Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Casino: 5º a teia de delinquentes

Como poderia relatar todos os passos que dera, sendo ela a culpada do caso? Tinha planeado tudo ao pormenor achando que não desconfiariam dela e agora via-se a braços com a PJ a perguntar-lhe tudo e mais um par de botas.

Inventou um monte de mentiras, que iam sendo apanhadas em cada nova contradição – o raciocínio não estava grande coisa – e a Polícia Judiciária estava cada vez mais perto de acreditar que tudo tinha sido montado por ela, só não sabiam ainda que o dinheiro angariado era para gastar nos jogos de roleta no casino de Chaves.

A Gabi era cada vez mais a principal suspeita do furto. Fez de tudo para que não desconfiassem da Júlia, era como uma segunda mãe para ela, pois ajudara a criá-la desde que nascera.

Os Polícias, antes de irem embora, quiseram saber onde estudava e qual a morada no tempo de estudante, apenas para confirmarem. Pediram também o nome das colegas de casa. Confirmava-se a ligação dela à casa de Vila Real. Confrontaram-na com a droga que encontraram no casaco dela. Disse que fora um amigo que lha dera numa festa.

Os pais não percebiam qual a razão de a Polícia insistir tanto com a filha, fechados no escritório. Aquilo fora caso de pelo menos dois ou três ladrões, estava bom de se ver. “Quem conseguiria furtar tantos objetos sozinho?” – questionavam-se.

Depois de os Polícias da Judiciária apertarem bem com a Gabi, despediram-se e foram embora, não sem antes deixarem o contacto para o caso de surgir alguma nova informação sobre o caso.

Sem saber que estava sinalizada em Vila Real e que estava ligada ao furto na casa dos pais, a Gabi resolveu sair. Foi seguida à distância pelos Polícias. Deixaram-na falar com o recetor das peças, Zé Carlos – um malandro bem conhecido da PJ por receber arte sacra furtada em Igrejas, que depois era vendida para o estrangeiro a colecionadores. Os Polícias nada fizeram, deixaram-na andar por todos os lados na esperança de que ela lhes desse pistas para montarem o “puzzle” – não sabiam ainda o mote par tão avultado furto.

Quando deixou o Zé Carlos, levava uma boa quantia referente ao pagamento das últimas peças que lhe entregara. Seguiu para o centro de Vila Real, depositou o dinheiro na sua conta bancária particular e foi encontrar-se com as amigas na Casa Lapão – adorava cristas de galo e covilhetes e esta era a melhor casa da cidade para saciar os apetites. Pagou a despesa dela e das amigas. Depois, rumou até casa para ir jantar com os pais. Tomou banho, aprumou-se como se fosse a um baile de gala, pegou no gato ao colo e confidenciou-lhe: “Acho que estou desgraçada, Tobias. Mais desgraça, menos desgraça, já nada tenho a perder.”. Os seus sentimentos eram frios. Não se importava com a dor que os pais sentiam, pelo sucedido no fim de semana.

Mas a PJ não desmobilizou. Tinha uma patrulha à espera de que ela saísse de casa. Seguiram-na até Chaves. Lá se apresentou no Casino com toda a pompa e circunstância. Levava dinheiro vivo e o cartão bancário bem fornecido. Os últimos objetos que furtou aos pais renderam-lhe 60.000 euros. Isto porque o Zé Carlos sabia que valiam quatro vezes mais. Só as pinturas do Nadir Afonso e da Graça Morais… A rapariga tinha olho para escolher as peças mais valiosas.

Entrou na sala VIP, onde só entram os grandes apostadores, e apostou forte e feio e os policias cá fora à espera dela. Apostava e perdia. Estava num desvario. Um dos polícias teve o ímpeto de a ir prender, não fora o colega impedi-lo. Não era a altura certa. Ela ainda havia de os levar ao fornecedor da droga. Era preciso apanhá-los e desmontar o esquema.

Nessa noite perdeu 20.000 euros. Desistiu e foi até ao bar.

Quem a esperava? O Bernardo.

Conversaram um pouco, assuntos triviais, e a dado momento saíram. Entraram no carro do Bernardo onde se procedeu à compra de droga, só que desta vez era coisa pouca, ela não estava em período escolar para poder vender aos colegas. Acertaram as contas e despediram-se.

Novas descobertas para a Polícia Judiciária: o casino e o traficante.

– Seria peixe miúdo, certamente. Talvez pudesse conduzi-los a voos mais altos? – interrogavam-se os Polícias.

(Continua…)

© Teresa do Amparo Ferreira, 30-03-2024
    𝙉𝙖𝙩𝙪𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚 𝙏𝙤𝙧𝙧𝙚 𝙙𝙚 𝘿𝙤𝙣𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙢𝙖,
    Mirandela, Bragança, Portugal.


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