As eleições no PSD provaram a vantagem do sufrágio directo e universal para a liderança dos partidos. Até o PCP lá chegará um dia. Primeiro foi o PS, depois o CDS/PP e agora o PSD. Debatem-se ideias e aparece-se na televisão, nas rádios e nos jormais. Dá jeito, quando a Sociedade Civil portuguesa parece de novo ensimesmar-se e desacreditar na política e nos políticos, preparando já a reciclagem destes.
Manuela inaugura um novo ciclo: a liderança feminina dos partidos, neste caso, através do PSD. O PS não conseguirá colocar tão cedo Elisa Ferreira à frente do Partido. Parece ser a única mulher-génio que aperece na liderança do PS. Deve haver muitas outras na sombra ou ainda não descobertas entre os militantes de base ou dos órgãos intermédios. Além disso, Elisa Ferreira tem dois pequenos defeitos: é muito frontal, não sabe mentir nem ser hipócrita e é do Norte, ainda por cima da parte do Norte que os lisboetas menos toleram: o Porto.
Mas regressemos ao PSD, que o fim de semana é deles, dos que se designam de sociais-democratas sendo liberais-democratas contra os que se designam de socialistas sendo democratas liberais.
O PSD escolheu o líder certo para o momento incerto. É uma líder que a grande maioria dos PSD`s não entende, não só porque não é festista nem demagoga mas também porque não se afirma como alternativa à política económica do actual Governo. Nesse sentido, só se a crise económica internacional se agravar muito é que Manuela pode ser alternativa a Sócrates. Não porque o seja de facto mas porque o Povo castigará então Sócrates pelos sacrifícios inúteis e pelo continuar da crise da economia, não percebendo que, afinal, em Portugal, é indiferente o Governo ser do PS ou do PSD porque quem comanda a economia portuguesa é a estrutura e a conjuntura das economias europeia e mundial.
O que é preocupante nestas eleições do PSD é que 29% dos votantes ainda tenham votado em Santana Lopes. Santana é a imagem de uma geração de políticos feitos na incubadora do «pós-25 de Abril», de um modo despesista, festista e pouco responsável de fazer política e de gerir o país. Assusta-me levantar sequer a hipótese de que 29% dos militantes do PSD ainda pensem como ele. Quanto a Passos Coelho, não o conheço o suficiente para estabelecr dele um juízo mas o facto de se ter retirado temporariamente da política e de ter estabelecido uma vida económica príopria é um sinal abonatório.
O PSD tem agora uma tarefa importante: credibilizar a política e os políticos, com uma linguagem alternativa sobre os factos e sobre os problemas e não uma crítica pela crítica, só para dizer que é Oposição. Será na medida em que Manuela souber realizar este projecto que o PSD se afirmará ou não como alternativa a Sócrates e ao PS.
Uma coisa é certa: o nosso défice não é 2,6% mas sim 5,26%. É que os fundos comunitários representam 2,66% da nossas receitas. No dia em que eles acabarem este número tem de ser acrescentado ao do défice de 2007, ou seja, 2,6%.
Este número confirma dados que não são tidos en conta nas análises das receitas e despesas do Estado. Diz-se que a despesa do Estado não deve ultrapassar os 40% do PIB. Neste momento, é de 45,8%. Estaríamos nos 40,2% se tivéssemos cobertura para os fundos comunitários e para o défice. Assim, em 2007, gastámos mais 7.890.000.000 de euros do que devíamos, ou seja, 5,26% do PIB.
É esta ainda a verdadeira face da nossa economia. Os políticos de ambos os partidos do chamado «centro» têm de se entender sobre isto para desenharem, a médio prazo, políticas sociais justas e sustentáveis.
Bragança, 01 de Julnho de 2008