Portas e Passos Coelho pondo em causa a coligação, o certo é que se chegou a um acordo que, podendo ser duvidoso, resolveu a suposta crise e retirou à esquerda, nomeadamente ao PS, a possibilidade de ir para eleições já, ganhando pontos com o seu argumentário tão repetitivo como o do PC, já que não muda de há uns tempos para cá. Ficou sem espaço de manobra e sem razões para sustentar o que vinha defendendo. Vai valer-lhe, a Seguro, claro, este tempo de férias, em que as pessoas se vão preocupar com outras coisas mais interessantes. Mas não podemos esquecer que as rentrées não demorarão a chegar e aí os partidos políticos irão esgrimir o que durante o tempo de descanso equacionaram para convencer os portugueses a apoiar ou não, mais uns meses de espectativas que o governo adiantará com alguma pompa e circunstância. Bem preciso vai ser até porque as eleições autárquicas são em setembro e o tempo, não sendo elástico, precisa de ser bem aproveitado já que apenas algumas semanas separam o que o governo vai anunciar, do que os candidatos autárquicos vão adiantar para convencer os seus eleitores. É um tempo de desconforto e de confusão. Ora, depois de um descanso merecido, não seria muito próprio dar aos portugueses mais preocupações, especialmente políticas, quando trazem as baterias um pouco mais carregadas. Mas o facto é que assim será. Ninguém se livra disso. Acabadas as férias, aí estão novamente os desassossegos.
Isto leva-nos a algumas certezas, especialmente no aspecto político, pois parece-me que apesar de os políticos estarem de férias e de as autárquicas estarem à porta, a verdade é que alguém, em férias, terá de aproveitar o tempo para tratar quer da rentrée, quer das eleições autárquicas. Esses não têm férias? E quando digo esses incluo também o primeiro-ministro e todo o rol de ministros e secretários de estado, claro. Não acredito que eles, principalmente Passos Coelho, Paulo Portas e Cavaco Silva, fiquem à margem de todo o processo, portanto também aqui há, evidentemente, uma preocupação acrescida que retirará ao tempo de férias, o tal descanso que, merecido ou não, estariam à espera. Ou será que não?
As férias e os desassossegos

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