As crises são-no porque são temporárias embora as haja mais ou menos prolongadas. Embora o epicentro desta tenha começado em finais de 2008, nos EUA, por causa do disfuncionamento da melhor democracia do mundo, no eterno conflito entre democratas e republicanos por soluções de compromisso, ela já existe numa forma mais suave desde o início de 2001 e já leva portanto 12 anos.
Pela nossa parte, começámos a trocar défice por privatizações em 1994 e por fundos de seguros dos CTT em 1995. E, desde então, foi ver quem mais alienava ou mais desviava dos fundos para esconder o défice mas para manter a doce vida das elites portuguesas e os poucos apoios sociais existentes. Até que já quase não há nada nem para rapar nem para vender. Há para aí uns restos da GALP, da EDP e há a TAP, que ninguém quer porque o Governo não quer vender só a empresa mas também todo o seu passivo de 2,1 mil milhões de euros.
Chega 2010 e Ah-qui-del-Rei, é necessário cortar na despesa, no consumo e nas importações. E, para cortar, onde é mais fácil? Pois claro, nas classes médias (acima de 1.500 euros) e nas classes altas (acima de 4.165 euros). Mas, como entre todos aqueles que se situam nestas classes só há 300.000 pessoas, os cortes não chegam. E, então, 2013 traz o tal aumento brutal de impostos, desta vez a atingir também os mais pobres, que recebam entre 7 001 e 20 000 euros ao ano, apanhados numa subida de IRS de quase 14% ao mês e ao ano. E até os paupérrimos (menos de 7000 euros ao ano) passaram a pagar de 11% para 14,5%.
Se, fruto dos primeiros cortes, as receitas e o consuno interno e externo diminuíra, e retrairam a economia, o panorama, em 2013, parece vir a ser catastrófico, anunciando a falência final da economia. Porém, parece haver nisto, segundo o nosso INE, algo de virtuoso.
Com efeito, no final de 2012, graças ao menor consumo e menor importação de bens, por um lado, e graças ao crescimento das exportações, o défice da balança comercial (relação entre importações e exportações) foi anulado e até se transformou num superavit de 1472 milhões de euros.
Do mesmo modo, a consciência da crise, levou as famílias portuguesas a pouparem mais, estando a taxa de poupança, no final de 2012, no máximo de 11,2%, desde 1996, o que leva a supor que, ao fim de dez anos, haverá um novo ciclo económico garças ao dinheiro disponível para investimentos.
Estas duas notícias foram complementadas com uma outra, surpreendente: 2011 foi o ano em que os portugueses mais gastaram em cultura, numa média de 1000 euros ao ano por família. Vejo aqui sinais de mudança na cultura dos portugueses. Sinais promissores.
Oxalá o ciclo continue.
Bom ano para todos.
Bragança, 29/12/2012