Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Casino: 4º - O falso assalto

Precisava de dinheiro para alimentar os vícios e, não achando nada melhor, aos poucos, foi furtando joias, ouro, talheres do faqueiro de prata, sem que a mãe desse conta de nada. Ia a Vila Real vender as peças, para não ser apanhada na área de residência.

Depauperado o stock de bens pequenos, chegou a vez de furtar peças de maior vulto.

Os pais foram a um congresso, no fim de semana. Aproveitou o momento para dar a facada final: levou um quadro verdadeiro pintado pela Graça Morais, que estava na sala de estar; uma escrivaninha de prata, que o pai tinha com muito garbo no escritório e vinha do seu bisavô; e um quadro pintado pelo Nadir Afonso, que estava na sala de jantar.

Para não ser acusada, armou um circo em casa fingindo um assalto. Mandou a empregada às compras, a um supermercado bem longe para ter tempo de preparar tudo; e disse-lhe que ela também ia sair. Meteu o carro na garagem e escondeu lá as peças para os vizinhos não darem conta de nada. Depois, criou uma desarrumação em casa, abriu uma janela do rés-do-chão, partiu o vidro do lado de fora para dentro, para fingir que fora por ali que entraram os ladrões, e voou até Vila Real para entregar as peças ao recetor.

Que belo alibi arranjou: a empregada, por quem tinha muita estima, tinha ido às compras; ela fora dar um passeio de carro até Vila Real, para lanchar com as amigas da Faculdade; os pais estavam fora num congresso; e o gato dormindo no primeiro andar.

A empregada, quando chegou a casa, ficou em pânico. Ligou de imediato aos patrões. Como estes não atenderam, ligou à sua Gabi. Também ela não atendeu. Foi então que se lembrou de ligar para a Polícia.

Como o caso envolvia grandes valores, a PSP chamou a Polícia Judiciária de Vila Real.

Fizeram uma grande investigação à moradia e encontraram uma pequena quantidade de droga dentro do bolso de um casaco da Gabi. A empregada disse que o casaco era da sua querida menina, que a criara como filha, que tinha saído com as amigas, mas que era muito boa menina e estudava na Faculdade em Vila Real.

Foram pedindo dados e mais dados, à empregada, até que uma foto recente da Gabi, que estava no escritório, fez avivar a memória a um dos inspetores. De imediato relacionou-a com a casa de Vila Real que estava sinalizada por causa das festas, de certos clientes que lá entravam e que estavam identificados como consumidores de droga. Era preciso montar uma cilada para apanhar a Gabi em flagrante, mas a moça tinha olho para escolher quem entrava em casa, e as festas não tinham dia e hora certa, era algo feito em cima do momento.

O inspetor Santos Cabral perguntou quando é que ela viria, que queria falar com ela, mas a Júlia nada sabia do paradeiro da sua menina, dando sempre a mesma resposta “Saíra com as amigas.”.

Depois de estar numa esplanada com as amigas em Vila Real, para ser vista e ter provas de que lá estivera, foi direta para o casino de Chaves. Fez contas com o seu fornecedor de droga, Bernardo, e foi jogar algum dinheiro no casino. Estava eufórica. Abusara do álcool e da droga. Teve de ser expulsa por comportamento perturbador.

Meteu-se no automóvel e não foi capaz de conduzir. Adormeceu dentro do carro.

De manhã, acordou com uma ressaca danada e rumou até casa.

Preocupadíssima com ela, Júlia andava num desatino pela casa fora. Mal a Gabi entrou porta adentro, bombardeou-a com perguntas. A única resposta que obteve foi de que fora a Vila Real ter com as amigas, mas isso sabia-o ela.

A Júlia foi contando o sucedido, que tinham assaltado a casa e não havia ninguém da família a quem recorrer. Disse que os pais vinham a caminho, finalmente conseguira falar com eles… e a Gabi, que mais parecia uma morta-viva sem a mínima reação, foi deitar-se.

Por volta da hora de almoço, chegaram os pais: Laurinda e João Manuel. Vinham em grande sobressalto.

Perguntaram pela Gabi à Júlia, tendo ela dito que a menina estava deitada no quarto. Informou-os de que, segunda-feira, viria alguém da Polícia falar com eles e que fizessem o favor de fazer um inventário dos bens furtados, juntassem fotografias e faturas de compra, tudo quanto pudesse provar que esses bens eram deles.

Quando deram a volta à casa toda, perceberam o muito que tinha sido furtado, uma imensidão de objetos, mas o pior eram as peças de família pelas quais tinham grande estima.

Segunda-feira, apareceram dois Inspetores da Polícia Judiciária para fazerem o interrogatório à família e levarem o inventário e outros documentos comprovativos dos bens furtados. A Gabi não teve como escapar aos Inspetores. Havia suspeitas que recaíam sobre ela, uma vez que andavam a seguir-lhe os movimentos em Vila Real.

Pediram-lhe que contasse todos os passos que dera no sábado e que apresentasse testemunhas.

Aqui é que foram elas!

Tinha as amigas de Vila Real, mas o que poderia dizer de Chaves?!

(Continua…)

© Teresa do Amparo Ferreira, 26-03-2024
    𝙉𝙖𝙩𝙪𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚 𝙏𝙤𝙧𝙧𝙚 𝙙𝙚 𝘿𝙤𝙣𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙢𝙖,
    Mirandela, Bragança, Portugal.


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