O projeto “Palavras Cruzadas” vai promover, entre maio e dezembro, espetáculos de música, teatro e dança em palcos improvisados em museus, monumentos ou jardins dos concelhos de Vila Real, Sabrosa e Bragança, foi hoje anunciado.

O projeto de programação em rede, hoje apresentado no jardim da Carreira, em Vila Real, foi desenvolvido em parceria pelos três municípios transmontanos e a Fundação da Casa de Mateus.

Envolve os teatros municipais de Vila Real e Bragança e o Espaço Miguel Torga (Sabrosa).

Eugénia Almeida, vereadora do pelouro da Cultura da Câmara de Vila Real, destacou o “trabalho em rede” resultante do projeto e a “valorização do património”.

“Vamos aos locais que têm, precisamente, simbolismo patrimonial, sejam eles jardins ou igrejas ou até o próprio palácio de Mateus. É uma candidatura multidisciplinar que abrange várias formas de arte”, salientou a autarca.

“Palavras Cruzadas” vai desdobrar-se entre os meses de maio e dezembro e cruza “a poesia e a palavra literária com outras disciplinas artísticas - a música, o teatro e a dança - numa digressão por locais, autores e temas do património material e imaterial da região e do mundo”.

Os espetáculos propostos incluem criações originais e adaptações em modo ‘site specific’ de espetáculos preexistentes, ou seja, adaptadas aos locais e ambientes em que vão ser representados.

Está prevista a realização de sete espetáculos originais e 17 adaptações, num total de 37 representações em 17 locais.

A sua apresentação será feita em itinerância pelos três concelhos envolvidos, decorrendo sobretudo em espaços exteriores associados a museus, monumentos, edifícios de interesse histórico, jardins ou adros de igrejas, numa “espécie de diálogo cosmopolita entre património e criação contemporânea”.

A programação inclui “textos originais e ecos de autores” como Camilo Castelo Branco, Miguel Torga, Aires Torres, A. M. Pires Cabral, António Cabral, Rui Pires Cabral ou Alvaro García de Zúñiga.

Envolve também criações de artistas e estruturas como a Lisbon Poetry Orchestra (com a participação de orquestras locais), André Gago com o Oniros Ensemble, Ana Deus e Alexandre Soares, Jorge Louraço (com Nuno Trocado e Catarina Lacerda), João Garcia Miguel (com Sara Ribeiro), Rui Spranger e Mariana Amorim (Esquiva Companhia de Dança), Adolfo Luxúria Canibal, Rui Oliveira, Sofia Saldanha, Ismael Calliano e as companhias Dançando com a Diferença e blablaLab, em coprodução com o Teatro da Rainha.

As comunidades locais serão protagonistas em alguns espetáculos, através de pesquisas e residências artísticas, mas também através do envolvimento direto em criações como “O Baile”, de Aldara Bizarro, e numa nova digressão do espetáculo em espaço público “Banda à Varanda”.

Segundo a organização, “Palavras Cruzadas” junta municípios e agentes culturais da região num “trabalho em rede que contribui para a sua afirmação como lugar de criatividade e relação com as artes”.

Em Vila Real, a programação cultural do teatro muda-se, por norma, para o espaço exterior durante o período de verão.

Este ano, esse período será também aproveitado para a realização de obras de manutenção daquele edifício, num investimento de cerca de 300 mil euros. O teatro municipal foi inaugurado em 2004.

 

PALAVRAS CRUZADAS - Um projecto de programação em rede desenvolvido em parceria pelos Municípios de Vila Real, Sabrosa e Bragança e a Fundação da Casa de Mateus. 

RESUMO DOS ESPECTÁCULOS

A) CRIAÇÕES ARTÍSTICAS ORIGINAIS

 

1) Torga: uma viagem pela obra poética de Miguel Torga conduzida pela Lisbon Poetry Orchestra, formação constituída por diseurs e músicos que cruza a poesia com música original interpretada ao vivo. A apresentação do espectáculo envolverá ainda uma orquestra local (de conservatório regional ou outra).

