Trabalhadores transfronteiriços de Montalegre, no distrito de Vila Real, pedem uma passagem controlada para Espanha naquele concelho para evitar fazerem cerca de 200 quilómetros através do acesso autorizado em Chaves, após novo encerramento de fronteiras.

“É um transtorno muito grande. Em dez minutos fazia o caminho entre Montalegre e Baltar [na Galiza, em Espanha] e agora tenho de fazer 200 quilómetros de ida e volta por Chaves”, contou à agência Lusa Michael Baltelhas, que trabalha num talho naquela localidade espanhola.

Natural e a viver em Montalegre, Baltelhas é um dos cerca de 50 trabalhadores transfronteiriços que, segundo divulgou a Câmara, todos os dias cruzam a fronteira para trabalhar em Espanha.

Com a reposição do fecho das fronteiras decretado pelo Governo e em vigor desde domingo, estes trabalhadores têm de chegar a Espanha através do ponto de passagem autorizado mais próximo do concelho de Montalegre, em Vila Verde da Raia, no concelho de Chaves, também no distrito de Vila Real.

Michael Baltelhas salientou que em vez de sair de casa às 08:30, como habitualmente, agora é obrigado a sair às 06:00.

“Não tenho outro remédio, pois as contas para pagar continuam a chegar mesmo que não vá trabalhar”, atirou.

Já Bárbara Rodrigues, de Vilar de Perdizes, a cerca de 15 quilómetros de Montalegre, foi forçada a adotar a mesma solução encontrada durante o primeiro encerramento de fronteiras, e alugou novamente um quarto na localidade de Cualedro, perto de Baltar, onde trabalho num bar.

“Eu passo para Espanha na fronteira Vilar de Perdizes/Gironda e se pudesse passar por Montalegre seria menor o transtorno, mas ter que ir a Chaves é incomportável”, frisou.

O presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, espera desde sexta-feira uma resposta por parte do Ministério da Administração Interna (MAI) ao pedido para aquele concelho ter dois pontos de passagem autorizados para Espanha: Montalegre/Baltar e Tourém/Calvos de Randim.

“Estamos muito desagradados pois é uma injustiça abrirem vários pontos de passagem no país e desconsiderar este concelho”, realçou à Lusa.

Orlando Alves lembrou ainda que em março, durante o primeiro confinamento, o concelho passou a ter pontos de passagem “após reclamação”, mas desta vez isso não aconteceu apesar do pedido feito antecipadamente junto do MAI.

Fonte da GNR de Vila Real sublinhou à Lusa que aquela força de segurança está a cumprir “aquilo que foi definido pela tutela” e a fazer obedecer desde domingo o encerramento da fronteira com os meios que tem à disposição.

“As exceções terão que ser vinculadas pela tutela. Em março houve uma exceção que foi tratada pelo Governo e que cumprimos”, acrescentou a mesma fonte, salientando que até hoje ainda não se registou qualquer incidente naquele concelho.

A Lusa procurou uma reação junto do MAI, mas até ao momento não obteve resposta.

No sábado, a Câmara de Montalegre tinha exigido, em comunicado, a passagem controlada em dois pontos de fronteira com Espanha daquele concelho.

“Esta tomada de decisão é justificada tendo em conta que há cerca de meia centena de barrosões com vínculo laboral a empresas galegas, o que irá provocar prejuízos avultados dado que serão obrigados a percorrer diariamente cerca de 200 quilómetros (ida e volta) com os naturais prejuízos financeiros e de saúde daí decorrentes”, salientava.

A autarquia do Montalegre, que faz fronteira com a Galiza, em Espanha, exigia no comunicado “o mesmo tratamento existente na maioria das fronteiras” e realçava não ser concebível que aquele concelho, com uma área de 800 quilómetros quadrados, não tenha “pelo menos uma passagem controlada pelas forças de segurança”.

Em comunicado, o Governo especificou que há oito pontos de passagem permanentes (24 horas por dia), cinco pontos de passagem autorizados nos dias úteis das 07:00 às 09:00 e das 18:00 às 20:00, e um ponto de passagem autorizado (Rio de Onor) às quartas-feiras e aos sábados das 10:00 às 12:00.

Os oitos pontos permanentes são em Valença, Vila Verde da Raia, Quintanilha, Vilar Formoso, Marvão, Caia, Vila Verde e Castro Marim.

Os cinco pontos de passagem nos dias úteis são Monção, Miranda do Douro, Termas de Monfortinho, Mourão e Barrancos.

DYMC // JAP Lusa



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