Teresa A. Ferreira

Teresa A. Ferreira

Alguns carnavais transmontanos

Parada
A cacada – tradição dos raparigos (crianças). À hora de jantar, a criançada com panelas de barro rachadas e velhas, contendo bugalhos ou pequenas pedras dentro, entravam na casa das pessoas e atiravam-na para o chão, onde houvesse soalho de madeira. Os donos das casas, fingindo-se assustados, davam-lhes rebuçados, bolachas e figos secos. Esta tradição coexiste em mais localidades.

As matrafonas – tradição transversal a Trás-os-Montes, em que as pessoas travestidas polvilhavam os transeuntes com farinha ou cinza da lareira.

A burricada – uma velha colocava cangalhas em todos os burros e metia os raparigos no lugar dos cântaros nas cangalhas e seguiam batendo os testos das panelas, correndo a aldeia.

Salsas
Na semana anterior ao Carnaval, todas as noites, os jovens davam a volta à aldeia a tocar latos velhos de forma ritmada.

Segunda-feira à noite lançavam-se os casamentos, em que casavam novos com velhos e era atribuído um dote a cada um, sendo que na terça-feira os noivos tomavam o peque-almoço juntos.

Na terça-feira de Carnaval, fazem o casamento de Entrudo em que um homem vestido de mulher e uma mulher vestida de homem eram casados. Enfeitavam uma carroça de burro e desfilavam os noivos pela aldeia, culminando com a queima do Entrudo – um boneco de palha. À noite havia o baile de Carnaval.

São Pedro Velho
Casamentos de Entrudo – Dois grupos de pessoas subiam aos pontos mais altos da aldeia e, com os embudes, desafiavam-se. O intuito era casar a raparia mais rica com o rapaz mais pobre e desmazelado, e o rapaz mais rico com a rapariga mais pobre. Depois lançavam-lhe um dote que não era mais do que uma sátira social.

"Palhas alhas leva-as o vento
Aqui se vai ordenar um casamento..."

Trás-os-Montes
A saída dos mascarados começa no solstício de inverno e termina no Carnaval com o Entrudo Chocalheiro dos Caretos de Podence, Património da UNESCO. Se pensarmos bem, todas as terras têm as suas particularidades, mas Podence conseguiu o reconhecimento dos seus Caretos como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

Graças à tempestade Karlotta, este ano, Bragança não caiu no ridículo de voltar a transformar o Carnaval num ritual esotérico e satânico, com o intuito de fazer crer ao público que aquilo é a verdadeira tradição carnavalesca da cidade. Bem sabemos que a cidade está pejada de símbolos maçónicos e lojas, sendo considerada a capital portuguesa da maçonaria, mas "nem tanto, Senhora Maria"! Não se confunda Carnaval com esoterismo. Preserve-se a tradição.

© Teresa do Amparo Ferreira, 13-02-2024
   𝙉𝙖𝙩𝙪𝙧𝙖𝙡 𝙙𝙚 𝙏𝙤𝙧𝙧𝙚 𝙙𝙚 𝘿𝙤𝙣𝙖 𝘾𝙝𝙖𝙢𝙖,
   Mirandela, Bragança, Portugal.


Fotos: Facebook Caretos de Podence




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