2) Umbral: Cotovelo é uma estrutura que integra um ensemble de jazz, uma actriz e um dramaturgo. No guião original a desenvolver para este projecto que cruza spoken word e jazz, serão recolhidas histórias de pessoas locais e a paisagem sonora e será feita uma pesquisa à volta das estações e linhas ferroviárias desactivadas.

3) Camilo: Sara Ribeiro é uma actriz que mantém um projecto musical em paralelo, La Negra, que respira teatro e poesia. João Garcia Miguel é um dos mais importantes encenadores portugueses contemporâneos. Juntos, estes dois artistas vão abordar a obra do escritor Camilo Castelo Branco num espectáculo que cruza palavra, música e teatro.

4) Marandicui: André Gago é um dos maiores actores portugueses, mas é também encenador e escritor. Foi convidado a escrever para este projecto um roteiro impressivo, literário e patrimonial, de Bragança a Vila Real, passando por Sabrosa e Mateus, que apresentará ao vivo em diálogo com a música do Oniros Ensemble, a primeira formação de música erudita contemporânea de Trás-os-Montes.

5) Inquietação com as voltas do mundo: A Esquiva, companhia de dança, sob direcção de Mariana Amorim, trabalha a partir da obra poética e os valores humanistas de Aires Torres, num espectáculo que opera um cruzamento entre dança, música, poesia e artes plásticas

6) Poetas de Trás-os-Montes: Ana Deus e Alexandre Soares fazem parte da matriz musical do país. A partir de uma residência artística na região e da leitura da obra poética de um conjunto de autores transmontano-durienses, clássicos e contemporâneos, criarão um repertório pessoal de canções originais.

7) Cabral: Se falarmos em literatura transmontana, são vários os nomes que nos vêm imediatamente à cabeça, mas há um apelido que nos surge várias vezes: Cabral — António, A.M. Pires e Rui. Rui Spranger propõe-se investigar e criar uma dramaturgia cénica que atravesse a vida e a obra destes três autores.

8) Documentário Sonoro: Sofia Saldanha, realizadora áudio, e membro do Sindicato de Poesia, uma Associação Cultural que desde Outubro de 1996 trabalha o acto performativo de dizer poesia. A artista trabalhará sobre Miguel Torga.

 

B) ADAPTAÇÃO SITE SPECIFIC DE ESPECTÁCULOS

1) Bichos: Uma produção da companhia Dançando com a Diferença com uma coreografia de Rui Lopes Graça baseada obra literária de Miguel Torga.

2) O Baile, de Aldara Bizarro, com Artur Fernandes (Danças Ocultas) e a participação da Banda de Música de Mateus. Um espectáculo de dança que envolve a comunidade. Uma experiência inspirada no filme homónimo de Ettore Scola e nos antigos bailes de aldeia e de bairro, habitualmente organizados por colectividades, que tinham música ao vivo e que, na sua maior parte, eram o acontecimento mais importante para o grupo que participava e que o organizava. Vamos tomar como matéria as memórias das pessoas concretas que habitam a Casa de Mateus e a comunidade envolvente e recriar, com corpos dançando em conjunto, a história deste território e das pessoas concretas que o tornam vivo.

3) Banda à Varanda parte do universo das bandas filarmónicas mas almeja novas sonoridades. As bandas representam tradição e identidade mas, a partir delas, podemos alinhavar novos sons e novas visões. A música é contemporânea e da autoria de dois jovens compositores locais, Ângela da Ponte e Fábio Videira. O projecto Banda à Varanda propõe incluir na performance uma banda filarmónica local, a partir de um workshop de uma semana.

