Várias organizações do setor reclamaram hoje apoios diferenciados para o olival tradicional de Trás-os-Montes, responsável pela excelência do azeite português reconhecido e distinguido a nível internacional.

Os problemas do setor foram levados hoje à Comissão Parlamentar de Agricultura, na Assembleia da República, por iniciativa do PCP, para pedir ajuda face à falta de capacidade competitiva em relação ao olival intensivo e superintensivo.

Os custos de produção são maiores no olival tradicional e as ajudas são as mesmas, uma situação que as organizações querem ver alterada no quadro da nova Política Agrícola Comum (PAC), nomeadamente com políticas de apoios diferenciadas.

Para Lucinda Costa Pinto, da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), este é um dos setores que mais precisa de apoio e é isso que a organização irá defender junto do Governo nesta fase de discussão da PAC pós 2020.

“O olival tradicional precisa do preço justo à produção, apoio pelos bens públicos que estes olivais fornecem e apoio à produção”, vincou a representante da CNA.

Lucinda Costa Pinto destacou que este setor “sofre de dois grandes problemas: os custos de produção e o preço do azeite no mercado”, que é o dobro do azeite produzido em olival intensivo ou superintensivo.

O olival tradicional representa 15% da produção nacional de azeite e estende-se por 200 mil hectares, a maior parte concentrada na região de Trás-os-Montes, e caracteriza-se por ser uma cultura de sequeiro, com oliveiras antigas em terreno onde é impossível a mecanização.

A falta de rentabilidade, alegam as organizações, pode levar ao abandono que terá consequências “imprevisíveis”, quer ao nível da paisagem, do risco de incêndios florestais ou da economia rural, já que o azeite é um dos principais produtos económicos.

Os custos da apanha correspondem a 50% da produção e a ajuda que estes olivais têm é de 120 euros por hectare.

O olival tradicional precisa de políticas de apoio que podem passar pelas medidas agroambientais, como defendeu Aníbal Martins, da Confagri e Fenazeites, salientando que estas medidas “têm que ser altamente diferenciadas em relação aos olivais intensivos e superintensivos”.

O dirigente concretizou que enquanto o olival intensivo produz 10 toneladas de azeite no mínimo e em média por hectare, o tradicional produz entre uma a duas toneladas, dez vezes menos.

Os custos são maiores, acrescidos de outros fatores como as duas tempestades que este ano deitaram “metade da azeitona ao chão”, segundo Hélder Teixeira, da Cooperativa de Vila Flor e Ansiães.

Os produtores ganharam mais um custo de produção desde que as extratoras de bagaço deixaram de pagar o transporte deste subproduto e, tudo somado, este ano esta cooperativa transmontana regista “uma diminuição das receitas de 40% e um acréscimo de 7 a 8% nos custos com o transporte de bagaço”.

A pandemia de covid-19 veio também dificultar a venda do azeite, com a paragem das exportações durante o fecho das fronteiras e a falta de consumidores impedidos de se movimentarem no confinamento.

Aos problemas que antecipam para os próximos anos juntam-se outros antigos, como o alto preço da energia elétrica e a falta de mão-de-obra.

Os representantes dos grupos parlamentares na Comissão de Agricultura ouviram o setor e o deputado João Dias, do PCP, registou que os problemas descritos vão ao encontro daquilo que são as preocupações que o partido tem levantado.

Já a deputada do PS Joana Bento sugeriu que a estratégia poderá passar por ir ao encontro do perfil do consumidor e chegar a outro tipo de cliente que valorize a qualidade ao invés do baixo preço.

O deputado do PSD João Moura lembrou que Portugal é o nono país em área de olival e o oitavo maior produtor do mundo de azeite, “não apenas com o olival tradicional, mas também com o intensivo e superintensivo”, pelo que defendeu que nenhum dos setores deve ser prejudicado em relação ao outro.

A diferenciação entre os dois setores foi realçada pela deputada Maria Manuel Rola, do Bloco de Esquerda, que destacou os benefícios ambientais do olival tradicional, entre outras características como a maior resistência às pragas, “mas não consegue ter resiliência económica, pois não pode ter fatores de intensificação”.

Foto: DR



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