Faltam poucos minutos para as dezassete e vinte. Na sala de embarque do pequeno aeródromo de Vila Real, acabam de chegar os últimos passageiros para o voo da tarde com destino a Lisboa.

Dão-se as boas tardes, mostra-se o bilhete, pousa-se a pequena mala ou saco de mão, trocam-se meia dúzia de palavras com os outros passageiros e escassos minutos depois entra-se no avião. Se tudo correr bem, 45 minutos depois Lisboa já deixou de ser longe.

Este ritual já se repete há mais de um ano em Vila Real e em Bragança. Até então, nunca nas duas cidades transmontanas se tinha colocado a questão dos perigos que se correm ao voar num avião onde os passageiros não são sujeitos a nenhum tipo de fiscalização.

Os atentados de 11 de Setembro, nos Estados Unidos, vieram levantar a questão da segurança nos grandes aeroportos, mas também nos pequenos aeródromos que fazem apenas viagens regionais.

Para Armando Ferreira, director do Aeródromo de Vila Real, "não há qualquer motivo de preocupação". No entanto, diz que o dia-a-dia no aeródromo mudou ligeiramente depois dos atentados. "Tivemos dois policias na entrada durante alguns dias", justifica.

Em Bragança aconteceu o mesmo, mas Abílio Pires, auxiliar de aeronáutica do aeródromo brigantino, questiona-se: "para quê os dois policias se não fiscalizavam ninguém?! Estiveram apenas na porta! Se quisessem entrar com objectos perigosos, entravam".

A presença dos agentes da Polícia de Segurança Publica foi solicitada pelo Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC), que decretou o alerta 3 em todos os aeroportos e aeródromos nacionais. Para além disso, os responsáveis pelos dois aeródromos transmontanos tiveram que enviar diariamente, durante dez dias, um fax, dirigido ao INAC, a dar conhecimento de como tinha corrido o dia. Em ambos os casos, não houve nenhuma anomalia a registar.

O facto de os sacos não serem revistados e de não haver fiscalização aos passageiros, beneficia, em termos de rapidez de embarque, a vida a quem viaja.

Nazaré Pereira, deputado social democrata na Assembleia da República, eleito por Vila Real, é uma das pessoas que faz a ponte aérea entre a capital transmontana e a capital portuguesa várias vezes por semana. Para o deputado, "assim é muito mais rápido e fácil. Basta chegar ao aeródromo cinco minutos antes da hora de voar".

O deputado diz que continua a sentir-se sem medo, mesmo que a garantia de segurança seja baseada em aspectos pouco concretos. "As pessoas que vão no avião geralmente são conhecidas. Além disso, os transmontanos têm a fama de receber bem... ser desconfiado era ir contra essa maneira de ser".

No entanto, Nazaré Pereira diz que compreende que as medidas de segurança no aeródromo sejam mais apertadas, até porque o mesmo voo, com as mesmas pessoas, mas partindo de Lisboa, obedece a regras totalmente diferentes. "Infelizmente temos que nos apresentar no aeroporto uma hora antes..."

Também Armando Ferreira confia nos passageiros e garante que "se vê pela cara", se existe perigo potencial ou não.

"Se aparecer um embrulho suspeito ou alguém muito "estranho", é claro que temos mais atenção, mas não acredito que tal possa acontecer. Além disso, temos uma lista fornecida pelo INAC com o nome de pessoas suspeitas e o número de bilhete de identidade. Geralmente, quem viaja nos nossos aviões são quase sempre as mesmas pessoas: políticos e comerciantes da região. Por isso, não há qualquer problema", garante.

Enquanto assim for, viajar de avião desde Bragança ou Vila Real até Lisboa, passa apenas por comprar um simples bilhete.



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