4) Histórias, Poemas e Canções: A La Lys War Songs (cujo nome evoca uma batalha trágica também para a região de Trás-os-Montes) encetou uma longa pesquisa revisitando alguns acontecimentos históricos do século XX, bem como poesia e música de teor pacifista ou reflexivo sobre as desgraças de algumas das principais guerras do último século do milénio passado. Dito em português, cantado em 7 línguas e com poesia de outros tantos países.

5) As Palavras: Concerto Rui Oliveira para voz guitarra e loop station. Rui Oliveira interpreta autores consagrados da língua portuguesa, como Eugénio de Andrade, Miguel Torga, Ary dos Santos, Vinicius Morais,  Natália Correia ou José Afonso, e cria paisagens sonoras onde respiram os poemas e as canções.

6) O Teatro é Puro Cinema, de Alvaro Garcia de Zúñiga. «O teatro abre os parênteses: os actores-reactores imaginam todo um filme. Criam uma janela que é a de um avião, porque o teatro voa. Com ele o tempo voa e faz-nos voar. Alto. Ao mesmo tempo, dentro de um avião, os passageiros assistem a um filme catástrofe e inventam logo a seguir outro. E o avião cai sobre o teatro em plena representação. Morre toda a gente. Na autópsia abre-se um crânio como quem abre uma caixa de Pandora e fecha-se o parêntese.» (Alvaro García de Zúñiga, Abril, 1999). Estreado no TNDM II em Abril de 1999 com João Cabral, Fernán García de Zúñiga e Sérgio Praia sobre cena e Ana Zanatti, Fernando Lopes, Fernando Mascarenhas, Maria João Seixas e Miguel Azguime na tela. Reposição em Janeiro de 2021, em co-produção entre o Teatro da Rainha e blablaLab, com dramaturgia e encenação de Teresa Albuquerque, interpretação de Fábio Costa, Fernando Mora Ramos e José Luís Ferreira, com intervenções televisivas de Maria João Seixas e António Feijó, a participação em filme de Fernando Vendrell e uma poltrona para ver televisão da autoria de Enrico Gaido, com a colaboração de Henrique Manuel Bento Fialho.

7) Manuelizando o Croupier, a partir de “A Canção do Croupier do Mississipi”, de Leopoldo María Panero. “Manuelizando al Croupier” é uma leitura polifónica, multilíngue e orquestrada à boa maneira “Manuel sur scène”, inventada por Alvaro García de Zúñiga, para os seus próprios textos. Desta vez a obra em cena é “A Canção do Croupier de Mississipi”, de Leopoldo María Panero (1948-2014) lida por um elenco de 5 a 7 leitores de cada vez, nas versões original, em castelhano, e portuguesa. Os intérpretes serão escolhidos na Região, considerando o bilinguismo da proposta e o cruzamento de artistas e não artistas. A leitura estreou em 2019 na programação do Instituto Cervantes de Lisboa para a Noite da Literatura Europeia e na programação das Festas de Lisboa de 2019 no Centro Galego de Lisboa (R. Júlio de Andrade 3, 1150-206 Lisboa). A leitura tem uma duração de 15 min. Apresenta-se em quatro sessões sequenciais, para públicos diferentes, numa sessão com a duração total de 1h45.

8) Adolfo Lúxuria Canibal / Marta Abreu: Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta) criou espectáculos de spoken word, em nome próprio ou como Estilhaços. Neste novo projecto, junta-se a Marta Abreu, ex-baixista das Voddoo Dolls, que é responsável pela electrónica sobre as quais Adolfo declama poemas da sua autoria de autores dos quais é fã.

9) Palavras do Cacimbo: Ismael Calliano (Maputo, 1991) vive em Portugal desde os oito anos. Actor e diseur, é um dos escritores e poetas do grupo que emerge da cave do Pinguim Café. O espectáculo que agora apresenta, Palavras do Cacimbo, é uma viagem poética pelos diversos países da CPLP, fundindo as diversas tradições de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné, Moçambique, Portugal e São Tomé. André Martins assina o acompanhamento musical. 

 



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